TEXTO:
O advento do homem-massa
Na decadente conjuntura da degradação cultural
promovida pelo nivelamento vulgar das qualidades
humanas, vivemos sob o jugo da “ditadura da
massificação”, na qual se diluem todo destaque pessoal,
[5] todo brilho singular.
As inúmeras transformações sociais e valorativas
ocorridas na modernidade oitocentista a partir da queda
do ideário aristocrático e sua substituição pela visão de
mundo burguesa trouxeram consigo um projeto cultural
[10] de instauração da noção de “igualdade” na esfera política,
econômica ou social. Todavia, o projeto moderno de
estabelecimento da “igualdade” humana se revelou uma
farsa, pois nenhum ser humano manifesta qualquer tipo
de característica semelhante a outrem e, se falamos de
[15] “igualdade”, estamos certamente estabelecendo uma
redução simbólica da condição individual.
Ortega y Gasset foi um dos principais filósofos a
problematizar a questão da massificação da cultura na
modernidade ocidental e suas diversas implicações na
[20] esfera simbólica e social da vida humana.
É importante destacar que a configuração valorativa
do “homem-massa” não segue parâmetros sociais ou
econômicos específicos, mas a análise da existência
ou não de uma nobreza de espírito interior. Assim, uma
[25] pessoa detentora de posses materiais, caso avalie sua
existência pelos parâmetros quantitativos da ganância,
da falta de finesse e da degradação do gosto cultural,
associa-se ao grupo dos “homens-massa”; por sua vez,
uma pessoa desprovida de instrução formal e de bens
[30] materiais, mas que é dotada de espírito avaliativo e
sensibilidade cultural para apreciar aquilo que é belo ou
sublime, se encontra longe da esfera vulgar da tipologia
da massa, caracterizada justamente pela ausência de
critérios seletivos em suas avaliações. Para Ortega y
[35] Gasset, “massa é todo aquele que não atribui a si
mesmo um valor — bom ou mau — por razões especiais,
mas que se sente como todo ‘mundo’ e, certamente,
não se angustia com isso, sente-se bem por ser idêntico
aos demais”.
BITTENCOURT, Renato Nunes. O advento do homem-massa. Disponível em: < http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/52/o-adventodo-homem-massa-na-decadente-conjuntura-da-degradacao-cultural-187560-1.asp>. Acesso em: nov. 2010. Adaptado.
Para o articulista do texto, o “homem-massa”