Questões de Literatura - Literatura brasileira
É característica comum ao Modernismo e ao Romantismo no Brasil a
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
Os versos acima podem ser atribuídos a uma tendência e a um escritor fundamentais para a consolidação do romantismo no Brasil.
Assinale a alternativa que correlacione corretamente esses dois aspectos:
De tudo isso, eis o saldo positivo: os simbolistas trouxeram à linguagem poética nacional maior flexibilidade, matizes mais variados, fluidez; possibilitaram-lhe fixar o imponderável, sensações profundas, novas ideias. E abriram caminhos. Mas em meados de 1910 convivem com os parnasianos, ambos desgastados e vazios, numa fase de transição para algo novo, que em breve irá explodir violentamente.
Fonte: (PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de época na literatura. São Paulo: Atica, 2001, p. 280. Grifo nosso)
A expressão "algo novo", em destaque no texto, refere-se à emergência do
O meu nome é Severino,
como não tenho outro da pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria.
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da Serra da Costela,
limites da Paraíba.
MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina: auto de Natal pernambucano. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016.
Considerando a obra “Morte e Vida Severina” e seu autor, analise as afirmativas a seguir.
I. A obra de João Cabral de Melo Neto é marcada pela subjetividade e pelo sentimentalismo. A elaboração dos poemas é cuidadosamente planejada e executada, segue método e rigor de um engenheiro. Todas essas características são bem marcantes em “Morte e Vida Severina”.
II. “Morte e Vida Severina” é texto dramático com o subtítulo de “Auto de Natal Pernambucano”. Ao empregar o termo “auto”, o autor retoma as antigas tradições ibéricas, os autos pastoris medievais, como a preferência pelos versos redondilhos (medida velha), que são de origem popular, coerente com a temática e a proposta da obra. Os versos ímpares são versos brancos, e pares, rimados.
III. Severino, personagem, se transforma em adjetivo, referindo-se à vida severina, à miséria. A obra trata da travessia de Severino, que sai do sertão (da Serra da Costela, limites da Paraíba) rumo ao Recife (litoral) em busca de melhores condições de vida. Em sua caminhada, depara-se com a miséria e muitas vezes com a morte. Na Zona da Mata, embora veja tudo verde e tanta riqueza, defronta-se com a triste realidade de as usinas dispensarem o trabalho dos homens, os patrões, metonimicamente representados pelo latifúndio, explorarem a força de trabalho, pagando uma ninharia aos empregados.
IV. Quando chega a Recife, o que ele deseja é pouca coisa: um trabalho, água, farinha, algodãozinho da camisa, dinheiro para o aluguel. Mas, coincidentemente, sentase para descansar junto ao muro de um cemitério e ouve os coveiros conversando: “— E esse povo lá de riba / de Pernambuco, da Paraíba, / que vem buscar no Recife / poder morrer de velhice, / encontra só, aqui chegando / cemitérios esperando. / — Não é viagem o que fazem, / vindo por essas caatingas, / vargens; aí está o seu erro: / vêm é seguindo seu próprio enterro”. Ao ouvir isso, seus sonhos de um homem simples se desmancham, pois chega à conclusão de que sua vida será marcada eternamente pela sina que Deus lhe reservou: a morte.
V. Por isso, Severino resolve se jogar da ponte, porém, aparece José Carpina, morador do mangue, com quem Severino dialoga sobre a morte, sempre anunciada, ainda que protelada. A conversa é interrompida com o nascimento do filho de José, em momento epifânico que remete ao nascimento de Jesus – o nome do pai da criança não é aleatório. Amigos, parentes e vizinhos levam presentes, como na história dos reis magos. O nascimento da criança confirma duas realidades: a primeira, trazida pelas previsões das ciganas, de que a vida da criança não será diferente do que a dos pais, portanto, de pobreza e luta; a segunda refere-se à insistência de a vida acontecer, mesmo que a morte e a miséria estejam presentes na vida das pessoas.
Está correto o que se afirma em
Para responder às questão, leia o poema da escritora portuguesa Florbela Espanca, publicado originalmente em 1919.
Vaidade
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo
Aos pés de quem a terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...
(Florbela Espanca. Poemas, 1996.)
Tendo em vista as escolhas formais mobilizadas pela escritora, como o emprego do gênero soneto e de versos decassílabos, o poema aproxima-se da estética
Texto
Da solidão
Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão.
Basta que em redor delas se arme o silêncio, que não se
manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para
que delas se apodere imensa angústia: como se o peso do
[5] céu desabasse sobre sua cabeça, como se dos horizontes
se levantasse o anúncio do fim do mundo.
No entanto, haverá na terra verdadeira solidão?
Não estamos todos cercados por inúmeros objetos, por
infinitas formas da Natureza e o nosso mundo particular
[10] não está cheio de lembranças, de sonhos, de raciocínios,
de ideias, que impedem uma total solidão?
Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora
com vida e voz que não são humanas, mas que podemos
aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem
[15] secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como
aquele Sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros,
podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse
aparente vazio de solidão: e pouco a pouco nos sentiremos
enriquecidos.
[20] Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos
à procura de ângulos, jogos de luz, eloquência de formas,
para revelarem aquilo que lhes parece não só o mais
estático dos seus aspectos, mas também o mais
comunicável, o mais rico de sugestões, o mais capaz de
[25] transmitir aquilo que excede os limites físicos desses
objetos, constituindo, de certo modo, seu espírito e sua
alma.
Façamo-nos também desse modo videntes:
olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das
[30] cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos
tecidos sem maiores pretensões. Não procuremos neles a
beleza que arrebata logo o olhar, o equilíbrio de linhas, a
graça das proporções: muitas vezes seu aspecto – como o
das criaturas humanas – é inábil e desajeitado. Mas não é
[35] isso que procuramos, apenas: é o seu sentido íntimo que
tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a
carga de experiências que representam, e a repercussão,
nelas sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis
séculos.
[40] Amemos o que sentimos de nós mesmos, nessas
variadas coisas, já que, por egoístas que somos, não
sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos.
Amemos o antigo encantamento dos nossos olhos infantis,
quando começavam a descobrir o mundo: as nervuras das
[45] madeiras, com seus caminhos de bosques e ondas e
horizontes; o desenho dos azulejos; o esmalte das louças;
os tranquilos, metódicos telhados... Amemos o rumor da
água que corre, os sons das máquinas, a inquieta voz dos
animais, que desejaríamos traduzir.
[50] Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever
de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa
infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram
seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências.
A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa
[55] o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos
de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado,
presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou
distraídos. Mundo delicado, que não se impõe com
violência: que aceita a nossa frivolidade ou o nosso
[60] respeito; que espera que o descubramos, sem anunciar
nem pretender prevalecer; que pode ficar para sempre
ignorado, sem que por isso deixe de existir; que não faz da
sua presença um anúncio exigente " Estou aqui! estou
aqui! ". Mas, concentrado em sua essência, só se revela
[65] quando os nossos sentidos estão aptos para descobrirem.
E que em silêncio nos oferece sua múltipla companhia,
generosa e invisível.
Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai
atenção, em redor de vós, a essa prestigiosa presença, a
[70] essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que
conversará convosco interminavelmente.
MEIRELES, Cecília. Da solidão. In: MEIRELES, Cecília. Janela Mágica. São Paulo: Global, 2016, pp. 71-74.
No texto, o eu lírico demonstra sentir-se