Questões de Português - Leitura e interpretação de textos - Gêneros textuais - Verbais/Descritivo - relato pessoal
INSTRUÇÃO: Leia, atentamente, o texto a seguir para responder à questão que a ele se refere.
Mãe Bernadete, presente!
Itamar Vieira Junior
Geógrafo e escritor, autor de “Torto Arado”.
“Eu quero que você escreva minha história”, disse Bernadete Pacífico, ialorixá e líder, ao descobrir
que eu escrevia. Conheci sua luta há mais de dez anos nas dependências da Superintendência Regional do
Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) da Bahia e depois em Pitanga de Palmares,
território quilombola localizado em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador.
[5] Quando soube do seu brutal assassinato ontem à noite, [...] recordei essa e muitas outras histórias
dos nossos anos de convivência. Aos 72, dona Bernadete, como a chamávamos, poderia estar aposentada
e ter se retirado da militância depois de tantos anos de serviços prestados à causa. Mas preferiu estar na
linha de frente, reivindicando a titulação do seu território e políticas públicas para sua comunidade.
Dona Bernadete era incansável na defesa do reconhecimento e da regularização fundiária do
[10] território quilombola onde vivia. Foi lá também que, em 2017, viu seu filho Binho do Quilombo, também líder
comunitário, ser assassinado. O crime jamais foi esclarecido, mesmo com a resiliência dessa mãe visitando
o Ministério Público, delegacias de polícia e órgãos de direitos humanos e de Justiça, mesmo encontrando
autoridades em Brasília e em outros estados.
Vê-la tão destemida exigindo resposta para esse crime bárbaro fez com que eu e muitos outros
[15] temêssemos por sua vida, mas sua postura era um exemplo de que é preciso cultivar a coragem para mover
e mudar o mundo. [...]
O Brasil não protege nem ampara os que lutam por dignidade humana e justiça. Foi assim com João
Pedro Teixeira, Margarida Alves, Chico Mendes, a irmã Dorothy Stang e Marielle Franco. São tantos os que
tombaram nesse caminho por equidade e reparação que não caberiam em todas as páginas deste jornal.
[20] [...]
Na última vez que estive em Pitanga de Palmares, em dezembro de 2021, fui recebido com um
almoço e muitos risos. Apesar de toda a dor que ainda pairava sobre a família com a impunidade pela morte
de seu filho, ela cultivava o bom humor, interpelava políticos e autoridades por onde passava, cativava todos
com sua firmeza e obstinação.
[25] A certeza da impunidade – a morte de Binho do Quilombo jamais foi esclarecida e os responsáveis
continuam soltos – abriu caminhos para que mais um dos nossos tombasse novamente. [...]
A necropolítica não está refletida apenas nos assassinatos diretos praticados pelo Estado, mas
também na falta de resposta para os crimes cometidos contra as populações vulneráveis. Reflete também
na burocracia sem fim e na falta de investimento que fazem com que conflitos diversos, como a disputa por
[30] terra em Pitanga de Palmares, se arrastem sem nenhuma solução no horizonte.
Gostaria de poder escrever sobre a resiliência, a coragem e o inquebrantável espírito humano. Para
evocar a memória de dona Bernadete, eu escrevo, mas gostaria que o final dessa história fosse outro: vê-la
recebendo o título do seu território, vê-la em paz com a responsabilização e a punição dos responsáveis
pela morte de seu filho.
[35] Gostaria de escrever que o tempo está mudando, que a violência fundiária, religiosa e racial ficou
no passado, mas a brutalidade que vitimou dona Bernadete me diz que o Brasil continua encalhado no seu
passado tenebroso. [...]
Fonte: VIEIRA JUNIOR, Itamar. Mãe Bernadete, presente! Folha de São Paulo. 18 ago. 2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/itamar-vieira-junior/2023/08/mae-bernadete-presente.shtml. Acesso em: 26 set. 2023. Adaptado.
O título desse texto apresenta uma
Texto
A importância dos povos indígenas para a proteção de florestas
Jennifer Ann Thomas
Enquanto áreas privadas registram índices mais
altos de desmatamento, terras indígenas são
conhecidas como barreiras contra o
desmatamento.
[5] A situação dramática dos indígenas
Yanomamis em Roraima evidenciou como este
povo foi negligenciado durante anos, a ponto de a
Polícia Federal abrir um inquérito para investigar
se houve crime de genocídio contra a etnia.
[10] Estima-se que cerca de 28.000 indígenas vivam na
Terra Indígena Yanomami, a maior reserva
indígena do Brasil.
Em 2022, o número de garimpeiros no
território, que exploram ouro de forma ilegal,
[15] passou de 20.000 indivíduos. O garimpo ilegal é
associado à contaminação por mercúrio, ao
aumento da violência e à exploração sexual, além
de ser um crime ambiental que explora recursos
naturais do país.
[20] Os povos originários do Brasil são parte da
história e da formação cultural do país. Além da
riqueza cultural associada aos diversos modos de
vida, às línguas e aos saberes tradicionais, os povos
indígenas são reconhecidos como os maiores
[25] guardiões das florestas no mundo.
De acordo com um levantamento do
MapBiomas, “os territórios indígenas estão entre
as principais barreiras contra o avanço do
desmatamento no Brasil. Nos últimos 30 anos, as
[30] terras indígenas perderam apenas 1% de sua área
de vegetação nativa, enquanto nas áreas privadas
a perda foi de 20,6%”.
Segundo a Organização das Nações
Unidas, povos indígenas representam cerca de 5%
[35] da população mundial, ao mesmo tempo em que
correspondem de 10% a 30% das pessoas mais
pobres do mundo.
Em um estudo publicado no periódico
Current Biology em novembro de 2022, que
[40] analisou o impacto de terras indígenas protegidas
em florestas tropicais, os pesquisadores
escreveram que “áreas indígenas protegidas
tiveram o maior efeito protetor sobre a
integridade da floresta e a menor intensidade de
[45] uso da terra em relação às terras indígenas, áreas
protegidas e controles não protegidos”.
As imagens chocantes que mostraram as condições
em que vivem os Yanomamis do Brasil
evidenciaram como um povo inteiro está
[50] ameaçado. Em nota, o Ministério Público Federal
(MPF) afirmou que “a grave situação de saúde e
segurança alimentar sofrida pelos povos
Yanomamis resulta da omissão do Estado brasileiro
em assegurar a proteção de suas terras”. Proteger
[55] os povos originários é defender, também, a
história, a cultura e o meio ambiente do Brasil.
https://veja.abril.com.br/agenda-verde/a-importancia-dospovos-indigenas-para-a-protecao-de-florestas/ 25 jan 2023.Texto adaptado.
O texto pertence ao gênero textual
Multicampeã pela Seleção Brasileira Feminina, duas vezes medalhista de prata nos jogos Olímpicos e com diversas taças importantes no currículo — como Libertadores e Copa do Brasil — Cristiane, nascida em 1985, no município de Osasco, região metropolitana de São Paulo, e atualmente jogadora do Santos, avalia a situação do futebol feminino no Brasil como “muito melhor” do que antigamente.
“Comecei no futebol de rua, somente com meninos — não tinha menina — com muito preconceito. Não tinha oportunidades, porque minha família não tinha condições financeiras, meu pai era caminhoneiro, minha mãe empregada doméstica, nós morávamos no quintal da minha avó. Graças a um vizinho meu, que me apadrinhou na infância, eu tive a condição de ir para uma escolinha e comprar material. Eu olho tudo isso que foi construído para as meninas poderem aproveitar aquilo que a gente batalhou muito para ter. É um orgulho muito grande”.
https://tinyurl.com/4j66unk3%20Acesso%20em:%2001.03.2023.%20Adaptado.
Segundo o texto,
Para responder à questão, considere não apenas o fragmento em itálico, mas também a contextualização que o precede.
O fragmento a seguir foi recortado de um texto intitulado “Maternidade especial”, postado em 15 de fevereiro de 2022, em um site pertencente ao domínio “.com” e que pode ser pesquisado pelo nome “garotadatelha”, precedido de http://. A autora identifica-se como “gente, mãe, atuante no mundo jurídico e interessada em coisas legais”. Quanto aos conteúdos do gênero por meio do qual “produz, reproduz e difunde a escrita de maneira interativa” (LORENZI; PÁDUA, 2012, p. 40), ela assim os apresenta: “Viagem, entretenimento, comentários, receitas, festas, dicas para economizar, dicas de locais para sair, de livros, séries, filmes, muitos casos, contos e histórias (por mim escritos) para rir... alguns desabafos... e no fim, o que vier na telha para ajudar”.
Vejamos o fragmento:
Vou escrever sobre uma mãe que conheço. [...] Quando a conheci, ela só tinha tido o melhor amigo do meu filho. E eu sabia da sua existência através do menino. [...] Pois bem, essa mãe passou muita coisa e, hoje, tem três filhos. Apesar de engenheira, de entender de números, probabilidades e estatísticas, em questão de filho ela muda toda a logística matemática, se recusando a aceitar as teorias e fazendo, sempre, dos filhos, o ponto fora da curva. [...] Acorda cedo, cuida do bebê, ajuda o mais velho nas atividades, e trata o filho do meio. [....] Esse segundo filho foi diagnosticado com autismo. Não falava e não fazia contato visual. Se ela ficou baqueada com o diagnóstico? Ficou sim. Deixou as crianças em casa com o marido. Chorou. Comeu doce. Respirou. Tornou a chorar e, no dia seguinte, aquela supermãe já estava tomando providências pra tratar o filho. E disse a mesma coisa que mamãe me falou uma vez: “Ele não precisa de choro; precisa de orientação e tratamento; então... vamo que vamo...” (A parte do “vamo que vamo” é dessa mãe fofa – minha mãe não falava isso). [...]
(Disponível em: http://garotadatelha.[...].com. Acesso em: 23 out. 2022. Com adaptações) [Grifos nossos. Omissão de um detalhe do endereço eletrônico por uma razão óbvia: ocultar informação que favoreça os candidatos]
O parágrafo contextualizador reúne informações sobre um dos diferentes gêneros digitais.
Assinale a alternativa que traz a identificação correta desse gênero e o trecho do texto que sinaliza para sua função social atual.
“ 23 de maio
Fiz a comida. Achei bonito a gordura frigindo na panela. Que espetaculo deslumbrante! As crianças sorrindo vendo a comida ferver nas panelas. Ainda mais quando é arroz e feijão. É um dia de festa para eles.
22 de julho
- Antigamente eram os pretos que criava os brancos. Hoje São os brancos que criam os pretos. A senhora disse que cria a menina desde os 9 meses e a negrinha dorme com ela e que lhe chama de mãe. [...]. Todas as manhãs eu canto. Sou como as aves, que cantam apenas ao amanhecer. De manhã estou sempre alegre. A primeira coisa que faço é abrir a janela e contemplar o espaço.”
JESUS, Carolina Maria. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 10ª ed. São Paulo: Ática, 2014. p. 43 e 24 – 25.
Com base na obra, “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus e, considerando-se os fragmentos citados nesta prova, é correto reconhecer a narrativa como
Agora sei que a minha língua é a língua de sinais.
Agora sei também que o português me convém. Eu quero
ensinar português para os meus alunos surdos, pois eles
precisam dessa língua para ter mais poder de negociação
com os ouvintes [G, 2004].
Eu me sinto bilingue, eu converso com os surdos na
minha lingua e converso com os ouvintes no português,
porque aprendi a falar o português, embora eu tenha voz de
surdo, mas as pessoas muitas vezes me entendem. Eu já me
acostumei a conversar com os ouvintes no meu português.
Se alguns não me entendem, eu escrevo [SZ, 2011].
QUADROS, R. M. Libras. São Paulo: Parábola, 2019.
Considerando os contextos de uso da Libras e da língua portuguesa, o depoimento desses surdos revela que no contato entre essas línguas há uma
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