Leia trecho do ensaio “O que significa ‘pensar’?”, de Francis Wolff, para responder à questão.
Para os Antigos, a ciência é um saber racional acabável. Aquele que “possui” a ciência ou o saber sabe tudo o que é possível saber sobre qualquer coisa. Embora na verdade nenhum homem saiba tudo sobre qualquer coisa, embora nenhuma ciência seja acabada ainda, mesmo assim a ciência sobre algo é por definição acabável. Mesmo que não saibamos tudo hoje sobre a Lua e o Sol, saberemos um dia explicar completamente o que são e por quê se movem daquele jeito, naquela velocidade, naquela distância etc. Dito de outra maneira, a convicção do saber científico antigo baseia-se na possibilidade pelo menos teórica de um saber total e unificado. O modelo do saber é a demonstração matemática, que parte de princípios certos e deles tira todas as consequências possíveis.
A ciência moderna, pelo contrário, é marcada pelo menos desde o século XVIII pela ideia do progresso indefinido. Sabemos hoje que sabemos mais do que ontem, mas também sabemos que nunca saberemos tudo. Não somente porque sabemos que existem limites absolutos ao pensamento humano (nunca conheceremos as primeiríssimas causas, os primeiros princípios: por que existe um mundo, e por que existe este mundo e não outro, e por que existem estas leis da natureza e não outras), mas também porque a condição do conhecimento científico é a divisão entre as diferentes disciplinas científicas (não há uma ciência, mas uma diversidade de ciências heterogêneas); revela-se impossível ou pelo menos não científico ter como intenção reuni-las num só corpus de saber. A ideia de saber total é hoje contraditória com a ideia de ciência. É por isso que desde o advento da Modernidade esta ideia de ciência é associada à de “pesquisa”. Para nós, a ciência é a indefinida “pesquisa científica”. Acontece que, para um grego da Antiguidade, a ideia de “pesquisa científica” representaria uma contradição nos termos. Enquanto uma pessoa pesquisa, significa que ela não faz ciência, ou pelo menos que ela não possui a ciência. É até por causa disso que os céticos, isto é, precisamente aqueles que não acreditam na possibilidade do saber, se definem como “pesquisadores”. É porque acham que a ciência é impossível que eles atribuem ao pensamento a tarefa indefinida de continuar a pesquisar.
(Adauto Novaes (org.). Mutações: a experiência do pensamento, 2010.)
De acordo com o texto,