A propagação da ignorância*
Astor Wartchow**
1. Nunca foram tantas as oportunidades e alternativas de acesso ao saber, à educação, à escolarização,
2. à cultura e à produção científica. A superoferta e a exuberância tecnológica e a instantaneidade dos modernos
3. meios de conhecimento e comunicação, a exemplo de aparelhos celulares multimídia e da própria internet,
4. garantem essa possibilidade.
5. Porém, a plena receptividade, a compreensão, o estabelecimento e o desenvolvimento desse saber ain-
6. da dependem do esforço e do empenho pessoal e individual. Daí que observamos e vivenciamos uma incrível
7. contradição.
8. Ao mesmo tempo em que avançamos grandiosamente na produção/divulgação do saber científico e
9. no conhecimento acerca da existência, da convivência e da experiência humana, nunca foi tão expressivo o
10. número de pessoas (com)partilhando superstições e explicações simplistas, erradas e idiotizantes. Como se
11. verdadeiras fossem!
12. Exemplo de propagação e massificação da ignorância é a crescente oferta e divulgação dos manuais de
13. autoajuda, com práticas e garantias de “sucesso pessoal, no amor e nas finanças”. Como se a ideologia do
14. “eu posso!” não dependesse de fundamentos educacionais. [...]
15. Além disso, há a “indústria e comércio” da fé e seus teólogos da prosperidade, que “expurgam demônios
16. e abençoam carteiras de trabalho”. Alguns mediante quitação de boleto bancário. Caso de polícia.
17. Propaga-se ignorância, intolerância, preconceitos e falsa ciência, sem restrições e sem constrangimen-
18. tos. Como se houvesse uma genialidade natural, uma geração espontânea do saber. São simplificações in-
19. gênuas e travestidas em falso conhecimento e senso comum. Esse fato é, porém, compreensível. Afinal, com
20. tantos corações carentes de afeto, ouvidos ávidos de atenção e estômagos vazios, não deveria ser surpresa a
21. supremacia da ignorância, da estupidez, da idiotia, da mistificação e do curandeirismo.
(*Texto publicado no Jornal Zero Hora, em 04 set. 2014. Disponível em http://wp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2014/09/04/artigo-a-propagacao-da-ignorancia/. Acesso em 26 set. 2014. Adaptação. **Advogado.)
Leia as seguintes afirmações sobre a coesão referencial no texto.
I – A expressão “essa possibilidade” (linha 4) retoma, no texto, “acesso ao saber, à educação, à escolarização, à cultura e à produção científica” (linhas 1-2).
II – O pronome demonstrativo “isso”, na expressão “Além disso” (linha 15), refere-se ao fato de que a ideologia do “eu posso” depende de fundamentos educacionais.
III – A expressão “Esse fato” (linha 19) retoma, no texto, “uma geração espontânea do saber” (linha 18).
Sobre as proposições acima, pode-se afirmar que