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[1] José Roberto e Sebastião Campos serviam às senhoras, acompanhando com uma pilhéria cada prato que lhes
ofereciam. Raimundo pediu dispensa do chá, com medo do Freitas que lhe abrira um lugar ao lado do seu.
Ouviu-se mastigar as torradas e sorver, aos golinhos, o chocolate quente.
– Doutor, exclamou o cônego, procurando espetar com o garfo uma fatia de um bolo de tapioca. Prove ao
[05] menos do nosso “Bolo do Maranhão”. Também o chamam por aí “Bolo podre”. Prove, que isto não há fora de cá...
é uma especialidade da terra!
– Não é mau... disse Raimundo, fazendo-lhe a vontade. Muito saboroso, mas parece-me um tanto pesado...
– É de substância! acrescentou Maria Bárbara. Faz-se de tapioca de forno e ovos.
– D. Bibina! chamou Ana Rosa, apontando para os beijus. São fresquinhos...
[10] Amância, com a boca cheia, dizia baixo a Maria do Carmo:
– Pois, minha amiga, quando precisar de missa com cerimônia, não tem mais do que se entender com o padre
que lhe digo... É muito pontual e contenta-se com o que a gente lhe dá! Est’r’o dia apanhou-me dezoito mil- réis
por uma missinha cantada, mas também podia se ver a obra que o homem apresentou!.. Pois então! Há de dar
uma criatura seus cobrinhos, que, tanto custam a juntar, a muito padre, como há por aí, desses que, mal chegam
[15] ao altar, estão pensando no almoço e na comadre?... Deus te livre, credo! Até pesa na consciência de um cristão!
– Como o padre Murta!... lembrou a outra.
– Oh! Esse, nem se fala! Às vezes, Deus me perdoe! nos enterros, até se apresenta bêbado!
(AZEVEDO, Aluísio. O mulato. 8ª ed. São Paulo: Ática, 1988. p.60).
Raimundo tenta fugir da companhia de: