Obra central da primeira exposição de Tarsila do Amaral em Paris, pode-se dizer que essa pintura contribuiu com o contexto da pintura de cenas nacionais estereotipadas para exportação. A favela aparece romantizada, higienizada, sem privações, conflitos, repressão policial ou contrastes sociais, mas como um modo de vida interiorano em meio à cidade.
Internet: medium.com (com adaptações).
Considerando a obra Morro da Favela, de Tarsila do Amaral, e o texto precedente, julgue o item a seguir.
Sem recursos financeiros ou auxílio de políticas públicas de habitação, a maioria da população negra, com o fim da escravidão, ocupou os morros, áreas de difícil urbanização e pouco valorizadas pelo mercado imobiliário.
Quebranto
às vezes sou o policial que me suspeito
me peço documentos
e mesmo de posse deles
me prendo
e me dou porrada
às vezes sou o porteiro
não me deixando entrar em mim mesmo
a não ser
pela porta de serviço
às vezes sou o meu próprio delito
o corpo de jurados
a punição que vem com o veredicto
às vezes sou o amor que me viro o rosto
o quebranto
o encosto
a solidão primitiva
que me envolvo no vazio
(...)
Cuti. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza, 2010.
Com base no poema Quebranto, apresentado anteriormente, julgue o item.
A proposição de ações afirmativas, que garantem a negras e negros vagas em posições de prestígio social, e políticas culturais de fomento à cultura de matriz africana visa alterar a forma como a população negra se vê e como ela é vista, de maneira a combater, a longo prazo, o racismo estrutural.
Cálice
Como beber dessa bebida amarga?
Tragar a dor, engolir a labuta?
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta.
Chico Buarque e Gilberto Gil
Cálice (versão)
Há preconceito com o nordestino
Há preconceito com o homem negro
Há preconceito com o analfabeto
Mas não há preconceito se um dos três for rico, pai
A ditadura segue meu amigo Milton
A repressão segue meu amigo Chico
Me chamam Criolo e o meu berço é o rap
Mas não existe fronteira pra minha poesia, pai.
Criolo
Com relação à canção Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil, e à versão dessa canção feita pelo rapper Criolo, julgue o item.
Décadas após a redemocratização brasileira, denúncias levaram o Estado brasileiro a instaurar a Comissão Nacional da Verdade, com o objetivo de promover o esclarecimento circunstanciado de crimes cometidos durante o regime militar.
O poder corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas também para agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e permanece em existência apenas enquanto o grupo se conserva unido. Quando dizemos que alguém está “no poder”, na realidade nos referimos ao fato de que ele foi empossado por um certo número de pessoas para agir em seu nome. A partir do momento em que desaparece o grupo do qual se originara o poder desde o começo, “seu poder” também se esvanece. Em seu uso corrente, quando falamos de um “homem poderoso” ou de uma “personalidade poderosa”, já usamos a palavra poder metaforicamente; aquilo a que nos referimos sem a metáfora é o vigor. O vigor, de modo inequívoco, designa algo no singular, uma entidade individual; é a propriedade inerente a um objeto ou a uma pessoa e pertencente ao seu caráter, podendo provar-se a si mesmo na relação com outras coisas ou pessoas, mas sendo essencialmente diferente delas.
A hostilidade quase instintiva dos muitos contra o único tem sido sempre atribuída, de Platão a Nietzsche, ao ressentimento, à inveja dos fracos aos fortes, mas essa interpretação psicológica não atinge o alvo. É da natureza de um grupo e de seu poder voltar-se contra a independência, a propriedade do vigor individual.
Hannah Arendt. Sobre a violência. (com adaptações).
Grândola, Vila Morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, a igualdade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Zeca Afonso. Grândola, Vila Morena. Versão da Banda 365.
A partir do fragmento do texto Sobre a violência, de Hannah Arendt, e da letra da canção Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, anteriormente apresentados, julgue o item.
A canção Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, tornou-se um símbolo musical contra ditaduras e fascismos na luta pela democracia, um tema da filosofia política.
A transmissão dessa canção pelo rádio em Portugal, no dia 25 de abril de 1974, serviu de mote para o levante conhecido como
Pessoas que cresceram escutando histórias profundas reportam eventos que não estão na literatura, nas narrativas oficiais, e que atravessam do plano da realidade cotidiana para um plano mítico de narrativas e contos. É o mais velho contando uma história, ou um mais novo que teve uma experiência que pode compartilhar com o coletivo ao qual ele pertence, e isso vai integrando um sentido da vida, enriquecendo a experiência da vida de cada sujeito, mas constituindo um sujeito coletivo.
Essa percepção do sujeito coletivo surge muito cedo para nós. Eu devia ter uns 17 anos de idade quando eu, meus pais, irmãos, um tio e alguns primos mais novos fomos todos engolfados numa caravana, saindo do nosso lugar de origem, para buscar outro pouso, outro lugar para continuarmos vivendo.
Nós saímos do Rio Doce para o mundo. Esse grupo que saiu do Rio Doce por volta de 1966-1967 tinha experimentado a dissolução dos coletivos pela violência que chegava lá devido à ocupação daquele território, com disputa de terra, conflitos fundiários agudos e uma negação permanente do direito de a gente ser e de ter uma experiência de viver coletivos.
Nossos vizinhos tinham sítios, inclusive aqueles que tomaram a terra dos índios tinham pequenas propriedades. A maneira de existir coletivamente não cabia mais naquele lugar, e ficou inviável para a gente como coletivo naquele lugar. Os que estavam resistindo faziam isso à custa da própria vida; tinha gente sendo assassinada, porque não cabiam mais naquele lugar. Tivemos que buscar outro lugar.
Jailson de Souza e Silva. Ailton Krenak – A potência do sujeito coletivo. Entrevista. Internet:revistaperiferias.org (com adaptações).
Considerando o fragmento de texto anterior, extraído de uma entrevista concedida pelo intelectual indígena Ailton Krenak, bem como a partir do vídeo A questão indígena em 4 minutos, julgue o item.
Krenak faz referência a um contexto de violências contra povos indígenas que se intensificou na década de 60 do século XX em meio às políticas desenvolvimentistas impulsionadas pela implantação do regime civil-militar no Brasil, período em que milhares de indígenas morreram vítimas de violências e epidemias.
Pessoas que cresceram escutando histórias profundas reportam eventos que não estão na literatura, nas narrativas oficiais, e que atravessam do plano da realidade cotidiana para um plano mítico de narrativas e contos. É o mais velho contando uma história, ou um mais novo que teve uma experiência que pode compartilhar com o coletivo ao qual ele pertence, e isso vai integrando um sentido da vida, enriquecendo a experiência da vida de cada sujeito, mas constituindo um sujeito coletivo.
Essa percepção do sujeito coletivo surge muito cedo para nós. Eu devia ter uns 17 anos de idade quando eu, meus pais, irmãos, um tio e alguns primos mais novos fomos todos engolfados numa caravana, saindo do nosso lugar de origem, para buscar outro pouso, outro lugar para continuarmos vivendo.
Nós saímos do Rio Doce para o mundo. Esse grupo que saiu do Rio Doce por volta de 1966-1967 tinha experimentado a dissolução dos coletivos pela violência que chegava lá devido à ocupação daquele território, com disputa de terra, conflitos fundiários agudos e uma negação permanente do direito de a gente ser e de ter uma experiência de viver coletivos.
Nossos vizinhos tinham sítios, inclusive aqueles que tomaram a terra dos índios tinham pequenas propriedades. A maneira de existir coletivamente não cabia mais naquele lugar, e ficou inviável para a gente como coletivo naquele lugar. Os que estavam resistindo faziam isso à custa da própria vida; tinha gente sendo assassinada, porque não cabiam mais naquele lugar. Tivemos que buscar outro lugar.
Jailson de Souza e Silva. Ailton Krenak – A potência do sujeito coletivo. Entrevista. Internet:revistaperiferias.org (com adaptações).
Considerando o fragmento de texto anterior, extraído de uma entrevista concedida pelo intelectual indígena Ailton Krenak, bem como a partir do vídeo A questão indígena em 4 minutos, julgue o item.
Os direitos assegurados aos indígenas na Constituição Federal de 1988 são resultantes de grande mobilização capitaneada pelo movimento indígena e seus aliados desde a década de 70 do século passado.