FCM PB 2019/1
60 Questões
TEXTO – O MUSEU MAIS AMADO MORREU (...)
Domingo sempre tinha fila na porta do Museu Nacional. Famílias vindas de todos os cantos do Rio de Janeiro, e até de outros estados, empolgadas para visitar meteoros, múmias, dinossauros, indígenas. Fotografias, crianças correndo, gritaria, risadas. O Museu era corpo vivo e pulsante, um jovem senhor com 200 anos de existência. Muitos cariocas, sobretudo das periferias da cidade, tinham o Museu da Quinta da Boa Vista como seu quintal, por vezes a única experiência de visita a um museu em suas vidas.
Dentro do museu visitado, havia outro museu, a primeira instituição científica do Brasil. O museu das pesquisas, biblioteca, acervos, documentos, aulas de pós-graduação e extensão, laboratórios, reserva técnica. Era comum, durante nossas aulas ou reuniões, ouvirmos passos de estudantes das escolas públicas sobre nossas cabeças, nos passeios-aulas que ocorriam nas exposições. Barulho que não nos deixava esquecer de nosso compromisso público, de produzir e compartilhar ciência.
Vivo o cotidiano do Museu Nacional desde 1996. Fui assistente de pesquisa do antropólogo Gilberto Velho, grande mestre e referência mundial da Antropologia. Ali cursei meu doutorado e meu pós-doutorado. Em 2013, ingressei em seu quadro como professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, que este ano completa 50 anos. Nossa biblioteca era uma das mais importantes na área de Ciências Sociais da América Latina. Reuníamos um inigualável acervo de pesquisas sobre populações indígenas, camponeses, migrantes, entre outros temas, resultado de décadas de trabalho de nossos pesquisadores mais velhos, nossos mestres. Que história poderemos contar a partir de hoje? Que narrativas se perderam para sempre?
O Museu mais amado morreu. Foi assassinado. Estivemos hoje velando seus escombros, em silêncio e lágrimas. É uma perda irreparável. Como se houvéssemos sido bombardeados numa guerra.
Sempre vivemos na precariedade, recebendo verbas insuficientes para um funcionamento digno da importância da instituição. Nos últimos dois anos, a situação se agravou. A morte do Museu Nacional, em meio a chamas que não podiam ser apagadas por bombeiros que não tinham água para trabalhar, é o retrato mais fiel de nosso país. Nossa elite mesquinha, que se delicia em museus parisienses, prefere investimentos mais rentáveis. Por aqui, museu bom é elefante branco irrelevante que garante bons negócios a empreiteiras e governos.
Assim como nosso amado museu, a universidade pública agoniza, a Biblioteca Nacional corre risco, e tantos outros patrimônios culturais e artísticos podem ser extintos. O Estado brasileiro precisa ser público, voltado aos interesses da população e não um ente sequestrado pelos donos do capital. Cultura, educação e ciência não são gastos ou desperdício de recurso público são investimento para a construção de uma sociedade mais justa, humana e feliz.
Está na hora de repensarmos o que queremos para nosso país, ou não haverá futuro a ser contado. Nem mesmo em museus.
(FACINA, Adriana.Radis .Nº 193.Out.2018) Adriana Facina: historiadora, antropóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional UFRJ. Texto publicado originalmente no jornal O Dia (4/9).
Segundo o texto, o Museu Nacional se oferecia ao público como
I. tão somente uma possibilidade de entretenimento.
II. um espaço de produção do conhecimento científico.
III. um lugar capaz de preservar os fatos marcantes da história do Brasil.
IV. um espaço para o estudo exclusivamente em nível de pós-graduação.
V. uma instituição cujo acervo dizia respeito apenas a temas nacionais.
Está (ão) correta(s) apenas:
TEXTO – O MUSEU MAIS AMADO MORREU (...)
Domingo sempre tinha fila na porta do Museu Nacional. Famílias vindas de todos os cantos do Rio de Janeiro, e até de outros estados, empolgadas para visitar meteoros, múmias, dinossauros, indígenas. Fotografias, crianças correndo, gritaria, risadas. O Museu era corpo vivo e pulsante, um jovem senhor com 200 anos de existência. Muitos cariocas, sobretudo das periferias da cidade, tinham o Museu da Quinta da Boa Vista como seu quintal, por vezes a única experiência de visita a um museu em suas vidas.
Dentro do museu visitado, havia outro museu, a primeira instituição científica do Brasil. O museu das pesquisas, biblioteca, acervos, documentos, aulas de pós-graduação e extensão, laboratórios, reserva técnica. Era comum, durante nossas aulas ou reuniões, ouvirmos passos de estudantes das escolas públicas sobre nossas cabeças, nos passeios-aulas que ocorriam nas exposições. Barulho que não nos deixava esquecer de nosso compromisso público, de produzir e compartilhar ciência.
Vivo o cotidiano do Museu Nacional desde 1996. Fui assistente de pesquisa do antropólogo Gilberto Velho, grande mestre e referência mundial da Antropologia. Ali cursei meu doutorado e meu pós-doutorado. Em 2013, ingressei em seu quadro como professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, que este ano completa 50 anos. Nossa biblioteca era uma das mais importantes na área de Ciências Sociais da América Latina. Reuníamos um inigualável acervo de pesquisas sobre populações indígenas, camponeses, migrantes, entre outros temas, resultado de décadas de trabalho de nossos pesquisadores mais velhos, nossos mestres. Que história poderemos contar a partir de hoje? Que narrativas se perderam para sempre?
O Museu mais amado morreu. Foi assassinado. Estivemos hoje velando seus escombros, em silêncio e lágrimas. É uma perda irreparável. Como se houvéssemos sido bombardeados numa guerra.
Sempre vivemos na precariedade, recebendo verbas insuficientes para um funcionamento digno da importância da instituição. Nos últimos dois anos, a situação se agravou. A morte do Museu Nacional, em meio a chamas que não podiam ser apagadas por bombeiros que não tinham água para trabalhar, é o retrato mais fiel de nosso país. Nossa elite mesquinha, que se delicia em museus parisienses, prefere investimentos mais rentáveis. Por aqui, museu bom é elefante branco irrelevante que garante bons negócios a empreiteiras e governos.
Assim como nosso amado museu, a universidade pública agoniza, a Biblioteca Nacional corre risco, e tantos outros patrimônios culturais e artísticos podem ser extintos. O Estado brasileiro precisa ser público, voltado aos interesses da população e não um ente sequestrado pelos donos do capital. Cultura, educação e ciência não são gastos ou desperdício de recurso público são investimento para a construção de uma sociedade mais justa, humana e feliz.
Está na hora de repensarmos o que queremos para nosso país, ou não haverá futuro a ser contado. Nem mesmo em museus.
(FACINA, Adriana.Radis .Nº 193.Out.2018) Adriana Facina: historiadora, antropóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional UFRJ. Texto publicado originalmente no jornal O Dia (4/9).
Quanto ao tema abordado, pode-se afirmar que o texto
TEXTO – O MUSEU MAIS AMADO MORREU (...)
Domingo sempre tinha fila na porta do Museu Nacional. Famílias vindas de todos os cantos do Rio de Janeiro, e até de outros estados, empolgadas para visitar meteoros, múmias, dinossauros, indígenas. Fotografias, crianças correndo, gritaria, risadas. O Museu era corpo vivo e pulsante, um jovem senhor com 200 anos de existência. Muitos cariocas, sobretudo das periferias da cidade, tinham o Museu da Quinta da Boa Vista como seu quintal, por vezes a única experiência de visita a um museu em suas vidas.
Dentro do museu visitado, havia outro museu, a primeira instituição científica do Brasil. O museu das pesquisas, biblioteca, acervos, documentos, aulas de pós-graduação e extensão, laboratórios, reserva técnica. Era comum, durante nossas aulas ou reuniões, ouvirmos passos de estudantes das escolas públicas sobre nossas cabeças, nos passeios-aulas que ocorriam nas exposições. Barulho que não nos deixava esquecer de nosso compromisso público, de produzir e compartilhar ciência.
Vivo o cotidiano do Museu Nacional desde 1996. Fui assistente de pesquisa do antropólogo Gilberto Velho, grande mestre e referência mundial da Antropologia. Ali cursei meu doutorado e meu pós-doutorado. Em 2013, ingressei em seu quadro como professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, que este ano completa 50 anos. Nossa biblioteca era uma das mais importantes na área de Ciências Sociais da América Latina. Reuníamos um inigualável acervo de pesquisas sobre populações indígenas, camponeses, migrantes, entre outros temas, resultado de décadas de trabalho de nossos pesquisadores mais velhos, nossos mestres. Que história poderemos contar a partir de hoje? Que narrativas se perderam para sempre?
O Museu mais amado morreu. Foi assassinado. Estivemos hoje velando seus escombros, em silêncio e lágrimas. É uma perda irreparável. Como se houvéssemos sido bombardeados numa guerra.
Sempre vivemos na precariedade, recebendo verbas insuficientes para um funcionamento digno da importância da instituição. Nos últimos dois anos, a situação se agravou. A morte do Museu Nacional, em meio a chamas que não podiam ser apagadas por bombeiros que não tinham água para trabalhar, é o retrato mais fiel de nosso país. Nossa elite mesquinha, que se delicia em museus parisienses, prefere investimentos mais rentáveis. Por aqui, museu bom é elefante branco irrelevante que garante bons negócios a empreiteiras e governos.
Assim como nosso amado museu, a universidade pública agoniza, a Biblioteca Nacional corre risco, e tantos outros patrimônios culturais e artísticos podem ser extintos. O Estado brasileiro precisa ser público, voltado aos interesses da população e não um ente sequestrado pelos donos do capital. Cultura, educação e ciência não são gastos ou desperdício de recurso público são investimento para a construção de uma sociedade mais justa, humana e feliz.
Está na hora de repensarmos o que queremos para nosso país, ou não haverá futuro a ser contado. Nem mesmo em museus.
(FACINA, Adriana.Radis .Nº 193.Out.2018) Adriana Facina: historiadora, antropóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional UFRJ. Texto publicado originalmente no jornal O Dia (4/9).
O fragmento “Está na hora de repensarmos o que queremos para nosso país, ou não haverá futuro a ser contado. Nem mesmo em museus” traduz a ideia de que
TEXTO – O MUSEU MAIS AMADO MORREU (...)
Domingo sempre tinha fila na porta do Museu Nacional. Famílias vindas de todos os cantos do Rio de Janeiro, e até de outros estados, empolgadas para visitar meteoros, múmias, dinossauros, indígenas. Fotografias, crianças correndo, gritaria, risadas. O Museu era corpo vivo e pulsante, um jovem senhor com 200 anos de existência. Muitos cariocas, sobretudo das periferias da cidade, tinham o Museu da Quinta da Boa Vista como seu quintal, por vezes a única experiência de visita a um museu em suas vidas.
Dentro do museu visitado, havia outro museu, a primeira instituição científica do Brasil. O museu das pesquisas, biblioteca, acervos, documentos, aulas de pós-graduação e extensão, laboratórios, reserva técnica. Era comum, durante nossas aulas ou reuniões, ouvirmos passos de estudantes das escolas públicas sobre nossas cabeças, nos passeios-aulas que ocorriam nas exposições. Barulho que não nos deixava esquecer de nosso compromisso público, de produzir e compartilhar ciência.
Vivo o cotidiano do Museu Nacional desde 1996. Fui assistente de pesquisa do antropólogo Gilberto Velho, grande mestre e referência mundial da Antropologia. Ali cursei meu doutorado e meu pós-doutorado. Em 2013, ingressei em seu quadro como professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, que este ano completa 50 anos. Nossa biblioteca era uma das mais importantes na área de Ciências Sociais da América Latina. Reuníamos um inigualável acervo de pesquisas sobre populações indígenas, camponeses, migrantes, entre outros temas, resultado de décadas de trabalho de nossos pesquisadores mais velhos, nossos mestres. Que história poderemos contar a partir de hoje? Que narrativas se perderam para sempre?
O Museu mais amado morreu. Foi assassinado. Estivemos hoje velando seus escombros, em silêncio e lágrimas. É uma perda irreparável. Como se houvéssemos sido bombardeados numa guerra.
Sempre vivemos na precariedade, recebendo verbas insuficientes para um funcionamento digno da importância da instituição. Nos últimos dois anos, a situação se agravou. A morte do Museu Nacional, em meio a chamas que não podiam ser apagadas por bombeiros que não tinham água para trabalhar, é o retrato mais fiel de nosso país. Nossa elite mesquinha, que se delicia em museus parisienses, prefere investimentos mais rentáveis. Por aqui, museu bom é elefante branco irrelevante que garante bons negócios a empreiteiras e governos.
Assim como nosso amado museu, a universidade pública agoniza, a Biblioteca Nacional corre risco, e tantos outros patrimônios culturais e artísticos podem ser extintos. O Estado brasileiro precisa ser público, voltado aos interesses da população e não um ente sequestrado pelos donos do capital. Cultura, educação e ciência não são gastos ou desperdício de recurso público são investimento para a construção de uma sociedade mais justa, humana e feliz.
Está na hora de repensarmos o que queremos para nosso país, ou não haverá futuro a ser contado. Nem mesmo em museus.
(FACINA, Adriana.Radis .Nº 193.Out.2018) Adriana Facina: historiadora, antropóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional UFRJ. Texto publicado originalmente no jornal O Dia (4/9).
No terceiro parágrafo do texto, a articulista afirma: “Vivo o cotidiano do Museu Nacional desde 1996”. E continua narrando suas experiências pessoais na instituição. Tal testemunho tem o objetivo de
I. constituir um simples relato sem maiores pretensões.
II. tornar inconsistente qualquer opinião que não ratifique a ideia do texto.
III. demonstrar o conhecimento real da autora sobre a questão exposta.
IV. fundamentar as críticas em relação ao tratamento dispensado ao acervo cultural e artístico do país
V. tornar seu discurso mais persuasivo.
Está (ão) correta(s) apenas:
TEXTO – O MUSEU MAIS AMADO MORREU (...)
Domingo sempre tinha fila na porta do Museu Nacional. Famílias vindas de todos os cantos do Rio de Janeiro, e até de outros estados, empolgadas para visitar meteoros, múmias, dinossauros, indígenas. Fotografias, crianças correndo, gritaria, risadas. O Museu era corpo vivo e pulsante, um jovem senhor com 200 anos de existência. Muitos cariocas, sobretudo das periferias da cidade, tinham o Museu da Quinta da Boa Vista como seu quintal, por vezes a única experiência de visita a um museu em suas vidas.
Dentro do museu visitado, havia outro museu, a primeira instituição científica do Brasil. O museu das pesquisas, biblioteca, acervos, documentos, aulas de pós-graduação e extensão, laboratórios, reserva técnica. Era comum, durante nossas aulas ou reuniões, ouvirmos passos de estudantes das escolas públicas sobre nossas cabeças, nos passeios-aulas que ocorriam nas exposições. Barulho que não nos deixava esquecer de nosso compromisso público, de produzir e compartilhar ciência.
Vivo o cotidiano do Museu Nacional desde 1996. Fui assistente de pesquisa do antropólogo Gilberto Velho, grande mestre e referência mundial da Antropologia. Ali cursei meu doutorado e meu pós-doutorado. Em 2013, ingressei em seu quadro como professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, que este ano completa 50 anos. Nossa biblioteca era uma das mais importantes na área de Ciências Sociais da América Latina. Reuníamos um inigualável acervo de pesquisas sobre populações indígenas, camponeses, migrantes, entre outros temas, resultado de décadas de trabalho de nossos pesquisadores mais velhos, nossos mestres. Que história poderemos contar a partir de hoje? Que narrativas se perderam para sempre?
O Museu mais amado morreu. Foi assassinado. Estivemos hoje velando seus escombros, em silêncio e lágrimas. É uma perda irreparável. Como se houvéssemos sido bombardeados numa guerra.
Sempre vivemos na precariedade, recebendo verbas insuficientes para um funcionamento digno da importância da instituição. Nos últimos dois anos, a situação se agravou. A morte do Museu Nacional, em meio a chamas que não podiam ser apagadas por bombeiros que não tinham água para trabalhar, é o retrato mais fiel de nosso país. Nossa elite mesquinha, que se delicia em museus parisienses, prefere investimentos mais rentáveis. Por aqui, museu bom é elefante branco irrelevante que garante bons negócios a empreiteiras e governos.
Assim como nosso amado museu, a universidade pública agoniza, a Biblioteca Nacional corre risco, e tantos outros patrimônios culturais e artísticos podem ser extintos. O Estado brasileiro precisa ser público, voltado aos interesses da população e não um ente sequestrado pelos donos do capital. Cultura, educação e ciência não são gastos ou desperdício de recurso público são investimento para a construção de uma sociedade mais justa, humana e feliz.
Está na hora de repensarmos o que queremos para nosso país, ou não haverá futuro a ser contado. Nem mesmo em museus.
(FACINA, Adriana.Radis .Nº 193.Out.2018) Adriana Facina: historiadora, antropóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional UFRJ. Texto publicado originalmente no jornal O Dia (4/9).
No trecho em destaque no fragmento “O Museu era corpo vivo e pulsante, um jovem senhor com 200 anos de existência”, ocorre
TEXTO – O MUSEU MAIS AMADO MORREU (...)
Domingo sempre tinha fila na porta do Museu Nacional. Famílias vindas de todos os cantos do Rio de Janeiro, e até de outros estados, empolgadas para visitar meteoros, múmias, dinossauros, indígenas. Fotografias, crianças correndo, gritaria, risadas. O Museu era corpo vivo e pulsante, um jovem senhor com 200 anos de existência. Muitos cariocas, sobretudo das periferias da cidade, tinham o Museu da Quinta da Boa Vista como seu quintal, por vezes a única experiência de visita a um museu em suas vidas.
Dentro do museu visitado, havia outro museu, a primeira instituição científica do Brasil. O museu das pesquisas, biblioteca, acervos, documentos, aulas de pós-graduação e extensão, laboratórios, reserva técnica. Era comum, durante nossas aulas ou reuniões, ouvirmos passos de estudantes das escolas públicas sobre nossas cabeças, nos passeios-aulas que ocorriam nas exposições. Barulho que não nos deixava esquecer de nosso compromisso público, de produzir e compartilhar ciência.
Vivo o cotidiano do Museu Nacional desde 1996. Fui assistente de pesquisa do antropólogo Gilberto Velho, grande mestre e referência mundial da Antropologia. Ali cursei meu doutorado e meu pós-doutorado. Em 2013, ingressei em seu quadro como professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, que este ano completa 50 anos. Nossa biblioteca era uma das mais importantes na área de Ciências Sociais da América Latina. Reuníamos um inigualável acervo de pesquisas sobre populações indígenas, camponeses, migrantes, entre outros temas, resultado de décadas de trabalho de nossos pesquisadores mais velhos, nossos mestres. Que história poderemos contar a partir de hoje? Que narrativas se perderam para sempre?
O Museu mais amado morreu. Foi assassinado. Estivemos hoje velando seus escombros, em silêncio e lágrimas. É uma perda irreparável. Como se houvéssemos sido bombardeados numa guerra.
Sempre vivemos na precariedade, recebendo verbas insuficientes para um funcionamento digno da importância da instituição. Nos últimos dois anos, a situação se agravou. A morte do Museu Nacional, em meio a chamas que não podiam ser apagadas por bombeiros que não tinham água para trabalhar, é o retrato mais fiel de nosso país. Nossa elite mesquinha, que se delicia em museus parisienses, prefere investimentos mais rentáveis. Por aqui, museu bom é elefante branco irrelevante que garante bons negócios a empreiteiras e governos.
Assim como nosso amado museu, a universidade pública agoniza, a Biblioteca Nacional corre risco, e tantos outros patrimônios culturais e artísticos podem ser extintos. O Estado brasileiro precisa ser público, voltado aos interesses da população e não um ente sequestrado pelos donos do capital. Cultura, educação e ciência não são gastos ou desperdício de recurso público são investimento para a construção de uma sociedade mais justa, humana e feliz.
Está na hora de repensarmos o que queremos para nosso país, ou não haverá futuro a ser contado. Nem mesmo em museus.
(FACINA, Adriana.Radis .Nº 193.Out.2018) Adriana Facina: historiadora, antropóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional UFRJ. Texto publicado originalmente no jornal O Dia (4/9).
Nos fragmentos “Que história poderemos contar a partir de hoje?” “Que narrativas se perderam para sempre?” a articulista se dirige