A oferta do Diabo veio por e-mail, de sorte que nem vi a sua cara. Ele procurou na internet pessoas dispostas a trocar sua alma pelo que quisessem. Respostas para 666belzebu.com. A pessoa empenhava sua alma ao Diabo para entregar na saída, e em troca poderia pedir qualquer coisa. Mas só uma coisa.
Pensei imediatamente no Internacional. Está certo, primeiro pensei na Vera Fischer, mas aí achei que daria confusão. Em seguida pensei no Internacional. Um campeonato? Mas concluí que estava sendo egoísta. Pensei também em pedir... Dúvida total. Depois concluí que deveria pedir, pela minha alma, algo que desse alegria a todos. O quê? Quero que o Brasil se transforme num país escandinavo. Agora! Um país organizado, sem crime, sem fome, sem injustiça, sem conflitos, magnificamente chato. Era isso: minha alma por um país aborrecido!
Foi o que botei no meu e-mail para o Diabo. Ele respondeu perguntando se eu tinha pensado bem no que eu estava pedindo em troca da minha alma. Eu deveria saber que a adaptação seria difícil. Era mesmo o que eu queria? É, respondi. Chega desta irresponsabilidade tropical, desta indecência social disfarçada de bonomia, desta irresolução criminosa que passa por afabilidade, desta eterna mania de atrasar tudo. Faça-nos escandinavos, já!
O Diabo: “Tem certeza? Já?”
Eu: “Bom... Depois do carnaval”.
A linguagem oral se diferencia da linguagem escrita por várias marcas de espontaneidade, o que o texto acima procura reproduzir. No caso, é marca de oralidade: