TEXTO:
O FIM DO EMPREGO
O futuro do trabalho no mundo globalizado
Fui demitido. Perdi o emprego em que estava
trabalhando há seis anos. Especialista numa área em
que poucos profissionais possuem conhecimento e
preparo para atuar, definitivamente não esperava que
[5] isso viesse a acontecer. Nem meus colegas de
trabalho entenderam os motivos que levaram a
instituição a tomar essa providência.
Por incrível que pareça, fiquei menos abalado
do que todos os demais. Não que eu estivesse
[10] esperando, pois já estávamos fazendo planos com o
departamento em que atuava para novas aulas e
cursos no ano que iria começar... Mas, como sabemos
o quanto o mundo é competitivo, e como a
globalização tem redirecionado as energias e exigido
[15] custos mínimos e máxima produtividade, penso até
que isso demorou a acontecer. Já havia ocorrido
idêntica situação com outros profissionais de
qualidade que, engajados em projetos da instituição,
da noite para o dia foram simplesmente “desligados”
[20] de suas funções, demitidos sumariamente...
Não que isso seja uma particularidade dessa
instituição onde estive trabalhando ao longo dos
últimos anos. Tampouco é possível encarar os
acontecimentos como derivados de alguma
[25] perseguição ou diferença pessoal. Tudo ocorre da
forma mais impessoal possível. A despeito de todo o
trabalho feito, do reconhecimento do público-alvo,
o que é avaliado não é sua capacidade profissional, e
sim o quanto você custa para a empresa. Num
[30] mercado altamente competitivo, no qual os custos com
publicidade são cada vez mais exorbitantes, em que
é necessário dispor de infraestrutura e recursos
materiais de ponta, a mão de obra qualificada e de
alto custo deixou de ser um diferencial no qual seja
[35] prioritário investir.
O fim do emprego, como era concebido nos
últimos 50 ou 60 anos, é uma realidade. Poucos serão
os que ficarão por mais de 5 ou 8 anos numa mesma
empresa. Carreiras duradouras, em que o sujeito
[40] trabalhava ao longo de toda sua existência num
mesmo emprego, serão raríssimas. A rotatividade
profissional do trabalhador, até recentemente vista
como um sinal de imaturidade ou falta de seriedade,
passou a ser encarada como acúmulo de experiências
[45] e de diversidade de habilidades e possibilidades
funcionais.
De acordo com o consultor Ricardo Neves, em
seu livro O Novo Mundo Digital, adentramos um
mundo em que o emprego, aquele vínculo entre
[50] empresa e empregado, que dá ao funcionário uma
forte sensação de estabilidade associada a fatores,
como os benefícios trabalhistas e, principalmente, o
salário mensal, está dando lugar ao conceito de
trabalho. E o que seria então trabalho? Seria, no caso,
[55] a vinculação a projetos e planos, ações e realizações
de prazo variável (curto, médio ou longo), para os
quais os profissionais seriam contratados como
“terceiros”, enquanto durassem essas empreitadas.
E as garantias trabalhistas? São suprimidas, pois
[60] representam custos altos que as empresas precisam
cortar. E os salários? São substituídos por honorários
pagos aos profissionais que atuam como empresas,
ou seja, que são identificados como pessoas jurídicas.
O que se estabelece, a partir de agora, passa a ser o
[65] vínculo profissional free-lance, bastante conhecido
dos profissionais que atuam na imprensa.
Também é uma prerrogativa dos novos tempos
que a tecnologia esteja cada vez mais incorporada
ao cotidiano e que, em alguns casos, como já ocorreu
[70] em vários segmentos profissionais, máquinas, como
computadores, robôs e sistemas sofisticados
substituam trabalhadores.
Outra situação bastante comum, em vigor nos
Estados Unidos e em outros países, é a transferência
[75] dos setores de produção mais pesada para onde a
mão de obra e os custos governamentais sejam
menores. Exemplos de onde isso já está efetivado são
a Índia e a China, que absorveram grande parte dos
investimentos deslocados do primeiro mundo em
[80] busca de custos mais baixos.
É por isso que, mesmo tendo perdido o
emprego, não acreditei, em momento algum, que
fosse vítima de alguma perseguição da instituição.
Entendi que os custos que significava para a empresa
[85] eram um pouco mais altos do que a média local e
que, em virtude disso, fui mais uma vítima da
competição globalizada...
O que fazer? Se preparar para o futuro – que
não será tenebroso e sim diferente – estudando, se
[90] preparando, buscando novos espaços, virando a
página e dando a volta por cima...
Adaptado de: MACHADO, João Luís de Almeida. O fim do emprego.
O futuro do trabalho no mundo globalizado. Disponível em: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=1069.Passim. Acesso em: 24 nov. 2017.
O “fim do emprego” (l. 36) é uma referência à