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Texto
O gênero da ciência ou sobre silêncios e temores em torno de uma epistemologia feminista
“Elas recebem menos convites para avaliar o trabalho de seus pares. E meninas se veem como menos brilhantes desde os 6 anos”. Editoria de Ciências – El País
[1] A notícia saiu no início de 2017, trazendo dados de duas pesquisas científicas sobre o alijamento de mulheres
do campo de investigações acadêmicas. A reportagem é ilustrada pela foto de divulgação do hollywoodiano
"Estrelas além do tempo". Naquele filme, racismo, sexismo, machismo e conservadorismo político se juntam
à alta tecnologia beligerante da Guerra Fria. Nada mais representativo do mundo das ciências. O mundo
[5] que tem a razão como seu alicerce. A mesma qualidade que sustenta nossas percepções vulgares sobre o
comportamento masculino. Homem => razão => civilização => branquitude => ciência => verdade. Equação que
não apareceu nos infindos cálculos das protagonistas do filme, mas que definiu calculadamente o silêncio que
se instituiria sobre a participação crucial daquelas mulheres na “corrida espacial”.
Mais de meio século separam "Estrelas além do tempo" e a matéria do jornal El País. Neste ínterim,
[10] sociedades de matriz ocidental assistiram ao crescimento dos movimentos identitários, dentre estes, o
movimento feminista, manifestado em diferentes correntes políticas e de luta, mas com um elemento em
comum: contestar o lugar naturalizado de opressão que justificava politicamente a desigualdade entre homens
e mulheres. Naquele momento ainda não se falava em gênero como categoria de análise social. Mesmo no
campo dos estudos feministas, trabalhava-se muito mais com a categoria “mulher”.
[15] Mais recentemente [...] as feministas começaram a utilizar a palavra “gênero” mais seriamente, no sentido
mais literal, como uma maneira de referir-se à organização social da relação entre os sexos [...] Historicizar o uso
de um termo com a potência política e contestatória da categoria gênero é importante para que entendamos
por que, no presente, estamos assistindo a um recrudescimento conservador que procura realocar no campo
da natureza as desigualdades sociais. [...]
[20] Pensar em gênero por esse prisma é ampliar para além do corpo, da anatomia e do biológico as
experiências femininas e masculinas, percebendo que construímos nosso gênero de forma relacional, ou seja,
nas relações sociais, as quais abarcam as instituições pedagogizantes (família, escola, igrejas), de forma que
somos orientadas e orientados pelos valores hegemônicos de cada tempo e lugar, sejam para reiterar esses
valores ou para enfrentá-los.
[25] Uma das maneiras de se fazer esses enfrentamentos passa, justamente, pela forma de se construir
conhecimento, quer dizer, propor outras maneiras de se pensar o mundo, as relações humanas e, assim,
de fazer ciência. Esse lugar assegurado de produção de verdades passa a ser contestado pelos discursos
feministas. [...]
O potencial iconoclasta do conceito de gênero se evidencia desde os escritos seminais de Simone de
[30] Beauvoir, ainda que ela não tenha se valido dele para denunciar a ciência como um discurso masculinista.
Discurso este que construiu “a representação do mundo, como o próprio mundo (…). Eles [os homens] os
descrevem do ponto de vista que lhes é peculiar e que confundem com a verdade absoluta”. De forma que
esses enunciados, de verdade, legitimaram posições de senso comum que colocam, até o presente, as mulheres
como incomensuravelmente distintas dos homens, como seu “outro”, exterior e inferior a eles mesmos. [...]
[35] Os homens criam os mitos da cultura ocidental e, entre estes, está o mito da Mulher, acompanhado
também pela mitologia comum das “figuras masculinas convencionais”. Assim, a humanidade é dividida em
duas classes, criando-se, como diz Beauvoir, um tipo de “conceito platônico” da noção de Mulher – uma Ideia
ou Verdade transcendental imutável: “Assim, à existência dispersa, contingente e múltipla das mulheres, o
pensamento mítico opõe o Eterno Feminino único e cristalizado”. Esse mito é fruto de relações de poder e se
[40] constrói para servi-las, pois como afirma Beauvoir de forma contundente: “Poucos mitos foram mais vantajosos
do que esse para a casta dominante: justifica todos os privilégios e autoriza mesmo abusar deles”.
O que os feminismos, em suas distintas expressões políticas, vêm propondo é altamente desestabilizador
do status quo. Se a ciência tem se constituído como o discurso hegemônico do ocidente para propor soluções,
articular análises sobre fenômenos diversos e instituir verdades sobre o mundo, entende-se que enfrentar
[45] criticamente essas verdades, denunciando seus vícios de origem e suas lacunas silenciadoras, desestabiliza
privilégios, mas, mais que isso, exige que desenvolvamos outro vocabulário para falar do presente.
VOCABULÁRIO
Alijamento: exclusão.
Epistemologia: estudo sobre conhecimento científico seus diferentes métodos, suas teorias e práticas; teoria da ciência.
Beligerante: que está em guerra.
Recrudescimento: aumento; intensificação.
Iconoclasta: oposição à tradição.
Status quo: estado vigente; contexto atual.
Fonte: http://www.aulete.com.br/. Acesso em: 02 abr. 2018.
A partir da leitura do texto, conclui-se que:
Texto
O gênero da ciência ou sobre silêncios e temores em torno de uma epistemologia feminista
“Elas recebem menos convites para avaliar o trabalho de seus pares. E meninas se veem como menos brilhantes desde os 6 anos”. Editoria de Ciências – El País
[1] A notícia saiu no início de 2017, trazendo dados de duas pesquisas científicas sobre o alijamento de mulheres
do campo de investigações acadêmicas. A reportagem é ilustrada pela foto de divulgação do hollywoodiano
"Estrelas além do tempo". Naquele filme, racismo, sexismo, machismo e conservadorismo político se juntam
à alta tecnologia beligerante da Guerra Fria. Nada mais representativo do mundo das ciências. O mundo
[5] que tem a razão como seu alicerce. A mesma qualidade que sustenta nossas percepções vulgares sobre o
comportamento masculino. Homem => razão => civilização => branquitude => ciência => verdade. Equação que
não apareceu nos infindos cálculos das protagonistas do filme, mas que definiu calculadamente o silêncio que
se instituiria sobre a participação crucial daquelas mulheres na “corrida espacial”.
Mais de meio século separam "Estrelas além do tempo" e a matéria do jornal El País. Neste ínterim,
[10] sociedades de matriz ocidental assistiram ao crescimento dos movimentos identitários, dentre estes, o
movimento feminista, manifestado em diferentes correntes políticas e de luta, mas com um elemento em
comum: contestar o lugar naturalizado de opressão que justificava politicamente a desigualdade entre homens
e mulheres. Naquele momento ainda não se falava em gênero como categoria de análise social. Mesmo no
campo dos estudos feministas, trabalhava-se muito mais com a categoria “mulher”.
[15] Mais recentemente [...] as feministas começaram a utilizar a palavra “gênero” mais seriamente, no sentido
mais literal, como uma maneira de referir-se à organização social da relação entre os sexos [...] Historicizar o uso
de um termo com a potência política e contestatória da categoria gênero é importante para que entendamos
por que, no presente, estamos assistindo a um recrudescimento conservador que procura realocar no campo
da natureza as desigualdades sociais. [...]
[20] Pensar em gênero por esse prisma é ampliar para além do corpo, da anatomia e do biológico as
experiências femininas e masculinas, percebendo que construímos nosso gênero de forma relacional, ou seja,
nas relações sociais, as quais abarcam as instituições pedagogizantes (família, escola, igrejas), de forma que
somos orientadas e orientados pelos valores hegemônicos de cada tempo e lugar, sejam para reiterar esses
valores ou para enfrentá-los.
[25] Uma das maneiras de se fazer esses enfrentamentos passa, justamente, pela forma de se construir
conhecimento, quer dizer, propor outras maneiras de se pensar o mundo, as relações humanas e, assim,
de fazer ciência. Esse lugar assegurado de produção de verdades passa a ser contestado pelos discursos
feministas. [...]
O potencial iconoclasta do conceito de gênero se evidencia desde os escritos seminais de Simone de
[30] Beauvoir, ainda que ela não tenha se valido dele para denunciar a ciência como um discurso masculinista.
Discurso este que construiu “a representação do mundo, como o próprio mundo (…). Eles [os homens] os
descrevem do ponto de vista que lhes é peculiar e que confundem com a verdade absoluta”. De forma que
esses enunciados, de verdade, legitimaram posições de senso comum que colocam, até o presente, as mulheres
como incomensuravelmente distintas dos homens, como seu “outro”, exterior e inferior a eles mesmos. [...]
[35] Os homens criam os mitos da cultura ocidental e, entre estes, está o mito da Mulher, acompanhado
também pela mitologia comum das “figuras masculinas convencionais”. Assim, a humanidade é dividida em
duas classes, criando-se, como diz Beauvoir, um tipo de “conceito platônico” da noção de Mulher – uma Ideia
ou Verdade transcendental imutável: “Assim, à existência dispersa, contingente e múltipla das mulheres, o
pensamento mítico opõe o Eterno Feminino único e cristalizado”. Esse mito é fruto de relações de poder e se
[40] constrói para servi-las, pois como afirma Beauvoir de forma contundente: “Poucos mitos foram mais vantajosos
do que esse para a casta dominante: justifica todos os privilégios e autoriza mesmo abusar deles”.
O que os feminismos, em suas distintas expressões políticas, vêm propondo é altamente desestabilizador
do status quo. Se a ciência tem se constituído como o discurso hegemônico do ocidente para propor soluções,
articular análises sobre fenômenos diversos e instituir verdades sobre o mundo, entende-se que enfrentar
[45] criticamente essas verdades, denunciando seus vícios de origem e suas lacunas silenciadoras, desestabiliza
privilégios, mas, mais que isso, exige que desenvolvamos outro vocabulário para falar do presente.
VOCABULÁRIO
Alijamento: exclusão.
Epistemologia: estudo sobre conhecimento científico seus diferentes métodos, suas teorias e práticas; teoria da ciência.
Beligerante: que está em guerra.
Recrudescimento: aumento; intensificação.
Iconoclasta: oposição à tradição.
Status quo: estado vigente; contexto atual.
Fonte: http://www.aulete.com.br/. Acesso em: 02 abr. 2018.
Assinale o trecho retirado do texto que melhor justifica o título “O gênero da ciência ou sobre silêncios e temores em torno de uma epistemologia feminista”:
Texto
O gênero da ciência ou sobre silêncios e temores em torno de uma epistemologia feminista
“Elas recebem menos convites para avaliar o trabalho de seus pares. E meninas se veem como menos brilhantes desde os 6 anos”. Editoria de Ciências – El País
[1] A notícia saiu no início de 2017, trazendo dados de duas pesquisas científicas sobre o alijamento de mulheres
do campo de investigações acadêmicas. A reportagem é ilustrada pela foto de divulgação do hollywoodiano
"Estrelas além do tempo". Naquele filme, racismo, sexismo, machismo e conservadorismo político se juntam
à alta tecnologia beligerante da Guerra Fria. Nada mais representativo do mundo das ciências. O mundo
[5] que tem a razão como seu alicerce. A mesma qualidade que sustenta nossas percepções vulgares sobre o
comportamento masculino. Homem => razão => civilização => branquitude => ciência => verdade. Equação que
não apareceu nos infindos cálculos das protagonistas do filme, mas que definiu calculadamente o silêncio que
se instituiria sobre a participação crucial daquelas mulheres na “corrida espacial”.
Mais de meio século separam "Estrelas além do tempo" e a matéria do jornal El País. Neste ínterim,
[10] sociedades de matriz ocidental assistiram ao crescimento dos movimentos identitários, dentre estes, o
movimento feminista, manifestado em diferentes correntes políticas e de luta, mas com um elemento em
comum: contestar o lugar naturalizado de opressão que justificava politicamente a desigualdade entre homens
e mulheres. Naquele momento ainda não se falava em gênero como categoria de análise social. Mesmo no
campo dos estudos feministas, trabalhava-se muito mais com a categoria “mulher”.
[15] Mais recentemente [...] as feministas começaram a utilizar a palavra “gênero” mais seriamente, no sentido
mais literal, como uma maneira de referir-se à organização social da relação entre os sexos [...] Historicizar o uso
de um termo com a potência política e contestatória da categoria gênero é importante para que entendamos
por que, no presente, estamos assistindo a um recrudescimento conservador que procura realocar no campo
da natureza as desigualdades sociais. [...]
[20] Pensar em gênero por esse prisma é ampliar para além do corpo, da anatomia e do biológico as
experiências femininas e masculinas, percebendo que construímos nosso gênero de forma relacional, ou seja,
nas relações sociais, as quais abarcam as instituições pedagogizantes (família, escola, igrejas), de forma que
somos orientadas e orientados pelos valores hegemônicos de cada tempo e lugar, sejam para reiterar esses
valores ou para enfrentá-los.
[25] Uma das maneiras de se fazer esses enfrentamentos passa, justamente, pela forma de se construir
conhecimento, quer dizer, propor outras maneiras de se pensar o mundo, as relações humanas e, assim,
de fazer ciência. Esse lugar assegurado de produção de verdades passa a ser contestado pelos discursos
feministas. [...]
O potencial iconoclasta do conceito de gênero se evidencia desde os escritos seminais de Simone de
[30] Beauvoir, ainda que ela não tenha se valido dele para denunciar a ciência como um discurso masculinista.
Discurso este que construiu “a representação do mundo, como o próprio mundo (…). Eles [os homens] os
descrevem do ponto de vista que lhes é peculiar e que confundem com a verdade absoluta”. De forma que
esses enunciados, de verdade, legitimaram posições de senso comum que colocam, até o presente, as mulheres
como incomensuravelmente distintas dos homens, como seu “outro”, exterior e inferior a eles mesmos. [...]
[35] Os homens criam os mitos da cultura ocidental e, entre estes, está o mito da Mulher, acompanhado
também pela mitologia comum das “figuras masculinas convencionais”. Assim, a humanidade é dividida em
duas classes, criando-se, como diz Beauvoir, um tipo de “conceito platônico” da noção de Mulher – uma Ideia
ou Verdade transcendental imutável: “Assim, à existência dispersa, contingente e múltipla das mulheres, o
pensamento mítico opõe o Eterno Feminino único e cristalizado”. Esse mito é fruto de relações de poder e se
[40] constrói para servi-las, pois como afirma Beauvoir de forma contundente: “Poucos mitos foram mais vantajosos
do que esse para a casta dominante: justifica todos os privilégios e autoriza mesmo abusar deles”.
O que os feminismos, em suas distintas expressões políticas, vêm propondo é altamente desestabilizador
do status quo. Se a ciência tem se constituído como o discurso hegemônico do ocidente para propor soluções,
articular análises sobre fenômenos diversos e instituir verdades sobre o mundo, entende-se que enfrentar
[45] criticamente essas verdades, denunciando seus vícios de origem e suas lacunas silenciadoras, desestabiliza
privilégios, mas, mais que isso, exige que desenvolvamos outro vocabulário para falar do presente.
VOCABULÁRIO
Alijamento: exclusão.
Epistemologia: estudo sobre conhecimento científico seus diferentes métodos, suas teorias e práticas; teoria da ciência.
Beligerante: que está em guerra.
Recrudescimento: aumento; intensificação.
Iconoclasta: oposição à tradição.
Status quo: estado vigente; contexto atual.
Fonte: http://www.aulete.com.br/. Acesso em: 02 abr. 2018.
Considerando a leitura integral do texto, assinale a alternativa correta:
Texto
O gênero da ciência ou sobre silêncios e temores em torno de uma epistemologia feminista
“Elas recebem menos convites para avaliar o trabalho de seus pares. E meninas se veem como menos brilhantes desde os 6 anos”. Editoria de Ciências – El País
[1] A notícia saiu no início de 2017, trazendo dados de duas pesquisas científicas sobre o alijamento de mulheres
do campo de investigações acadêmicas. A reportagem é ilustrada pela foto de divulgação do hollywoodiano
"Estrelas além do tempo". Naquele filme, racismo, sexismo, machismo e conservadorismo político se juntam
à alta tecnologia beligerante da Guerra Fria. Nada mais representativo do mundo das ciências. O mundo
[5] que tem a razão como seu alicerce. A mesma qualidade que sustenta nossas percepções vulgares sobre o
comportamento masculino. Homem => razão => civilização => branquitude => ciência => verdade. Equação que
não apareceu nos infindos cálculos das protagonistas do filme, mas que definiu calculadamente o silêncio que
se instituiria sobre a participação crucial daquelas mulheres na “corrida espacial”.
Mais de meio século separam "Estrelas além do tempo" e a matéria do jornal El País. Neste ínterim,
[10] sociedades de matriz ocidental assistiram ao crescimento dos movimentos identitários, dentre estes, o
movimento feminista, manifestado em diferentes correntes políticas e de luta, mas com um elemento em
comum: contestar o lugar naturalizado de opressão que justificava politicamente a desigualdade entre homens
e mulheres. Naquele momento ainda não se falava em gênero como categoria de análise social. Mesmo no
campo dos estudos feministas, trabalhava-se muito mais com a categoria “mulher”.
[15] Mais recentemente [...] as feministas começaram a utilizar a palavra “gênero” mais seriamente, no sentido
mais literal, como uma maneira de referir-se à organização social da relação entre os sexos [...] Historicizar o uso
de um termo com a potência política e contestatória da categoria gênero é importante para que entendamos
por que, no presente, estamos assistindo a um recrudescimento conservador que procura realocar no campo
da natureza as desigualdades sociais. [...]
[20] Pensar em gênero por esse prisma é ampliar para além do corpo, da anatomia e do biológico as
experiências femininas e masculinas, percebendo que construímos nosso gênero de forma relacional, ou seja,
nas relações sociais, as quais abarcam as instituições pedagogizantes (família, escola, igrejas), de forma que
somos orientadas e orientados pelos valores hegemônicos de cada tempo e lugar, sejam para reiterar esses
valores ou para enfrentá-los.
[25] Uma das maneiras de se fazer esses enfrentamentos passa, justamente, pela forma de se construir
conhecimento, quer dizer, propor outras maneiras de se pensar o mundo, as relações humanas e, assim,
de fazer ciência. Esse lugar assegurado de produção de verdades passa a ser contestado pelos discursos
feministas. [...]
O potencial iconoclasta do conceito de gênero se evidencia desde os escritos seminais de Simone de
[30] Beauvoir, ainda que ela não tenha se valido dele para denunciar a ciência como um discurso masculinista.
Discurso este que construiu “a representação do mundo, como o próprio mundo (…). Eles [os homens] os
descrevem do ponto de vista que lhes é peculiar e que confundem com a verdade absoluta”. De forma que
esses enunciados, de verdade, legitimaram posições de senso comum que colocam, até o presente, as mulheres
como incomensuravelmente distintas dos homens, como seu “outro”, exterior e inferior a eles mesmos. [...]
[35] Os homens criam os mitos da cultura ocidental e, entre estes, está o mito da Mulher, acompanhado
também pela mitologia comum das “figuras masculinas convencionais”. Assim, a humanidade é dividida em
duas classes, criando-se, como diz Beauvoir, um tipo de “conceito platônico” da noção de Mulher – uma Ideia
ou Verdade transcendental imutável: “Assim, à existência dispersa, contingente e múltipla das mulheres, o
pensamento mítico opõe o Eterno Feminino único e cristalizado”. Esse mito é fruto de relações de poder e se
[40] constrói para servi-las, pois como afirma Beauvoir de forma contundente: “Poucos mitos foram mais vantajosos
do que esse para a casta dominante: justifica todos os privilégios e autoriza mesmo abusar deles”.
O que os feminismos, em suas distintas expressões políticas, vêm propondo é altamente desestabilizador
do status quo. Se a ciência tem se constituído como o discurso hegemônico do ocidente para propor soluções,
articular análises sobre fenômenos diversos e instituir verdades sobre o mundo, entende-se que enfrentar
[45] criticamente essas verdades, denunciando seus vícios de origem e suas lacunas silenciadoras, desestabiliza
privilégios, mas, mais que isso, exige que desenvolvamos outro vocabulário para falar do presente.
VOCABULÁRIO
Alijamento: exclusão.
Epistemologia: estudo sobre conhecimento científico seus diferentes métodos, suas teorias e práticas; teoria da ciência.
Beligerante: que está em guerra.
Recrudescimento: aumento; intensificação.
Iconoclasta: oposição à tradição.
Status quo: estado vigente; contexto atual.
Fonte: http://www.aulete.com.br/. Acesso em: 02 abr. 2018.
A ilustração abaixo faz parte do projeto “Coisa de Mulher”. Segundo Raquel Vitorelo, artista que criou o projeto em 2015, a proposta “consiste na criação de ilustrações que buscam resgatar e homenagear mulheres históricas, mostrando que ‘coisa de mulher’ é muito mais do que somos levados a acreditar, trazendo assim evidência de que a história é construída por mulheres de todos os tipos, em todas as áreas do conhecimento, do esporte e das artes”
Considerando as possíveis relações entre a campanha “Coisa de Mulher” e o texto, avalie as afirmações abaixo.
I- A ilustração, ao utilizar como slogan a expressão “coisa de mulher”, opõe-se à noção de gênero apresentada no texto, pois reafirma que existem papéis exclusivamente femininos.
II- Assim como no texto, a referência a Simone de Beauvoir na ilustração problematiza a noção naturalizada acerca do que é ser mulher, mostrando que essa é uma construção histórica e social.
III- A campanha “Coisa de mulher” estabelece uma relação de confronto com o mito da Mulher, trazendo, por meio de suas ilustrações, a “existência múltipla das mulheres” em oposição ao “Eterno Feminino único e cristalizado”.
Julga-se como correto o que se apresenta em:
Em relação à tirinha acima, NÃO está correto o que se afirma em:
Texto
Estrelas além do tempo
Alex Gonçalves
Após todas as discussões sobre representatividade que permearam o último ano hollywoodiano, “Estrelas Além do Tempo” [2016] se apresenta para o público com um timing perfeito. Há tempos não nos víamos inseridos em um cenário no qual as ideologias reacionárias estão tão evidentes, assim como os protestos em busca pela igualdade. Portanto, nada melhor do que a ficção para nos relembrar de outros períodos também nefastos que não calaram a atuação de heróis anônimos.
No caso de “Estrelas Além do Tempo”, temos uma história que enaltece três figuras reais da NASA até então mantidas anônimas. Tratam-se de Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), três mulheres negras essenciais para o sucesso da missão do astronauta John Glenn (Glen Powell) em alcançar a lua.
Entretanto, estamos aqui nos não tão distantes anos 1960, em uma Virgínia segregada e com poucos afroamericanos exercendo profissões que exigem um perfil lógico. Por isso mesmo, as vidas de Katherine, Dorothy e Mary foram triplamente difíceis justamente pela raça e gênero a que pertencem.
Sempre unidas antes e após o expediente de trabalho, essas mulheres enfrentam sozinhas em suas competências os preconceitos que impedem as suas evoluções. Solicitada pelo departamento comandado por Al Harrison (Kevin Costner) para fazer os cálculos que devem assegurar o sucesso da decolagem do foguete que lançará John Glenn às alturas, Katherine é diariamente hostilizada pelos colegas, todos homens e brancos. Já em seu setor, Dorothy tem todos os seus pedidos de promoção sabotados pelo intermédio de Vivian (Kirsten Dunst), enquanto Mary não consegue desempenhar a função de engenheira por ser impedida de ingressar em uma universidade.
Mesmo com todas essas circunstâncias, elas não desistirão de provar as singularidades que possuem, visualizando os obstáculos não como limites, mas como incentivos para continuarem perseverando. Temos com isso aquele modelo de narrativa cinematográfica que encanta desde os tempos do tramp de Charlie Chaplin, no qual a vontade para ganhar um lugar ao sol é maior do que as adversidades.
Diretor de “Um Santo Vizinho”, Theodore Melfi se apropria do texto de Allison Schroeder compreendendo muito bem as características desse cinema inspirado e inspirador, contornando com traços ficcionais uma história real para ser efetivo principalmente em seus gritos de protesto. É especialmente arrebatadora a explosão de Katherine ao finalmente externar a sua humilhação ao precisar se prestar a um trajeto de mais de um quilômetro para ir ao banheiro exclusivo para negros. Não ficam muito atrás o fervor de Dorothy e Mary em se provarem extremamente capazes de enfrentar novos desafios.
Além do mais, Melfi conduz com uma fluidez invejável algo que, em teoria, não tem qualquer encanto. Mesmo o mais avesso aos raciocínios de exatas se verão imediatamente hipnotizados com números e fórmulas que se revelam não somente como uma ciência complexa, como também como instrumentos sociais que só engrenam quando os seus operadores se reconhecem como semelhantes.
Publicado em 09/02/2017. Disponível em: http://cineresenhas.com.br/2017/02/09/resenha-critica-estrelas-alem-do-tempo-2016/. Acesso em: 30/03/2018.
De acordo com o autor, “Estrelas além do tempo” apresenta um “timing perfeito” porque: