Etimologia popular
Um dia desses, fiquei preso em um congestionamento de trânsito, aventura extremamente frequente para quem tem o privilégio de viver em Belo Horizonte. Os congestionamentos, aliás, são uma espécie de pausa que nossa cidade concede a seus habitantes para que ponham em ordem seus pensamentos e meditem um pouco sobre a vida – ou, como alternativa, para que possam maldizer os outros motoristas, o Detran, a Prefeitura, o Governo Federal, a vida etc. Conforme a inclinação de cada um, é possível usar o tempo gasto nos engarrafamentos para pensar um pouco.
Como dizia, fiquei preso no trânsito, em um local onde passo todos os dias, na esquina da avenida Pedro II com a rua Tremedal. Sem ter o que fazer, fixei a vista na placa da esquina, que já tinha visto milhares de vezes, e pela primeira vez notei que dizia não “Rua Tremedal”, mas “Rua Tremendal”. Ora, Tremedal é uma palavra pouco usada, mas que eu, por acaso, conheço: significa “Pantanal”, e é também o nome de uma cidade mineira (donde, imagino, o nome da rua). E fiquei pensando (eu tinha muito tempo livre) no porquê do aparecimento daquele n intruso no nome da rua. Deveria ser uma influência qualquer de tremendo – talvez porque um pântano é alguma coisa tremenda, pelo menos para quem tem que atravessá-lo? Ou seja, a pessoa que faz placa provavelmente não conhecia a palavra tremedal, e, talvez sem perceber, acabou aproximando-a de uma outra palavra que conhecia. E ainda imaginei que, se houver circunstâncias favoráveis, se outras pessoas repetirem o engano, ou aprenderem a partir da palavra já alterada, a palavra tremedal (seja significando “pântano”, seja como nome de cidade e de rua) acabará se tornando definitivamente tremendal.
PERINI, Mário Alberto. A língua do Brasil amanhã e outros mistérios. 3.ed. São Paulo: Parábola, 2008. p.73s.
Sobre o texto foram feitas algumas afirmações:
I A expressão em Belo Horizonte, sublinhada no primeiro parágrafo, NÃO pode ser eliminada do trecho, sob pena de o sentido do trecho ser drasticamente alterado.
II A expressão como dizia, sublinhada no segundo parágrafo, serve como elemento coesivo, pois retoma o assunto do parágrafo anterior: o engarrafamento.
III A oração que já tinha visto milhares de vezes, sublinhada no segundo parágrafo, tem função adjetiva, e se refere ao termo “placa da esquina”.
IV As expressões é possível, no primeiro parágrafo e deveria, no segundo parágrafo, expressam possibilidade.
Estão CORRETAS as afirmações