UECE 2018
78 Questões
TEXTO
Não se zanguem
[1] A cartomancia entrou decididamente na vida
nacional.
Os anúncios dos jornais todos os dias
proclamam aos quatro ventos as virtudes
[5] miríficas das pitonisas.
Não tenho absolutamente nenhuma ojeriza
pelas adivinhas; acho até que são bastante
úteis, pois mantêm e sustentam no nosso
espírito essa coisa que é mais necessária à
[10] nossa vida que o próprio pão: a ilusão.
Noto, porém, que no arraial dessa gente que
lida com o destino, reina a discórdia, tal e qual
no campo de Agramante.
A política, que sempre foi a inspiradora de
[15] azedas polêmicas, deixou um instante de sê-lo
e passou a vara à cartomancia.
Duas senhoras, ambas ultravidentes,
extralúcidas e não sei que mais, aborreceram
se e anda uma delas a dizer da outra cobras e
[20] lagartos.
Como se pode compreender que duas
sacerdotisas do invisível não se entendam e
deem ao público esse espetáculo de brigas tão
pouco próprio a quem recebeu dos altos
[25] poderes celestiais virtudes excepcionais?
A posse de tais virtudes devia dar-lhes uma
mansuetude, uma tolerância, um abandono
dos interesses terrestres, de forma a impedir
que o azedume fosse logo abafado nas suas
[30] almas extraordinárias e não rebentasse em
disputas quase sangrentas.
Uma cisão, uma cisma nessa velha religião de
adivinhar o futuro, é fato por demais grave e
pode ter consequências desastrosas.
[35] Suponham que F. tenta saber da cartomante X
se coisa essencial à sua vida vai dar-se e a
cartomante, que é dissidente da ortodoxia, por
pirraça diz que não.
O pobre homem aborrece-se, vai para casa de
[40] mau humor e é capaz de suicidar-se.
O melhor, para o interesse dessa nossa pobre
humanidade, sempre necessitada de ilusões,
venham de onde vier, é que as nossas
cartomantes vivam em paz e se entendam
[45] para nos ditar bons horóscopos.
(BARRETO, Lima. Vida urbana: artigos e crônicas. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1961.)
A referenciação textual pode ser definida como a retomada de termos e ideias que garantem a coesão e a progressão de sentido do texto por meio de elementos linguísticos. Um exemplo desse procedimento, ao longo da crônica de Lima Barreto, se dá com o uso do termo “cartomantes”, que é retomado por alguns referentes textuais, estabelecendo diferentes sentidos com estes referentes. Atente ao que se diz a seguir a respeito disso:
I. Ao substituir “cartomantes” pelo termo “pitonisas” (linha 05), o autor pretende mostrar que o trabalho da cartomancia tem uma longa tradição histórica.
II. Ao afirmar, no terceiro parágrafo, que não tem “nenhuma ojeriza pelas adivinhas” (linhas 06-07), o autor recupera cartomantes pelo termo adivinhas, justificando que a prática de adivinhar o futuro cumpre sua função útil e necessária no cotidiano das pessoas, que é a função de iludir.
III. Ao se referir às “cartomantes” pela expressão “dessa gente que lida com o destino” (linhas 11-12), o autor se apresenta numa relação afetuosa de muita proximidade com as cartomantes.
IV. Ao empregar o referente “duas sacerdotisas do invisível” (linhas 21-22) para fazer alusão às “duas senhoras” (cartomantes) (linha 17), o autor procura salientar, ironicamente, a dimensão religiosa do ofício profético da cartomancia.
Está correto o que se afirma em
TEXTO
Não se zanguem
[1] A cartomancia entrou decididamente na vida
nacional.
Os anúncios dos jornais todos os dias
proclamam aos quatro ventos as virtudes
[5] miríficas das pitonisas.
Não tenho absolutamente nenhuma ojeriza
pelas adivinhas; acho até que são bastante
úteis, pois mantêm e sustentam no nosso
espírito essa coisa que é mais necessária à
[10] nossa vida que o próprio pão: a ilusão.
Noto, porém, que no arraial dessa gente que
lida com o destino, reina a discórdia, tal e qual
no campo de Agramante.
A política, que sempre foi a inspiradora de
[15] azedas polêmicas, deixou um instante de sê-lo
e passou a vara à cartomancia.
Duas senhoras, ambas ultravidentes,
extralúcidas e não sei que mais, aborreceram
se e anda uma delas a dizer da outra cobras e
[20] lagartos.
Como se pode compreender que duas
sacerdotisas do invisível não se entendam e
deem ao público esse espetáculo de brigas tão
pouco próprio a quem recebeu dos altos
[25] poderes celestiais virtudes excepcionais?
A posse de tais virtudes devia dar-lhes uma
mansuetude, uma tolerância, um abandono
dos interesses terrestres, de forma a impedir
que o azedume fosse logo abafado nas suas
[30] almas extraordinárias e não rebentasse em
disputas quase sangrentas.
Uma cisão, uma cisma nessa velha religião de
adivinhar o futuro, é fato por demais grave e
pode ter consequências desastrosas.
[35] Suponham que F. tenta saber da cartomante X
se coisa essencial à sua vida vai dar-se e a
cartomante, que é dissidente da ortodoxia, por
pirraça diz que não.
O pobre homem aborrece-se, vai para casa de
[40] mau humor e é capaz de suicidar-se.
O melhor, para o interesse dessa nossa pobre
humanidade, sempre necessitada de ilusões,
venham de onde vier, é que as nossas
cartomantes vivam em paz e se entendam
[45] para nos ditar bons horóscopos.
(BARRETO, Lima. Vida urbana: artigos e crônicas. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1961.)
Observando com atenção a linguagem empregada na crônica de Lima Barreto, é correto afirmar que ela revela fundamentalmente
TEXTO 1
Não se zanguem
[1] A cartomancia entrou decididamente na vida
nacional.
Os anúncios dos jornais todos os dias
proclamam aos quatro ventos as virtudes
[5] miríficas das pitonisas.
Não tenho absolutamente nenhuma ojeriza
pelas adivinhas; acho até que são bastante
úteis, pois mantêm e sustentam no nosso
espírito essa coisa que é mais necessária à
[10] nossa vida que o próprio pão: a ilusão.
Noto, porém, que no arraial dessa gente que
lida com o destino, reina a discórdia, tal e qual
no campo de Agramante.
A política, que sempre foi a inspiradora de
[15] azedas polêmicas, deixou um instante de sê-lo
e passou a vara à cartomancia.
Duas senhoras, ambas ultravidentes,
extralúcidas e não sei que mais, aborreceram
se e anda uma delas a dizer da outra cobras e
[20] lagartos.
Como se pode compreender que duas
sacerdotisas do invisível não se entendam e
deem ao público esse espetáculo de brigas tão
pouco próprio a quem recebeu dos altos
[25] poderes celestiais virtudes excepcionais?
A posse de tais virtudes devia dar-lhes uma
mansuetude, uma tolerância, um abandono
dos interesses terrestres, de forma a impedir
que o azedume fosse logo abafado nas suas
[30] almas extraordinárias e não rebentasse em
disputas quase sangrentas.
Uma cisão, uma cisma nessa velha religião de
adivinhar o futuro, é fato por demais grave e
pode ter consequências desastrosas.
[35] Suponham que F. tenta saber da cartomante X
se coisa essencial à sua vida vai dar-se e a
cartomante, que é dissidente da ortodoxia, por
pirraça diz que não.
O pobre homem aborrece-se, vai para casa de
[40] mau humor e é capaz de suicidar-se.
O melhor, para o interesse dessa nossa pobre
humanidade, sempre necessitada de ilusões,
venham de onde vier, é que as nossas
cartomantes vivam em paz e se entendam
[45] para nos ditar bons horóscopos.
(BARRETO, Lima. Vida urbana: artigos e crônicas. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1961.)
A crônica Não se zanguem serve para mostrar muitas características que podem ser encontradas na literatura de Lima Barreto de forma geral. Assinale a opção que NÃO condiz com essas características.
TEXTO 2
Transferência de Neymar ao PSG é golpe de ‘soft power’ do Catar a países do Golfo, dizem especialistas
A transferência do fenômeno brasileiro
Neymar ao Paris Saint-Germain (PSG)
representa uma estratégia de marketing e
um golpe de ‘soft power’ do Catar contra os
[50] países do Golfo que cortaram relações
diplomáticas com o emirado. Esta é a análise
de especialistas ouvidos pela agência de
notícias France Presse e do comentarista da
GloboNews, Marcelo Lins.
[55] Neymar se tornou o jogador mais caro da
história do futebol, com o pagamento da
cláusula de rescisão no valor de € 222
milhões (R$ 812 milhões).
Segundo Mathieu Guidere, especialista em
[60] geopolítica do mundo árabe consultado pela
AFP, o anúncio da transferência do jogador
ao PSG, que é de um fundo de investimentos
do Catar, “foi testado entre catarianos como
uma espécie de estratégia de comunicação
[65] que ofuscaria o debate em torno de outras
considerações, como o terrorismo”.
Marcelo Lins, comentarista da GloboNews,
afirmou que a transferência beneficia a
imagem do Catar. “Um pequeno país
[70] riquíssimo em petróleo, do Golfo, que bota
tanto dinheiro para dar alegria a uma torcida,
ou a milhões de torcedores espalhados pelo
mundo... você tem uma volta disso na
imagem do Catar, que é muito grande”, disse
[75] à GloboNews. “É uma grande jogada de
marketing do Catar como um todo”,
acrescentou.
O Catar enfrenta a sua pior crise política em
décadas, com a Arábia Saudita e outros
[80] países do Golfo tendo cortado relações
diplomáticas com o emirado por acusações
de apoio a grupos terroristas. O Catar nega
as acusações e diz que o objetivo é
prejudicar o emirado rico em gás.
[85] Com a transferência de Neymar, Doha pode
estar de olho em investir em ‘soft power’. O
conceito de ‘soft power’ (‘poder suave’, em
tradução livre) foi elaborado para definir a
influência de países nas relações
[90] internacionais por meio de investimentos em
ações positivas.
“Esse é um golpe de ‘soft power’. O Catar
precisa demonstrar ao mundo que, apesar de
todas as acusações, é o país mais resiliente
[95] no Oriente Médio”, disse à AFP Andreas
Krieg, analista de risco político no King’s
College de Londres. “Ter o melhor jogador do
mundo mostra ao resto do mundo que se o
Catar é determinado, eles ainda têm os
[100] maiores recursos para tirar e, se necessário,
usar o dinheiro que têm para promover a sua
agenda”, acrescentou.
O custo da transferência de Neymar “envia
um sinal muito forte para o mundo esportivo
[105] e um sinal muito forte de desafio contra os
Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita”,
disse Krieg. “Eles queriam esse jogador e
usaram o dinheiro para comprá-lo a qualquer
preço”.
[...]
https://g1.globo.com/mundo/noticia/transferenciade-neymar-ao-psg-e-golpe-de-soft-power-docatar-a-paises-do-golfo-dizem-especialistas.ghtml
A notícia é tomada como um gênero textual da esfera jornalística que tem como objetivo divulgar temas da atualidade de maneira imparcial. Na notícia acima, este objetivo é alcançado pelo enunciador por meio de alguns recursos linguísticos textuais, EXCETO pelo(a)
TEXTO 2
Transferência de Neymar ao PSG é golpe de ‘soft power’ do Catar a países do Golfo, dizem especialistas
A transferência do fenômeno brasileiro
Neymar ao Paris Saint-Germain (PSG)
representa uma estratégia de marketing e
um golpe de ‘soft power’ do Catar contra os
[50] países do Golfo que cortaram relações
diplomáticas com o emirado. Esta é a análise
de especialistas ouvidos pela agência de
notícias France Presse e do comentarista da
GloboNews, Marcelo Lins.
[55] Neymar se tornou o jogador mais caro da
história do futebol, com o pagamento da
cláusula de rescisão no valor de € 222
milhões (R$ 812 milhões).
Segundo Mathieu Guidere, especialista em
[60] geopolítica do mundo árabe consultado pela
AFP, o anúncio da transferência do jogador
ao PSG, que é de um fundo de investimentos
do Catar, “foi testado entre catarianos como
uma espécie de estratégia de comunicação
[65] que ofuscaria o debate em torno de outras
considerações, como o terrorismo”.
Marcelo Lins, comentarista da GloboNews,
afirmou que a transferência beneficia a
imagem do Catar. “Um pequeno país
[70] riquíssimo em petróleo, do Golfo, que bota
tanto dinheiro para dar alegria a uma torcida,
ou a milhões de torcedores espalhados pelo
mundo... você tem uma volta disso na
imagem do Catar, que é muito grande”, disse
[75] à GloboNews. “É uma grande jogada de
marketing do Catar como um todo”,
acrescentou.
O Catar enfrenta a sua pior crise política em
décadas, com a Arábia Saudita e outros
[80] países do Golfo tendo cortado relações
diplomáticas com o emirado por acusações
de apoio a grupos terroristas. O Catar nega
as acusações e diz que o objetivo é
prejudicar o emirado rico em gás.
[85] Com a transferência de Neymar, Doha pode
estar de olho em investir em ‘soft power’. O
conceito de ‘soft power’ (‘poder suave’, em
tradução livre) foi elaborado para definir a
influência de países nas relações
[90] internacionais por meio de investimentos em
ações positivas.
“Esse é um golpe de ‘soft power’. O Catar
precisa demonstrar ao mundo que, apesar de
todas as acusações, é o país mais resiliente
[95] no Oriente Médio”, disse à AFP Andreas
Krieg, analista de risco político no King’s
College de Londres. “Ter o melhor jogador do
mundo mostra ao resto do mundo que se o
Catar é determinado, eles ainda têm os
[100] maiores recursos para tirar e, se necessário,
usar o dinheiro que têm para promover a sua
agenda”, acrescentou.
O custo da transferência de Neymar “envia
um sinal muito forte para o mundo esportivo
[105] e um sinal muito forte de desafio contra os
Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita”,
disse Krieg. “Eles queriam esse jogador e
usaram o dinheiro para comprá-lo a qualquer
preço”.
[...]
https://g1.globo.com/mundo/noticia/transferenciade-neymar-ao-psg-e-golpe-de-soft-power-docatar-a-paises-do-golfo-dizem-especialistas.ghtml
Sobre o uso de expressões apositivas no Texto 2, é INCORRETO afirmar que
TEXTO 2
Transferência de Neymar ao PSG é golpe de ‘soft power’ do Catar a países do Golfo, dizem especialistas
A transferência do fenômeno brasileiro
Neymar ao Paris Saint-Germain (PSG)
representa uma estratégia de marketing e
um golpe de ‘soft power’ do Catar contra os
[50] países do Golfo que cortaram relações
diplomáticas com o emirado. Esta é a análise
de especialistas ouvidos pela agência de
notícias France Presse e do comentarista da
GloboNews, Marcelo Lins.
[55] Neymar se tornou o jogador mais caro da
história do futebol, com o pagamento da
cláusula de rescisão no valor de € 222
milhões (R$ 812 milhões).
Segundo Mathieu Guidere, especialista em
[60] geopolítica do mundo árabe consultado pela
AFP, o anúncio da transferência do jogador
ao PSG, que é de um fundo de investimentos
do Catar, “foi testado entre catarianos como
uma espécie de estratégia de comunicação
[65] que ofuscaria o debate em torno de outras
considerações, como o terrorismo”.
Marcelo Lins, comentarista da GloboNews,
afirmou que a transferência beneficia a
imagem do Catar. “Um pequeno país
[70] riquíssimo em petróleo, do Golfo, que bota
tanto dinheiro para dar alegria a uma torcida,
ou a milhões de torcedores espalhados pelo
mundo... você tem uma volta disso na
imagem do Catar, que é muito grande”, disse
[75] à GloboNews. “É uma grande jogada de
marketing do Catar como um todo”,
acrescentou.
O Catar enfrenta a sua pior crise política em
décadas, com a Arábia Saudita e outros
[80] países do Golfo tendo cortado relações
diplomáticas com o emirado por acusações
de apoio a grupos terroristas. O Catar nega
as acusações e diz que o objetivo é
prejudicar o emirado rico em gás.
[85] Com a transferência de Neymar, Doha pode
estar de olho em investir em ‘soft power’. O
conceito de ‘soft power’ (‘poder suave’, em
tradução livre) foi elaborado para definir a
influência de países nas relações
[90] internacionais por meio de investimentos em
ações positivas.
“Esse é um golpe de ‘soft power’. O Catar
precisa demonstrar ao mundo que, apesar de
todas as acusações, é o país mais resiliente
[95] no Oriente Médio”, disse à AFP Andreas
Krieg, analista de risco político no King’s
College de Londres. “Ter o melhor jogador do
mundo mostra ao resto do mundo que se o
Catar é determinado, eles ainda têm os
[100] maiores recursos para tirar e, se necessário,
usar o dinheiro que têm para promover a sua
agenda”, acrescentou.
O custo da transferência de Neymar “envia
um sinal muito forte para o mundo esportivo
[105] e um sinal muito forte de desafio contra os
Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita”,
disse Krieg. “Eles queriam esse jogador e
usaram o dinheiro para comprá-lo a qualquer
preço”.
[...]
https://g1.globo.com/mundo/noticia/transferenciade-neymar-ao-psg-e-golpe-de-soft-power-docatar-a-paises-do-golfo-dizem-especialistas.ghtml
No enunciado “O Catar precisa demonstrar ao mundo que, apesar de todas as acusações, é o país mais resiliente no Oriente Médio” (linhas 92-95), a expressão parentética “apesar de todas as acusações” estabelece com a oração com a qual está ligada uma relação de