[1] A Bahia de Todos os Santos é a porta do mundo,
como se sabe. Desmedida, nela cabem reunidas as
demais enseadas do Brasil e ainda sobra espaço onde
conter as rias da Galícia e as esquadras do universo.
[5] Quanto à beleza, não há comparação que se possa fazer
nem existe escritor capaz de descrevê-la.
Um rebanho de ilhas, cada qual mais aprazível e
deslumbrante, pasta neste mar de sonho. Pastoreadas
pela ilha maior e principal, a de Itaparica, povoada de
[10] tropas lusitanas e holandesas, de tribos de índios e de
nações africanas. No fundo das águas, no reino de Aioká,
jazem cascos de caravelas armadas em guerra, fidalgos
portugueses e almirantes batavos, colonos e invasores
expulsos pelos denodados patriotas brasileiros. Itaparica,
[15] mãe da pátria recente, chão da liberdade nas batalhas da
Independência, nas festas de janeiro.
Das glórias da Bahia de Todos os Santos manda a
prudência não falar, é recomendável guardar silêncio,
para evitar despeito e dor de cotovelo: sua fama está na
[20] boca dos marítimos, nas canções dos trovadores, nas
cartas e relatos dos navegantes.
AMADO, Jorge. O sumiço da santa: uma história de feitiçaria. Rio de Janeiro: Record, 1988. p. 18.
Na descrição detalhada que Jorge Amado faz da Bahia de Todos os Santos, na obra “O sumiço da santa”, o aspecto estilístico do texto que está devidamente analisado é o indicado em