Questões de Literatura - Literatura Contemporânea
Sobre a obra Fazenda Modelo de Chico Buarque, é CORRETO afirmar:
Em artigo, Daniela Schrickte Stoll (2020) afirma sobre a obra que analisa e interpreta:
Portanto, percebe-se que há, no romance, um gesto de dar-se conta das opressões vividas pelos/as negros/as no Brasil, das dores e das mazelas que ecoam ainda hoje nos corpos marcados pelo racismo, ao mesmo tempo em que há um movimento de busca da força dessa ancestralidade que vem de além-mar. É um processo duplo, simultâneo, por vezes contraditório para os/as personagens, refletido nesse desejo de partir e também de voltar.
A citação acima relaciona-se à qual obra?
Leia o fragmento do conto O cego Estrelinho, do escritor moçambicano Mia Couto, para responder a QUESTÃO.
O cego Estrelinho
O cego Estrelinho era pessoa de nenhuma vez: sua história poderia ser contada e descontada não fosse seu guia, Gigito Efraim. A mão de Gigito conduziu o desvistado por tempos e idades. Aquela mão era repartidamente comum, extensão de um no outro, siamensal. E assim era quase de nascença. Memória de Estrelinho tinha cinco dedos e eram os de Gigito postos, em aperto, na sua própria mão.
O cego, curioso, queria saber de tudo. Ele não fazia cerimónia no viver. O sempre lhe era pouco e o tudo insuficiente. Dizia, deste modo:
– Tenho que viver já, senão esqueço-me.
Gigitinho, porém, o que descrevia era o que não havia. O mundo que ele minuciava eram fantasias e rendilhados. A imaginação do guia era mais profícua que papaeira. O cego enchia a boca de águas:
– Que maravilhação esse mundo. Me conte tudo, Gigito!
Fonte: COUTO, Mia. Estórias abensonhadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 21. [Fragmento]
Sobre o fragmento do conto é CORRETO afirmar que
Instrução: Os fragmentos abaixo referem-se a três momentos da história de Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo. Considere-os, no contexto do enredo da obra, para responder à questão.
I. E, depois de longa ausência pela cidade, durante o tempo de seu regresso, Ponciá encontrou com Nêngua Kainda. A mulher, que era alta e magra, pareceu-lhe mais alta e magra ainda. Continuava ereta, apesar da idade, como uma palmeira seca. A pele do rosto, das mãos, do pescoço e dos pés descalços era enrugada como a de um maracujá maduro. Tinha o olhar vivo, enxergador de tudo. A velha pousou a mão sobre a cabeça de Ponciá Vicêncio dizendo-lhe, que, embora ela não tivesse encontrado a mãe e nem o irmão, ela não estava sozinha. Que fizesse o que o coração pedisse. Ir ou ficar? Só ela mesma é quem sabia, mas, para qualquer lugar que ela fosse, da herança deixada por Vô Vicêncio ela não fugiria. Mais cedo ou mais tarde, o fato se daria, a lei se cumpriria.
II. Nêngua Kainda, falando a língua que só os mais velhos entendiam, abençoou Luandi. Falou que a mãe do rapaz estava viva e que eles se encontrariam um dia. Falou de Ponciá Vicêncio também. A irmã estava na cidade, não muito longe dele. Carecia de encontrá-la urgente, acolhê-la antes que a herança se fizesse presente.
III. Foi preciso que a herança de Vô Vicêncio se realizasse, se cumprisse na irmã para que ele entendesse tudo. Só agora atinava também com o riso e as palavras de Nêngua Kainda.
A partir da leitura dos fragmentos, considere as seguintes afirmações.
I - A “herança” do Vô Vicêncio permitiu que Luandi comprasse uma casa para acolher sua mãe e sua irmã, Ponciá.
II - Nêngua Kainda representa uma voz ancestral que orienta as personagens na realização de seus destinos.
III- A trajetória de Ponciá se completa quando reencontra sua mãe e seu irmão.
Quais estão corretas?
No conto “Felicidade Clandestina”, de Clarice Lispector (1995, p. 52-55), narram-se as "torturas” sofridas pela narradora/menina, que tinha “ânsia de ler” livros, especialmente “As reinações de Narizinho”, cuja dona sempre adiava o empréstimo, num “plano secreto [...] tranquilo e diabólico”. A mãe da antagonista, horrorizada com a descoberta, põe fim à sua maligna estratégia e empresta o livro à narradora/menina “pelo tempo que [...] quisesse”. A sequência transcrita a seguir descreve a emoção da narradora/menina com o livro. Leia com atenção.
“Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante”.
Fonte: LISPECTOR, C. Felicidade clandestina. In:_____. O primeiro beijo e outros contos - Antologia. 11. ed. São Paulo: Ática, 1995. p. 54-55
Com base no texto, assinale V (verdadeiro) ou F (falso) em cada afirmativa.
( ) O tempo da narração não coincide com o tempo da narrativa.
( ) A felicidade era “clandestina” porque foi a mãe da antagonista, e não ela, quem emprestou à menina o livro.
( ) O comportamento agitado da menina muda ao conseguir o livro, para ampliar o prazer de tê-lo consigo.
( ) A menina sentia-se uma rainha e uma mulher simplesmente por ter em sua posse o livro desejado.
A sequência correta é
Leia atentamente o texto a seguir e responda à questão.
20 DE JULHO
Deixei o leito as 4 horas para escrever. Abri a
porta e contemplei o céu estrelado. Quando o astro-rei
começou despontar eu fui buscar agua. Tive sorte! As
[5] mulheres não estavam na torneira. Enchi minha lata e
zarpei. (...) Fui no Arnaldo buscar o leite e o pão. Quando
retornava encontrei o senhor Ismael com uma faca de 30
cenmetros mais ou menos. Disse-me que estava a
espera do Binidito e do Miguel para matá-los, que eles lhe
[10] expancaram quando ele estava embriagado.
Lhe aconselhei a não brigar, que o crime não
trás vantagens a ninguém, apenas deturpa a vida. Senti o
cheiro de álcool, disisti. Sei que os ebrios não atende. O
senhor Ismael quando não está alcoolizado demonstra
[15] sua sapiência. Já foi telegrafista. E do Circulo Exoterico.
Tem conhecimentos biblicos, gosta de dar conselhos. Mas
não tem valor. Dei xou o álcool lhe dominar, embora seus
conselho seja util para os que gostam de levar vida
decente.
[20] Preparei a refeição matinal. Cada filho prefere
uma coisa. A Vera, mingau de farinha de trigo torrada. O
João José, café puro. O José Carlos, leite branco. E eu,
mingau de aveia.
Já que não posso dar aos meus filhos uma casa
[25] decente para residir, procuro lhe dar uma refeição
condigna.
Terminaram a refeição. Lavei os utensílios.
Depois fui lavar roupas. Eu não tenho homem em casa. E
só eu e meus filhos. Mas eu não pretendo relaxar. O meu
[30] sonho era andar bem limpinha, usar roupas de alto preço,
residir numa casa confortável, mas não é possível. Eu não
estou descontente com a profissão que exerço. Já
habituei-me andar suja. Já faz oito anos que cato papel. O
desgosto que tenho é residir em favela.
(Carolina Maria de Jesus. Quarto de despejo.)
Pelo trecho da narrativa e o pano de fundo em que ocorre a ação, analise as afirmativas a seguir:
I. A narradora se surpreendeu por haver um vizinho bêbado logo ao amanhecer do dia.
II. Carolina, em sua narrativa, aponta o cenário de relativa concorrência pelo espaço entre os moradores do local.
III. Há uma contradição na figura do senhor Ismael, que, mesmo com atitude insensata por causa da bebida, apresentava bons conselhos derivados de sua sabedoria.
Assinale