IFSudMinas 2013/2
60 Questões
Leia, atentamente, o texto e responda, a seguir, à questão.
TEXTO
O Gigolô das palavras
Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa
mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da
Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu
gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando
[5] opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas
afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até
preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos
desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem
entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
[10] Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser
julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os
vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios.
Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é
certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir,
[15] mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A
Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a
necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que
a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação
pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para
[20] poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo,
mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem
futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores.E adverti que minha implicância com
a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português.
[25] Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida
escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas
custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu
conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço
delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me
[30] deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas
origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo
em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do
povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão
[35] ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a
deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com
que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da
impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma
conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. “O gigolô das palavras”. In: Mais comédias para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
Leia, atentamente, as seguintes proposições acerca da crônica “O Gigolô das palavras”:
I. Luís Fernando Veríssimo considera-se um “gigolô das palavras” em sua arte de escrever, o que permite ao leitor inferir pelo contexto que é preciso que haja uma relação íntima e, ao mesmo tempo, respeitosa com as palavras.
II. A expressão “na boca do povo”, utilizada por Veríssimo, é uma gíria, atribuída a palavras cujo uso tornou-se frequente em situações de comunicação informal.
III. De acordo com Veríssimo, a gramática é o esqueleto da língua, e, portanto, quando tratada isoladamente, torna-se elemento dispensável a uma comunicação eficaz.
IV. Segundo Veríssimo, a linguagem deve ser um meio de comunicação, não advindo de padrões gramaticais atrelados em nossa mente, e sim da forma como interagimos e nos entendemos através de nosso próprio linguajar.
V. Pelo contexto de “O Gigolô das palavras”, infere-se que o domínio das regras e normas da gramática, pelo ponto de vista do autor deste texto, é indispensável a um profissional, como ele, da área da comunicação oral ou escrita.
Marque a alternativa CORRETA:
Leia, atentamente, o texto e responda, a seguir, à questão.
TEXTO
O Gigolô das palavras
Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa
mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da
Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu
gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando
[5] opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas
afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até
preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos
desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem
entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
[10] Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser
julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os
vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios.
Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é
certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir,
[15] mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A
Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a
necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que
a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação
pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para
[20] poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo,
mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem
futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores.E adverti que minha implicância com
a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português.
[25] Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida
escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas
custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu
conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço
delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me
[30] deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas
origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo
em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do
povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão
[35] ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a
deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com
que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da
impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma
conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. “O gigolô das palavras”. In: Mais comédias para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
Ao expressar, em diversos trechos do texto “O Gigolô das palavras”, sua concepção em torno do que seja LÍNGUA e GRAMÁTICA, Luís Fernando Veríssimo empregou as palavras abaixo em destaque para referir-se à gramática normativa, EXCETO em:
TEXTO
AULA DE PORTUGUÊS
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é que sabe
e vai desmatando
o Amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, o mistério.
ANDRADE, Carlos Drummond de. “Aula de português”. In: Boitempo II. Rio de Janeiro: Record, 1999.
Assinale a alternativa na qual se nomeia, CORRETAMENTE, a figura de linguagem utilizada pelo autor nos versos a seguir, extraídos do poema “Aula de português”.
“Figuras de gramática, esquipáticas
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.”
TEXTO
AULA DE PORTUGUÊS
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é que sabe
e vai desmatando
o Amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, o mistério.
ANDRADE, Carlos Drummond de. “Aula de português”. In: Boitempo II. Rio de Janeiro: Record, 1999.
Marque V para verdadeiro e F para falso nas seguintes afirmações.
I. Na primeira e na segunda estrofe, o eu lírico opõe duas variedades linguísticas: a oral, quando afirma “A linguagem na ponta da língua”, e a escrita, ao expressar “ Na superfície estrelada de letras”.
II. Na terceira estrofe do poema “Aula de português”, Drummond atribui às figuras de linguagem o adjetivo “esquipáticas”, o qual, levando-se em conta o pensar do poeta, permite ao leitor apreendê-la como uma derivação da fusão das palavras “esquisitas” e “antipáticas”.
III. O eu lírico, após definir os dois níveis de linguagem: a escrita e a oral, considerou a linguagem escrita (mais formal) superior à oral, visto que afirma que o domínio das regras da língua portuguesa que o professor Carlos Góis possui é capaz de colocá-lo em um patamar de conhecimento acima da ignorância do eu lírico, o que se comprova na terceira estrofe: “Professor Carlos Góis, ele é que sabe / e vai desmatando / o Amazonas de minha ignorância.”
IV. O eu lírico, na quarta estrofe do poema “Aula de português”, demonstra não haver compreendido uma das linguagens que compõe a língua portuguesa, ao afirmar: “Já esqueci a língua em que comia, / em que pedia para ir lá fora,/ em que levava e dava pontapé”, visto que esta língua “em que dava pontapé” refere-se à gramática normativa, a qual ele critica e considera um mistério.
Assinale a sequência CORRETA:
Leia, atentamente, os textos e responda, a seguir, à questão.
TEXTO
O Gigolô das palavras
Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa
mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da
Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu
gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando
[5] opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas
afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até
preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos
desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem
entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
[10] Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser
julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os
vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios.
Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é
certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir,
[15] mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A
Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a
necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que
a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação
pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para
[20] poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo,
mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem
futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores.E adverti que minha implicância com
a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português.
[25] Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida
escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas
custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu
conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço
delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me
[30] deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas
origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo
em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do
povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão
[35] ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a
deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com
que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da
impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma
conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. “O gigolô das palavras”. In: Mais comédias para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
TEXTO
AULA DE PORTUGUÊS
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é que sabe
e vai desmatando
o Amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, o mistério.
ANDRADE, Carlos Drummond de. “Aula de português”. In: Boitempo II. Rio de Janeiro: Record, 1999.
Ao se estabelecer um paralelo entre a crônica “ O Gigolô das palavras” e o poema “Aula de português”, pode-se considerar, em uma ÚNICA alternativa, que ambos:
Leia, atentamente, o trecho a seguir, extraído da crônica “O Gigolô das palavras”, para responder à questão:
"Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa!"
A coesão, que é o quesito responsável pelas ligações necessárias entre as partes de um texto, é de suma importância para seu entendimento lógico. No trecho acima, o pronome possessivo em destaque cumpre um importante papel anafórico, ao se perceber que ele refere-se ao termo: