Para um professor de Medicina, como é o meu caso, trazer o médico de volta ao que realmente importa – o paciente – é um desafio diário. Mas o cinema tem-se mostrado um recurso eficaz para promover essa reflexão. Lembro-me de uma ocasião, em um congresso de universitários, quando projetávamos a cena da batalha em O Último Samurai. Aqueles homens medievais, valentes, enfrentam as modernas metralhadoras, com a coragem e a espada. A atitude de servir e chegar até o fim, que parece ser a motivação dos samurais, arranca do inimigo o reconhecimento, a veneração e até a vitória moral. Quando acabou a conferência e os comentários das cenas, antes de sair, um aluno veio até a frente, me segurou pelo braço e me disse com os olhos brilhando: “Professor, eu quero ser um samurai!”.
O cinema é também um modo de entender, de exprimir aquilo que a racionalidade levaria muito tempo para explicitar, e acabaria resultando até enfadonho. Vale esclarecer que a educação através da estética, que atinge as emoções e a sensibilidade, não é uma tentativa de apoiar a educação do jovem na emotividade. Trata-se de suscitar uma reflexão sobre valores e atitudes. É possível incorporar um conhecimento técnico ou mesmo treinar uma habilidade sem refletir sobre eles; mas é impossível adquirir valores, progredir em virtudes, incorporar atitudes, sem um prévio processo de reflexão. Esse processo requer tato, habilidade, evitar precipitações, promovendo um aprendizado que respeite, de alguma maneira, o ritmo quase fisiológico da emotividade. Não se pode obrigar a ninguém a sentir o que não sente. Pode-se simplesmente mostrar, e o tempo e a reflexão sobre as emoções se encarregarão de aprimorar o paladar afetivo.
BLASCO, Pablo González. A sétima arte e humanização da Medicina. Disponível em: . Acesso em: fev. 2017. Adaptado.
Para o articulista, a formação do futuro médico através da estética tem como objetivo