“Ela veio de longe, do São Francisco. Um dia, tomou caminho, entrou na boca aberta do Pará, e pegou a subir. Cada ano avançava um punhado de léguas, mais perto, mais perto, pertinho, fazendo medo no povo, porque era sezão da brava da tremedeira que não desamontava — matando muita gente”. [...]
“O mosquito fêmea não ferroa de-dia; está dormindo, com a tromba repleta de maldades; somente as larvas, à flor do charco, comem-se umas às outras” [...]
“Primo Ribeiro dormiu mal e o outro não dorme quase nunca. Mas ambos escutaram o mosquito a noite inteira. [...] É de tardinha, quando as mutucas convidam as muriçocas de volta para casa, e quando o carapanã rajado mais o moçorongo cinzento se recolhem que ele aparece, o pernilongo pampa, pés de prata e asas de xadrez.” [...]
“Enquanto as fêmeas sugam, todos os machos montam guarda, psalmodiando tremido, numa nota única, em tom de dó. E, uma a uma, aquelas já fartas de sangue abrem recitativo, esvoaçantes, uma oitava mais baixo, em meiga voz de descante, na orgia crepuscular. Mas, se ele vem na hora do silêncio, quando o quinino zumbe na cabeça do febrento, é para consolar”. [...] “E, quando a febre toma conta do corpo todo, ele parece, dentro da gente, uma música santa, de outro mundo”.
Adaptado de Guimarães Rosa
Os trechos reproduzidos, do conto Sarapalha, do livro Sagarama de Guimarães Rosa, referem-se a uma parasitose comum em regiões de clima tropical e subtropical. Essa doença é a: