Considere o fragmento do conto Eis a Primavera, de Dalton Trevisan, para responder à questão.
João saiu do hospital para morrer em casa – e gritou três meses antes de morrer. Para não gastar, a mulher nem uma vez chamou o médico. Não lhe deu injeção de morfina, a receita azul na gaveta. Ele sonhava com a primavera para sarar do reumatismo, nos dedos amarelos contava os dias.
– Não fosse a umidade do ar… – gemia para o irmão nas compridas horas da noite.
Já não tinha posição na cama: as costas uma ferida só. Paralisado da cintura para baixo, obrava-se sem querer. A filha tapava o nariz com dois dedos e fugia para o quintal:
– Ai, que fedor… Meu Deus, que nojo!
Com a desculpa que não podiam vê-lo sofrer, mulher e filha mal entravam no quarto. O irmão Pedro é que o assistia, aliviando as dores com analgésico, aplicando a sonda, trocando o pijama e os lençóis. Afofava o travesseiro, suspendia o corpinho tão leve, sentava-o na cama:
– Assim está melhor?
Chorando no sorriso, a voz trêmula como um ramo de onde o pássaro desferiu o voo:
– Agora a dor se mudou…
Vigiava aflito a janela:
– Quantos dias faltam? Com o sol eu fico bom.
Pele e osso, pescocinho fino, olho queimando de febre lá no fundo. Na evocação do filho morto, havia trinta anos:
– Muito engraçado, o camaradinha – e batia fracamente na testa com a mão fechada. – Com um aninho fazia continência. Até hoje não me conformo.
(In: Alfredo Bosi. O conto brasileiro contemporâneo, 1975.)
No que se refere à duração do processo verbal, é correto afirmar que a forma gritou, que habitualmente indica uma ação concluída no passado, expressa no texto