TEXTO
As mulheres são vítimas de violência porque são mulheres
Wânia Pasinato
Nos últimos anos, a violência contra as
mulheres no Brasil vem se tornando assunto público e
reconhecido como problema ao qual qualquer mulher,
independentemente de raça, cor, etnia, idade ou classe
[05] social pode estar sujeita. Trata-se de reconhecer que a
violência não é um infortúnio pessoal, mas tem origem
na constituição desigual dos lugares de homens e
mulheres nas sociedades – a desigualdade de gênero -,
que tem implicações não apenas nos papéis sociais do
[10]masculino e feminino e nos comportamentos sexuais,
mas também em uma relação de poder. Em outras
palavras, significa dizer que a desigualdade é estrutural.
Ou seja, social, histórica e culturalmente a sociedade
designa às mulheres um lugar de submissão e menor
[15] poder em relação aos homens. Qualquer outro fator – o
desemprego, o alcoolismo, o ciúme, o comportamento
da mulher, seu jeito de vestir ou exercer sua
sexualidade – não são causas, mas justificativas
socialmente aceitas para que as mulheres continuem a
[20] sofrer violência.
(...) Em anos recentes, esse reconhecimento foi
acompanhado por mudanças na forma como devemos
responder a essa violência, atacando não as
justificativas, mas as causas. O país tornou-se
[25] referência internacional com a Lei 11.340/2006 – a Lei
Maria da Penha, cujo diferencial é a forma de abordar o
problema, propondo a criminalização e a aplicação de
penas para os agressores, mas também medidas que
são dirigidas às mulheres para a proteção de sua
[30] integridade física e de seus direitos, além de medidas
de prevenção destinadas a modificar as relações entre
homens e mulheres na sociedade, campo no qual a
educação desempenha papel estratégico. Apesar de
tudo, o Brasil segue sendo um país violento para as
[35] mulheres. Anualmente são registradas centenas de
ocorrências de violência doméstica, de violência sexual,
além das elevadas taxas de homicídios de mulheres
que, quando motivadas pelas razões de gênero, são
tipificadas como feminicídios. Esses números
[40] expressam uma parte do problema e comumente
dizemos que a subnotificação é uma característica
dessas situações.
O medo, a dúvida, a vergonha são algumas
explicações para esse silêncio, mas novamente nos
[45] contentamos em olhar para as justificativas e não para
as causas. (...)
De modo geral, mudamos as leis, mas não a
forma como as instituições funcionam. O Sistema de
Justiça segue atuando de forma seletiva e distribuindo
[50] de forma desigual o acesso à Justiça. Existem poucos
serviços especializados para atender as mulheres em
situação de violência. Faltam protocolos que orientem o
atendimento. Falta capacitação para os profissionais
cuja atuação é muitas vezes balizada por convicções
[55] pessoais e julgamentos de valor que nada têm a ver
com os direitos humanos. (...)
Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/notícia/2018/02/ violencia-contra-mulher-wania-pasinato.html - Acesso em 30/06/2020
Após a leitura e análise do texto, é correto afirmar que