UECE 2013
66 Questões
TEXTO I
[1] Também é característico do regime
patriarcal o homem fazer da mulher uma
criatura tão diferente dele quanto possível. Ele
o sexo forte, ela o fraco; ele o sexo nobre, ela o
[5] belo.
Mas a beleza que se quer da mulher, dentro
do sistema patriarcal, é uma beleza meio
mórbida. A menina de tipo franzino, quase
doente. Ou então a senhora gorda, mole,
[10] caseira, maternal, coxas e nádegas largas.
Nada do tipo vigoroso e ágil, aproximando-se
da figura do rapaz.
Talvez nos motivos psíquicos da preferência
por aquele tipo de mulher mole e gorda se
[15] encontre mais de uma raiz econômica:
principalmente o desejo, dissimulado, é claro,
de afastar-se a possível competição da mulher
no domínio, econômico e político.
À exploração da mulher pelo homem,
[20] característica de outros tipos de sociedade ou
organização social, mas notadamente do tipo
patriarcal-agrário — tal como o que dominou
longo tempo no Brasil — convém a extrema
especialização ou diferenciação dos sexos. Por
[25] essa diferenciação exagerada, se justifica o
chamado padrão duplo de moralidade, dando
ao homem todas as liberdades de gozo físico do
amor e limitando o da mulher a ir para a cama
com o marido, toda santa noite que ele estiver
[30] disposto a procriar.
O padrão duplo de moralidade característico
do sistema patriarcal limita as oportunidades da
mulher ao serviço e às artes domésticas. E uma
vez por outra, em um tipo de sociedade católica
[35] como a brasileira, ao contato com o confessor.
Aliás, pode-se atribuir ao confessionário, nas
sociedades patriarcais em que se verifique
extrema reclusão ou opressão da mulher,
função utilíssima de higiene mental, ou melhor,
[40] de saneamento mental.
Muita mulher brasileira deve se ter salvado
da loucura, que parece haver sido mais
frequente entre as mulheres das colônias
puritanas da América do que entre nós, graças
[45] ao confessionário.
Gilberto Freyre. Sobrados e mocambos. Cap. IV. pág. 207-208. Texto adaptado.
Este texto inicia o quarto capítulo do livro de Gilberto Freire, Sobrados e mocambos. O capítulo começa com a partícula “também”, o que sugere que há, entre o que vai ser dito e o que foi dito, uma ideia de
TEXTO I
[1] Também é característico do regime
patriarcal o homem fazer da mulher uma
criatura tão diferente dele quanto possível. Ele
o sexo forte, ela o fraco; ele o sexo nobre, ela o
[5] belo.
Mas a beleza que se quer da mulher, dentro
do sistema patriarcal, é uma beleza meio
mórbida. A menina de tipo franzino, quase
doente. Ou então a senhora gorda, mole,
[10] caseira, maternal, coxas e nádegas largas.
Nada do tipo vigoroso e ágil, aproximando-se
da figura do rapaz.
Talvez nos motivos psíquicos da preferência
por aquele tipo de mulher mole e gorda se
[15] encontre mais de uma raiz econômica:
principalmente o desejo, dissimulado, é claro,
de afastar-se a possível competição da mulher
no domínio, econômico e político.
À exploração da mulher pelo homem,
[20] característica de outros tipos de sociedade ou
organização social, mas notadamente do tipo
patriarcal-agrário — tal como o que dominou
longo tempo no Brasil — convém a extrema
especialização ou diferenciação dos sexos. Por
[25] essa diferenciação exagerada, se justifica o
chamado padrão duplo de moralidade, dando
ao homem todas as liberdades de gozo físico do
amor e limitando o da mulher a ir para a cama
com o marido, toda santa noite que ele estiver
[30] disposto a procriar.
O padrão duplo de moralidade característico
do sistema patriarcal limita as oportunidades da
mulher ao serviço e às artes domésticas. E uma
vez por outra, em um tipo de sociedade católica
[35] como a brasileira, ao contato com o confessor.
Aliás, pode-se atribuir ao confessionário, nas
sociedades patriarcais em que se verifique
extrema reclusão ou opressão da mulher,
função utilíssima de higiene mental, ou melhor,
[40] de saneamento mental.
Muita mulher brasileira deve se ter salvado
da loucura, que parece haver sido mais
frequente entre as mulheres das colônias
puritanas da América do que entre nós, graças
[45] ao confessionário.
Gilberto Freyre. Sobrados e mocambos. Cap. IV. pág. 207-208. Texto adaptado.
O primeiro parágrafo do texto (linhas 1-5) é formado de dois períodos. O segundo período, em relação ao primeiro, desempenha mais de uma função discursiva. Dentre essas funções, a única que o segundo período NÃO desempenha é a função de
TEXTO I
[1] Também é característico do regime
patriarcal o homem fazer da mulher uma
criatura tão diferente dele quanto possível. Ele
o sexo forte, ela o fraco; ele o sexo nobre, ela o
[5] belo.
Mas a beleza que se quer da mulher, dentro
do sistema patriarcal, é uma beleza meio
mórbida. A menina de tipo franzino, quase
doente. Ou então a senhora gorda, mole,
[10] caseira, maternal, coxas e nádegas largas.
Nada do tipo vigoroso e ágil, aproximando-se
da figura do rapaz.
Talvez nos motivos psíquicos da preferência
por aquele tipo de mulher mole e gorda se
[15] encontre mais de uma raiz econômica:
principalmente o desejo, dissimulado, é claro,
de afastar-se a possível competição da mulher
no domínio, econômico e político.
À exploração da mulher pelo homem,
[20] característica de outros tipos de sociedade ou
organização social, mas notadamente do tipo
patriarcal-agrário — tal como o que dominou
longo tempo no Brasil — convém a extrema
especialização ou diferenciação dos sexos. Por
[25] essa diferenciação exagerada, se justifica o
chamado padrão duplo de moralidade, dando
ao homem todas as liberdades de gozo físico do
amor e limitando o da mulher a ir para a cama
com o marido, toda santa noite que ele estiver
[30] disposto a procriar.
O padrão duplo de moralidade característico
do sistema patriarcal limita as oportunidades da
mulher ao serviço e às artes domésticas. E uma
vez por outra, em um tipo de sociedade católica
[35] como a brasileira, ao contato com o confessor.
Aliás, pode-se atribuir ao confessionário, nas
sociedades patriarcais em que se verifique
extrema reclusão ou opressão da mulher,
função utilíssima de higiene mental, ou melhor,
[40] de saneamento mental.
Muita mulher brasileira deve se ter salvado
da loucura, que parece haver sido mais
frequente entre as mulheres das colônias
puritanas da América do que entre nós, graças
[45] ao confessionário.
Gilberto Freyre. Sobrados e mocambos. Cap. IV. pág. 207-208. Texto adaptado.
O início do segundo parágrafo com um “mas” (linha 6) indica uma oposição
TEXTO I
[1] Também é característico do regime
patriarcal o homem fazer da mulher uma
criatura tão diferente dele quanto possível. Ele
o sexo forte, ela o fraco; ele o sexo nobre, ela o
[5] belo.
Mas a beleza que se quer da mulher, dentro
do sistema patriarcal, é uma beleza meio
mórbida. A menina de tipo franzino, quase
doente. Ou então a senhora gorda, mole,
[10] caseira, maternal, coxas e nádegas largas.
Nada do tipo vigoroso e ágil, aproximando-se
da figura do rapaz.
Talvez nos motivos psíquicos da preferência
por aquele tipo de mulher mole e gorda se
[15] encontre mais de uma raiz econômica:
principalmente o desejo, dissimulado, é claro,
de afastar-se a possível competição da mulher
no domínio, econômico e político.
À exploração da mulher pelo homem,
[20] característica de outros tipos de sociedade ou
organização social, mas notadamente do tipo
patriarcal-agrário — tal como o que dominou
longo tempo no Brasil — convém a extrema
especialização ou diferenciação dos sexos. Por
[25] essa diferenciação exagerada, se justifica o
chamado padrão duplo de moralidade, dando
ao homem todas as liberdades de gozo físico do
amor e limitando o da mulher a ir para a cama
com o marido, toda santa noite que ele estiver
[30] disposto a procriar.
O padrão duplo de moralidade característico
do sistema patriarcal limita as oportunidades da
mulher ao serviço e às artes domésticas. E uma
vez por outra, em um tipo de sociedade católica
[35] como a brasileira, ao contato com o confessor.
Aliás, pode-se atribuir ao confessionário, nas
sociedades patriarcais em que se verifique
extrema reclusão ou opressão da mulher,
função utilíssima de higiene mental, ou melhor,
[40] de saneamento mental.
Muita mulher brasileira deve se ter salvado
da loucura, que parece haver sido mais
frequente entre as mulheres das colônias
puritanas da América do que entre nós, graças
[45] ao confessionário.
Gilberto Freyre. Sobrados e mocambos. Cap. IV. pág. 207-208. Texto adaptado.
Atente para o que se diz sobre as ideias do terceiro parágrafo.
I. O econômico pode estar na base do psíquico, no que diz respeito à preferência pelo “tipo de mulher mole e gorda”.
II. Havia a certeza, por parte do homem, de que a mulher lhe seria uma ameaça à hegemonia na sociedade, no plano político e econômico.
III. Na afirmação de que o desejo de afastar a competição da mulher seria dissimulado, está pressuposta a ideia de que tornar claro esse desejo evidenciaria uma provável fraqueza do homem.
Está correto o que se diz em
TEXTO I
[1] Também é característico do regime
patriarcal o homem fazer da mulher uma
criatura tão diferente dele quanto possível. Ele
o sexo forte, ela o fraco; ele o sexo nobre, ela o
[5] belo.
Mas a beleza que se quer da mulher, dentro
do sistema patriarcal, é uma beleza meio
mórbida. A menina de tipo franzino, quase
doente. Ou então a senhora gorda, mole,
[10] caseira, maternal, coxas e nádegas largas.
Nada do tipo vigoroso e ágil, aproximando-se
da figura do rapaz.
Talvez nos motivos psíquicos da preferência
por aquele tipo de mulher mole e gorda se
[15] encontre mais de uma raiz econômica:
principalmente o desejo, dissimulado, é claro,
de afastar-se a possível competição da mulher
no domínio, econômico e político.
À exploração da mulher pelo homem,
[20] característica de outros tipos de sociedade ou
organização social, mas notadamente do tipo
patriarcal-agrário — tal como o que dominou
longo tempo no Brasil — convém a extrema
especialização ou diferenciação dos sexos. Por
[25] essa diferenciação exagerada, se justifica o
chamado padrão duplo de moralidade, dando
ao homem todas as liberdades de gozo físico do
amor e limitando o da mulher a ir para a cama
com o marido, toda santa noite que ele estiver
[30] disposto a procriar.
O padrão duplo de moralidade característico
do sistema patriarcal limita as oportunidades da
mulher ao serviço e às artes domésticas. E uma
vez por outra, em um tipo de sociedade católica
[35] como a brasileira, ao contato com o confessor.
Aliás, pode-se atribuir ao confessionário, nas
sociedades patriarcais em que se verifique
extrema reclusão ou opressão da mulher,
função utilíssima de higiene mental, ou melhor,
[40] de saneamento mental.
Muita mulher brasileira deve se ter salvado
da loucura, que parece haver sido mais
frequente entre as mulheres das colônias
puritanas da América do que entre nós, graças
[45] ao confessionário.
Gilberto Freyre. Sobrados e mocambos. Cap. IV. pág. 207-208. Texto adaptado.
Leia o que é dito sobre o padrão duplo de moralidade de que fala o texto.
I. É um tipo de moralidade que se volta mais para o campo sexual.
II. As oportunidades da mulher na sociedade independem desse tipo de moralidade.
III. O maior índice de loucura feminina foi registrado nas colônias puritanas da América porque as mulheres não podiam contar com a confissão.
Está correto o que se diz apenas em
TEXTO I
[1] Também é característico do regime
patriarcal o homem fazer da mulher uma
criatura tão diferente dele quanto possível. Ele
o sexo forte, ela o fraco; ele o sexo nobre, ela o
[5] belo.
Mas a beleza que se quer da mulher, dentro
do sistema patriarcal, é uma beleza meio
mórbida. A menina de tipo franzino, quase
doente. Ou então a senhora gorda, mole,
[10] caseira, maternal, coxas e nádegas largas.
Nada do tipo vigoroso e ágil, aproximando-se
da figura do rapaz.
Talvez nos motivos psíquicos da preferência
por aquele tipo de mulher mole e gorda se
[15] encontre mais de uma raiz econômica:
principalmente o desejo, dissimulado, é claro,
de afastar-se a possível competição da mulher
no domínio, econômico e político.
À exploração da mulher pelo homem,
[20] característica de outros tipos de sociedade ou
organização social, mas notadamente do tipo
patriarcal-agrário — tal como o que dominou
longo tempo no Brasil — convém a extrema
especialização ou diferenciação dos sexos. Por
[25] essa diferenciação exagerada, se justifica o
chamado padrão duplo de moralidade, dando
ao homem todas as liberdades de gozo físico do
amor e limitando o da mulher a ir para a cama
com o marido, toda santa noite que ele estiver
[30] disposto a procriar.
O padrão duplo de moralidade característico
do sistema patriarcal limita as oportunidades da
mulher ao serviço e às artes domésticas. E uma
vez por outra, em um tipo de sociedade católica
[35] como a brasileira, ao contato com o confessor.
Aliás, pode-se atribuir ao confessionário, nas
sociedades patriarcais em que se verifique
extrema reclusão ou opressão da mulher,
função utilíssima de higiene mental, ou melhor,
[40] de saneamento mental.
Muita mulher brasileira deve se ter salvado
da loucura, que parece haver sido mais
frequente entre as mulheres das colônias
puritanas da América do que entre nós, graças
[45] ao confessionário.
Gilberto Freyre. Sobrados e mocambos. Cap. IV. pág. 207-208. Texto adaptado.
Sobre o período — “À exploração da mulher pelo homem, característica de outros tipos de sociedade ou organização social, mas notadamente do tipo patriarcal-agrário — tal como o que dominou longo tempo no Brasil — convém a extrema especialização ou diferenciação dos sexos” (linhas 19-24) só NÃO se pode dizer que