A diferenciação do português europeu com o português brasileiro não seria como a diferença entre o inglês americano e o inglês britânico?
Cada país tem a sua história. A história da formação econômica, social e linguística do Brasil é muito diferente da história dos Estados Unidos e da do Quebec [maior província do Canadá], por exemplo. As pessoas perguntam “por que você está dizendo que existe o português brasileiro? Existe o espanhol argentino? Existe o espanhol mexicano? Existe o inglês americano?”. Existe, sim. Mas as circunstâncias históricas da formação do português brasileiro são muito diferentes da formação do inglês americano, por exemplo. Basta lembrar que até 1960 era proibido por lei nos Estados Unidos o casamento entre pessoas negras e brancas. No Brasil, desde quando os portugueses vieram para cá faziam a festa com as índias e as escravas, também. Então, a formação étnica da nossa população é muito diferente da formação étnica dos Estados Unidos. Por isso Caetano Veloso [cantor e compositor brasileiro] diz que nos EUA preto é preto e branco é branco e a mulata “não é a tal”, porque lá não existe mulata. É raríssimo encontrar nos EUA uma pessoa que seja mestiça de branco com negra, ou de negro com branca, porque até “ontem”, em 1960, isso era proibido por lei. A miscigenação no Brasil foi muito mais intensa e, evidentemente, a miscigenação linguística também. O português foi língua minoritária no Brasil durante todo o período colonial. Falava-se como língua geral o tupi e nossa população, até a época da Independência, era 75% mestiça. O português só muito recentemente se tornou a língua hegemônica no Brasil. Esses contatos linguísticos do português com as línguas africanas e indígenas é o que configura o português brasileiro, diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos e no Quebec. Nosso período colonial começa em 1500; no Quebec, depois de 1600, portanto, são cento e tantos anos de diferença. Os portugueses vieram para cá explorar, já os ingleses foram para os EUA fugindo da perseguição religiosa. Portanto, foi outro tipo de colonização, são outras histórias.
Adaptado de entrevista concedida pelo linguista Marcos Bagno ao Jornal Opção. Disponível em http://www.jornalopcao.com.br/entrevistas/o-portugues-brasileiro-precisa-ser-reconhecido-como-uma nova-lingua-e-isso-e-uma-decisao-politica-37991/. Acesso em 15/10/2015.
Em relação ao texto, considere as afirmativas abaixo.
I. O autor critica a formação linguística do Brasil, por conta do abuso que essa formação significou para a população negra brasileira.
II. O tema central do texto é a formação étnica do povo brasileiro que, tendo em vista os processos de colonização, é mais ampla e diversa do que a formação dos Estados Unidos e do Quebec.
III. O autor corrobora as ideias de Caetano Veloso apresentadas no texto.
IV. O tupi, por ter sido a língua majoritária no Brasil colonial, é defendido pelo autor como a base do idioma falado no Brasil atual.
Está CORRETO o que se afirma em