IFPE 2017 Superior
55 Questões
TEXTO 1
DA PAZ
Eu não sou da paz.
Não sou mesmo não. Não sou. Paz é coisa de rico. Não visto camiseta nenhuma, não, senhor. Não solto
pomba nenhuma, não, senhor. Não venha me pedir para eu chorar mais. Secou. A paz é uma desgraça.
Uma desgraça.
Carregar essa rosa. Boba na mão. Nada a ver. Vou não. Não vou fazer essa cara. Chapada. Não vou rezar.
Eu é que não vou tomar a praça. Nessa multidão. A paz não resolve nada. A paz marcha. Para aonde
marcha? A paz fica bonita na televisão. Viu aquela atriz? No trio elétrico, aquele ator?
Se quiser, vá você, diacho. Eu é que não vou. Atirar uma lágrima. A paz é muito organizada. Muito
certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E prefeito. E senador. E até
jogador. Vou não.
Não vou.
A paz é perda de tempo. E o tanto que eu tenho para fazer hoje. Arroz e feijão. Arroz e feijão. Sem contar
a costura. Meu juízo não está bom. A paz me deixa doente. Sabe como é? Sem disposição. Sinto muito.
Sinto. A paz não vai estragar o meu domingo.
A paz nunca vem aqui, no pedaço. Reparou? Fica lá. Está vendo? Um bando de gente. Dentro dessa fila
demente. A paz é muito chata. A paz é uma bosta. Não fede nem cheira. A paz parece brincadeira. A paz
é coisa de criança. Tá uma coisa que eu não gosto: esperança. A paz é muito falsa. A paz é uma senhora.
Que nunca olhou na minha cara. Sabe a madame? A paz não mora no meu tanque. A paz é muito branca.
A paz é pálida. A paz precisa de sangue.
Já disse. Não quero. Não vou a nenhum passeio. A nenhuma passeata. Não saio. Não movo uma palha.
Nem morta. Nem que a paz venha aqui bater na minha porta. Eu não abro. Eu não deixo entrar. A paz está
proibida. Proibida. A paz só aparece nessas horas. Em que a guerra é transferida. Viu? Agora é que a
cidade se organiza. Para salvar a pele de quem? A minha é que não é. Rezar nesse inferno eu já rezo.
Amém. Eu é que não vou acompanhar andor de ninguém. Não vou.
Não vou.
Sabe de uma coisa: eles que se lasquem. É. Eles que caminhem. A tarde inteira. Porque eu já cansei. Eu
não tenho mais paciência. Não tenho. A paz parece que está rindo de mim. Reparou? Com todos os terços.
Com todos os nervos. Dentes estridentes. Reparou? Vou fazer mais o quê, hein?
Hein?
Quem vai ressuscitar meu filho, o Joaquim? Eu é que não vou levar a foto do menino para ficar exibindo
lá embaixo. Carregando na avenida a minha ferida. Marchar não vou, muito menos ao lado de polícia.
Toda vez que vejo a foto do Joaquim, dá um nó. Uma saudade. Sabe? Uma dor na vista. Um cisco no
peito. Sem fim. Uma dor. Dor. Dor. Dor.
Dor.
A minha vontade é sair gritando. Urrando. Soltando tiro. Juro. Meu Jesus! Matando todo mundo. É. Todo
mundo. Eu matava, pode ter certeza. Todo mundo. Mas a paz é que é culpada. Sabe?
A paz é que não deixa.
FREIRE, Marcelino. Da paz. Disponível em:. Acesso: 27 set. 2016.
A respeito do TEXTO 1, é possível afirmar que
TEXTO 1
DA PAZ
Eu não sou da paz.
Não sou mesmo não. Não sou. Paz é coisa de rico. Não visto camiseta nenhuma, não, senhor. Não solto
pomba nenhuma, não, senhor. Não venha me pedir para eu chorar mais. Secou. A paz é uma desgraça.
Uma desgraça.
Carregar essa rosa. Boba na mão. Nada a ver. Vou não. Não vou fazer essa cara. Chapada. Não vou rezar.
Eu é que não vou tomar a praça. Nessa multidão. A paz não resolve nada. A paz marcha. Para aonde
marcha? A paz fica bonita na televisão. Viu aquela atriz? No trio elétrico, aquele ator?
Se quiser, vá você, diacho. Eu é que não vou. Atirar uma lágrima. A paz é muito organizada. Muito
certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E prefeito. E senador. E até
jogador. Vou não.
Não vou.
A paz é perda de tempo. E o tanto que eu tenho para fazer hoje. Arroz e feijão. Arroz e feijão. Sem contar
a costura. Meu juízo não está bom. A paz me deixa doente. Sabe como é? Sem disposição. Sinto muito.
Sinto. A paz não vai estragar o meu domingo.
A paz nunca vem aqui, no pedaço. Reparou? Fica lá. Está vendo? Um bando de gente. Dentro dessa fila
demente. A paz é muito chata. A paz é uma bosta. Não fede nem cheira. A paz parece brincadeira. A paz
é coisa de criança. Tá uma coisa que eu não gosto: esperança. A paz é muito falsa. A paz é uma senhora.
Que nunca olhou na minha cara. Sabe a madame? A paz não mora no meu tanque. A paz é muito branca.
A paz é pálida. A paz precisa de sangue.
Já disse. Não quero. Não vou a nenhum passeio. A nenhuma passeata. Não saio. Não movo uma palha.
Nem morta. Nem que a paz venha aqui bater na minha porta. Eu não abro. Eu não deixo entrar. A paz está
proibida. Proibida. A paz só aparece nessas horas. Em que a guerra é transferida. Viu? Agora é que a
cidade se organiza. Para salvar a pele de quem? A minha é que não é. Rezar nesse inferno eu já rezo.
Amém. Eu é que não vou acompanhar andor de ninguém. Não vou.
Não vou.
Sabe de uma coisa: eles que se lasquem. É. Eles que caminhem. A tarde inteira. Porque eu já cansei. Eu
não tenho mais paciência. Não tenho. A paz parece que está rindo de mim. Reparou? Com todos os terços.
Com todos os nervos. Dentes estridentes. Reparou? Vou fazer mais o quê, hein?
Hein?
Quem vai ressuscitar meu filho, o Joaquim? Eu é que não vou levar a foto do menino para ficar exibindo
lá embaixo. Carregando na avenida a minha ferida. Marchar não vou, muito menos ao lado de polícia.
Toda vez que vejo a foto do Joaquim, dá um nó. Uma saudade. Sabe? Uma dor na vista. Um cisco no
peito. Sem fim. Uma dor. Dor. Dor. Dor.
Dor.
A minha vontade é sair gritando. Urrando. Soltando tiro. Juro. Meu Jesus! Matando todo mundo. É. Todo
mundo. Eu matava, pode ter certeza. Todo mundo. Mas a paz é que é culpada. Sabe?
A paz é que não deixa.
FREIRE, Marcelino. Da paz. Disponível em:<http://cinismocotidiano.blogspot.com.br/2010/03/abandonos-e-da-paz-marcelino-freire.html>. Acesso: 27 set. 2016.
Assinale a alternativa em que a vírgula sublinhada é utilizada pelo mesmo motivo que em “Pretinha, eu faço tudo pelo nosso amor” (Seu Jorge).
TEXTO 1
DA PAZ
Eu não sou da paz.
Não sou mesmo não. Não sou. Paz é coisa de rico. Não visto camiseta nenhuma, não, senhor. Não solto
pomba nenhuma, não, senhor. Não venha me pedir para eu chorar mais. Secou. A paz é uma desgraça.
Uma desgraça.
Carregar essa rosa. Boba na mão. Nada a ver. Vou não. Não vou fazer essa cara. Chapada. Não vou rezar.
Eu é que não vou tomar a praça. Nessa multidão. A paz não resolve nada. A paz marcha. Para aonde
marcha? A paz fica bonita na televisão. Viu aquela atriz? No trio elétrico, aquele ator?
Se quiser, vá você, diacho. Eu é que não vou. Atirar uma lágrima. A paz é muito organizada. Muito
certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E prefeito. E senador. E até
jogador. Vou não.
Não vou.
A paz é perda de tempo. E o tanto que eu tenho para fazer hoje. Arroz e feijão. Arroz e feijão. Sem contar
a costura. Meu juízo não está bom. A paz me deixa doente. Sabe como é? Sem disposição. Sinto muito.
Sinto. A paz não vai estragar o meu domingo.
A paz nunca vem aqui, no pedaço. Reparou? Fica lá. Está vendo? Um bando de gente. Dentro dessa fila
demente. A paz é muito chata. A paz é uma bosta. Não fede nem cheira. A paz parece brincadeira. A paz
é coisa de criança. Tá uma coisa que eu não gosto: esperança. A paz é muito falsa. A paz é uma senhora.
Que nunca olhou na minha cara. Sabe a madame? A paz não mora no meu tanque. A paz é muito branca.
A paz é pálida. A paz precisa de sangue.
Já disse. Não quero. Não vou a nenhum passeio. A nenhuma passeata. Não saio. Não movo uma palha.
Nem morta. Nem que a paz venha aqui bater na minha porta. Eu não abro. Eu não deixo entrar. A paz está
proibida. Proibida. A paz só aparece nessas horas. Em que a guerra é transferida. Viu? Agora é que a
cidade se organiza. Para salvar a pele de quem? A minha é que não é. Rezar nesse inferno eu já rezo.
Amém. Eu é que não vou acompanhar andor de ninguém. Não vou.
Não vou.
Sabe de uma coisa: eles que se lasquem. É. Eles que caminhem. A tarde inteira. Porque eu já cansei. Eu
não tenho mais paciência. Não tenho. A paz parece que está rindo de mim. Reparou? Com todos os terços.
Com todos os nervos. Dentes estridentes. Reparou? Vou fazer mais o quê, hein?
Hein?
Quem vai ressuscitar meu filho, o Joaquim? Eu é que não vou levar a foto do menino para ficar exibindo
lá embaixo. Carregando na avenida a minha ferida. Marchar não vou, muito menos ao lado de polícia.
Toda vez que vejo a foto do Joaquim, dá um nó. Uma saudade. Sabe? Uma dor na vista. Um cisco no
peito. Sem fim. Uma dor. Dor. Dor. Dor.
Dor.
A minha vontade é sair gritando. Urrando. Soltando tiro. Juro. Meu Jesus! Matando todo mundo. É. Todo
mundo. Eu matava, pode ter certeza. Todo mundo. Mas a paz é que é culpada. Sabe?
A paz é que não deixa.
FREIRE, Marcelino. Da paz. Disponível em:<http://cinismocotidiano.blogspot.com.br/2010/03/abandonos-e-da-paz-marcelino-freire.html>. Acesso: 27 set. 2016.
Assinale a opção em que aparece a mesma figura de linguagem daquela que é encontrada nos seguintes trechos grifados: “Toda vez que vejo a foto do Joaquim, dá um nó. Uma saudade. Sabe? Uma dor na vista. Um cisco no peito.”
TEXTO 1
DA PAZ
Eu não sou da paz.
Não sou mesmo não. Não sou. Paz é coisa de rico. Não visto camiseta nenhuma, não, senhor. Não solto
pomba nenhuma, não, senhor. Não venha me pedir para eu chorar mais. Secou. A paz é uma desgraça.
Uma desgraça.
Carregar essa rosa. Boba na mão. Nada a ver. Vou não. Não vou fazer essa cara. Chapada. Não vou rezar.
Eu é que não vou tomar a praça. Nessa multidão. A paz não resolve nada. A paz marcha. Para aonde
marcha? A paz fica bonita na televisão. Viu aquela atriz? No trio elétrico, aquele ator?
Se quiser, vá você, diacho. Eu é que não vou. Atirar uma lágrima. A paz é muito organizada. Muito
certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E prefeito. E senador. E até
jogador. Vou não.
Não vou.
A paz é perda de tempo. E o tanto que eu tenho para fazer hoje. Arroz e feijão. Arroz e feijão. Sem contar
a costura. Meu juízo não está bom. A paz me deixa doente. Sabe como é? Sem disposição. Sinto muito.
Sinto. A paz não vai estragar o meu domingo.
A paz nunca vem aqui, no pedaço. Reparou? Fica lá. Está vendo? Um bando de gente. Dentro dessa fila
demente. A paz é muito chata. A paz é uma bosta. Não fede nem cheira. A paz parece brincadeira. A paz
é coisa de criança. Tá uma coisa que eu não gosto: esperança. A paz é muito falsa. A paz é uma senhora.
Que nunca olhou na minha cara. Sabe a madame? A paz não mora no meu tanque. A paz é muito branca.
A paz é pálida. A paz precisa de sangue.
Já disse. Não quero. Não vou a nenhum passeio. A nenhuma passeata. Não saio. Não movo uma palha.
Nem morta. Nem que a paz venha aqui bater na minha porta. Eu não abro. Eu não deixo entrar. A paz está
proibida. Proibida. A paz só aparece nessas horas. Em que a guerra é transferida. Viu? Agora é que a
cidade se organiza. Para salvar a pele de quem? A minha é que não é. Rezar nesse inferno eu já rezo.
Amém. Eu é que não vou acompanhar andor de ninguém. Não vou.
Não vou.
Sabe de uma coisa: eles que se lasquem. É. Eles que caminhem. A tarde inteira. Porque eu já cansei. Eu
não tenho mais paciência. Não tenho. A paz parece que está rindo de mim. Reparou? Com todos os terços.
Com todos os nervos. Dentes estridentes. Reparou? Vou fazer mais o quê, hein?
Hein?
Quem vai ressuscitar meu filho, o Joaquim? Eu é que não vou levar a foto do menino para ficar exibindo
lá embaixo. Carregando na avenida a minha ferida. Marchar não vou, muito menos ao lado de polícia.
Toda vez que vejo a foto do Joaquim, dá um nó. Uma saudade. Sabe? Uma dor na vista. Um cisco no
peito. Sem fim. Uma dor. Dor. Dor. Dor.
Dor.
A minha vontade é sair gritando. Urrando. Soltando tiro. Juro. Meu Jesus! Matando todo mundo. É. Todo
mundo. Eu matava, pode ter certeza. Todo mundo. Mas a paz é que é culpada. Sabe?
A paz é que não deixa.
FREIRE, Marcelino. Da paz. Disponível em:<http://cinismocotidiano.blogspot.com.br/2010/03/abandonos-e-da-paz-marcelino-freire.html>. Acesso: 27 set. 2016.
Embora contemporâneo, o TEXTO 1 filia-se a diversas propostas modernistas. Dentre elas,
I. liberdade no uso de sinais de pontuação.
II. preciosismo da linguagem.
III. abordagem da vida cotidiana.
IV. utilização de linguagem com marcas da oralidade.
V. emprego de períodos curtos.
Estão CORRETAS apenas
POR QUE MATAMOS TANTOS JOVENS NEGROS NO BRASIL?
O motivo é estarmos em guerra contra um inimigo definido, as drogas; para salvar a sociedade de seus efeitos adversos, assassinamos quem tentávamos defender (1) O ano de 2013 marcou os 20 anos de dois tristes episódios da história recente: as chacinas de Vigário Geral e da Candelária. O que elas tiveram em comum? Em rompantes de violência extrajudicial, policiais militares mataram inocentes, muitos deles jovens. Ambas são expoentes trágicos de um problema cotidiano. (2) São jovens brasileiros – em sua maioria homens e negros, moradores das periferias de áreas metropolitanas – os mais atingidos pela violência no País. De acordo com o Mapa da Violência 2014, enquanto a taxa de homicídios entre a população não jovem é de 14,9 a cada 100 mil habitantes, entre jovens de 15 a 29 anos ela chega a 42,9, durante o período 1980 a 2011. No mesmo intervalo, homicídios foram responsáveis por 28,5% das mortes de jovens no País, mas foi causa apenas de 2% dos óbitos da população não jovem. Foram mortos, no mesmo período, 20.852 jovens negros, um número três vezes maior que o número de homicídios de jovens brancos. (3) Mais preocupante ainda é a tendência que se anuncia: uma progressiva queda no número de homicídios de jovens brancos, acompanhada do aumento das mortes de jovens negros. (4) Infelizmente, essas estatísticas são velhas conhecidas da juventude brasileira. A questão começou a ser debatida no âmbito do Governo Federal quando foi lançado o Plano Juventude Viva, puxado pelas discussões do Conselho Nacional da Juventude (Conjuve). Estruturado em quatro eixos, o plano visa desconstruir a cultura da violência, transformando os territórios mais afetados nos municípios, adotando uma perspectiva de promoção de direitos da juventude e focando no aperfeiçoamento das instituições como escolas, hospitais, sistema penitenciário, judiciário e polícias para que se sensibilizem do problema. Mas ainda pouco se falava do que movia tal preconceito institucional. (5) Por que matamos tantos jovens homens negros no Brasil? Porque estamos em guerra. Claro, é uma guerra não declarada oficialmente. Mas, se considerarmos a classificação de conflitos como guerras a partir do critério de intensidade de mil mortos por ano, como não desconfiarmos da nossa paz? Só de janeiro a outubro de 2014, no município do Rio de Janeiro, ultrapassamos esse número de mortos. (6) Essa guerra tem um inimigo definido: as drogas. Sob o pretexto de salvar a sociedade – e principalmente nossos jovens – desse mal representado pelas substâncias proibidas, promoveu-se por anos políticas de drogas proibitivas, racistas e violentas. Para evitar os efeitos adversos do consumo de drogas, acabou-se matando quem se queria proteger. A juventude tem arcado com as maiores consequências dessa violência institucional. São jovens negros e pobres os que mais morrem, que mais vão presos e que menos têm acesso à atenção médica adequada. Tornaram-se alvos secundários dessa guerra. (7) É hora de acabar com a guerra às drogas, que volta-se contra nossa juventude. O Conselho Nacional da Juventude comprou essa causa e lançou uma carta em que pede uma urgente reinvenção da política de drogas no País. Nela, condena a política beligerante atual e chama a atenção para a necessidade de conhecer novas práticas que adotem direitos humanos como seu eixo central de atuação, focando a promoção da cidadania, além de apontar para a necessidade de investir em programas preventivos para acabar com esse vetor de promoção da violência contra a juventude. (8) É preciso saudar essa iniciativa, para que ela ganhe peso nas discussões de movimentos sociais e, principalmente, dentro das esferas do Governo Federal. Não há juventude viva sem uma reforma na política de drogas no País. O ano de 2013 ficará na memória pelas chacinas que foram lembradas. Que nos lembremos de 2014 como o ano em que se deu um passo definitivo para deixá-las apenas na memória. PELLEGRINO, Ana Paula. Por que matamos tantos jovens no Brasil? Disponível em <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/por-que-matamos-tantos-jovens-negros-no-brasil- 2387.html>. Acesso: 27 set. 2016.
Como ideia global do TEXTO 2, a autora defende que
TEXTO 2
POR QUE MATAMOS TANTOS JOVENS NEGROS NO BRASIL?
O motivo é estarmos em guerra contra um inimigo definido, as drogas; para salvar a sociedade de seus efeitos adversos, assassinamos quem tentávamos defender
(1) O ano de 2013 marcou os 20 anos de dois tristes episódios da história recente: as chacinas de Vigário Geral e da Candelária. O que elas tiveram em comum? Em rompantes de violência extrajudicial, policiais militares mataram inocentes, muitos deles jovens. Ambas são expoentes trágicos de um problema cotidiano.
(2) São jovens brasileiros – em sua maioria homens e negros, moradores das periferias de áreas metropolitanas – os mais atingidos pela violência no País. De acordo com o Mapa da Violência 2014, enquanto a taxa de homicídios entre a população não jovem é de 14,9 a cada 100 mil habitantes, entre jovens de 15 a 29 anos ela chega a 42,9, durante o período 1980 a 2011. No mesmo intervalo, homicídios foram responsáveis por 28,5% das mortes de jovens no País, mas foi causa apenas de 2% dos óbitos da população não jovem. Foram mortos, no mesmo período, 20.852 jovens negros, um número três vezes maior que o número de homicídios de jovens brancos.
(3) Mais preocupante ainda é a tendência que se anuncia: uma progressiva queda no número de homicídios de jovens brancos, acompanhada do aumento das mortes de jovens negros.
(4) Infelizmente, essas estatísticas são velhas conhecidas da juventude brasileira. A questão começou a ser debatida no âmbito do Governo Federal quando foi lançado o Plano Juventude Viva, puxado pelas discussões do Conselho Nacional da Juventude (Conjuve). Estruturado em quatro eixos, o plano visa desconstruir a cultura da violência, transformando os territórios mais afetados nos municípios, adotando uma perspectiva de promoção de direitos da juventude e focando no aperfeiçoamento das instituições como escolas, hospitais, sistema penitenciário, judiciário e polícias para que se sensibilizem do problema. Mas ainda pouco se falava do que movia tal preconceito institucional.
(5) Por que matamos tantos jovens homens negros no Brasil? Porque estamos em guerra. Claro, é uma guerra não declarada oficialmente. Mas, se considerarmos a classificação de conflitos como guerras a partir do critério de intensidade de mil mortos por ano, como não desconfiarmos da nossa paz? Só de janeiro a outubro de 2014, no município do Rio de Janeiro, ultrapassamos esse número de mortos.
(6) Essa guerra tem um inimigo definido: as drogas. Sob o pretexto de salvar a sociedade – e principalmente nossos jovens – desse mal representado pelas substâncias proibidas, promoveu-se por anos políticas de drogas proibitivas, racistas e violentas. Para evitar os efeitos adversos do consumo de drogas, acabou-se matando quem se queria proteger. A juventude tem arcado com as maiores consequências dessa violência institucional. São jovens negros e pobres os que mais morrem, que mais vão presos e que menos têm acesso à atenção médica adequada. Tornaram-se alvos secundários dessa guerra.
(7) É hora de acabar com a guerra às drogas, que volta-se contra nossa juventude. O Conselho Nacional da Juventude comprou essa causa e lançou uma carta em que pede uma urgente reinvenção da política de drogas no País. Nela, condena a política beligerante atual e chama a atenção para a necessidade de conhecer novas práticas que adotem direitos humanos como seu eixo central de atuação, focando a promoção da cidadania, além de apontar para a necessidade de investir em programas preventivos para acabar com esse vetor de promoção da violência contra a juventude.
(8) É preciso saudar essa iniciativa, para que ela ganhe peso nas discussões de movimentos sociais e, principalmente, dentro das esferas do Governo Federal. Não há juventude viva sem uma reforma na política de drogas no País. O ano de 2013 ficará na memória pelas chacinas que foram lembradas. Que nos lembremos de 2014 como o ano em que se deu um passo definitivo para deixá-las apenas na memória. PELLEGRINO, Ana Paula. Por que matamos tantos jovens no Brasil? Disponível em . Acesso: 27 set. 2016.
A respeito das estratégias de argumentação presentes no TEXTO 2, analise as proposições.
I. O uso do verbo na primeira pessoa do plural já no título “Por que matamos tantos jovens negros no Brasil?” é um recurso que a autora utiliza com o objetivo de fazer com que o leitor compartilhe o questionamento lançado.
II. Em “Infelizmente, essas estatísticas são velhas conhecidas da juventude brasileira.” (parágrafo 04), através do termo grifado, a autora partilha um sentimento com o leitor no intuito de provocar uma identificação.
III. Ao utilizar os dados quantitativos e estatísticos, no segundo parágrafo, a autora busca conferir credibilidade ao texto perante seus leitores.
IV. Trechos como “É hora de acabar com a guerra às drogas” (parágrafo 07) e “É preciso saudar essa iniciativa” (parágrafo 07) guardam relação com a injunção, pois tendem a indicar ao leitor uma maneira de agir/pensar.
V. Como estratégia argumentativa, a autora utiliza vários trechos narrativos como “A juventude tem arcado com as maiores consequências dessa violência institucional.” (parágrafo 06) a fim de apelar para a experiência cotidiana vivenciada pelo leitor.
Estão CORRETAS apenas