UMA GRANDE NOVIDADE: O RÁDIO
Em meus tempos de menina ainda não havia televisão, e pouquíssimas casas tinham o rádio. Meu pai encomendou um para nossa casa. O dia em que o aparelho chegou foi uma festa. Ao ouvirmos os apitos do vapor, corremos para a beira do rio, ansiosos para receber o rádio (...). E eis que ele chega, carregado, por dois homens, um móvel do tamanho de uma cômoda (...).
Instalado num canto da sala de visitas, assim que foi ligado chamava a atenção de todos (...) passava uma novela às seis horas da tarde: Jerônimo, o herói do sertão, e as janelas da sala ficavam apinhadas de gente para acompanhar. Depois vinha O Direito de Nascer. Minha mãe anotava num caderninho toda a programação com o nome das estações e o número onde cada uma se encontrava. Um dia ela me disse (...) que havia lido em uma revista que ia sair um aparelho parecido com o rádio, mas que a gente via as pessoas lá dentro conversando. Até suspirava ao imaginar poder ver o Albertinho Limonta, o dom Rafael, a Maria Helena ou a Mamãe Dolores. Não teve este gosto, pois a morte a surpreendeu antes de a televisão chegar.
(Maria da Glória Caxito Mameluque – “Um grande amor não se divide – Memórias de um álbum de família II” – pág. 31)
A análise linguística está correta em: