Com base neste Texto, responda à questão.
Texto
Vem uma pessoa
Rubem Braga
Vem uma pessoa de Cachoeiro de
Itapemirim e me dá notícias melancólicas. Numa
viagem pelo interior, em estradas antigamente
belas, achou tudo feio e triste. A estupidez e a
[5] cobiça dos homens continua a devastar e exaurir a
terra.
Mas não são apenas notícias tristes que
me chegam da terra. Ouço nomes de velhos
amigos e fico sabendo de histórias novas. E a
[10] pessoa que me fala da praia – de Marataízes – e
diz que ainda continua reservado para mim aquele
pedaço de terra, em cima das pedras, entre duas
prainhas. Ali um dia o velho Braga, juntando os
tostões que puder ganhar batendo em sua
[15] máquina, levantará sua casa perante o mar da
infância. Ali plantará árvores e armará sua rede e
meditará talvez com tédio e melancolia na vida que
passou.
Esse dia talvez ainda esteja muito longe, e
[20] talvez não exista. Mas é doce pensar que o
nordeste está lá, jogando as ondas bravas e fiéis
contra as pedras de antigamente; que milhões de
vezes a espumarada recua e ferve, escachoando,
e outra onda se ergue para arremeter contra o
[25] pequeno território em que o velho Braga construiu
sua casa de sonho e de paz.
Como será a casa? Ah, amigos arquitetos,
vocês me façam uma coisa tão simples e tão
natural que, entrando na casa, morando na casa, a
[30] gente nunca tenha a impressão de que, antes de
fazê-la, foi preciso traçar um plano; tenha a
impressão de que é assim mesmo e naturalmente
deveria ser assim; e que a ninguém sequer ocorra
que ela foi construída, mas existe naturalmente,
[35] desde sempre e para sempre, tranquila, boa e
simples. Uma casa, Caloca, em que não se tenha,
de vez em quando, a consciência de se estar em
uma determinada casa, mas apenas de estar em
casa.
[40] Que árvores plantarei? A terra certamente
é ruim, além de pequena, e eu talvez não possa ter
uma fruta-pão nem um jenipapeiro; talvez
mangueiras e coqueiros para dar sombra e música;
talvez...
[45] Mas nem sequer o pedaço de terra ainda é
meu; meus títulos de propriedade são apenas
esses devaneios que oscilam entre a infância e a
velhice, que me levam para longe das inquietações
de hoje. Que rei sou eu, Braga Sem Terra, Rubem
[50] Coração de Leão de Circo, triste circo
desorganizado e pobre, em que o palhaço cuida do
elefante e o trapezista vai pescar nas noites sem
lua com a rede de proteção, e a luz das estrelas e
a água da chuva atravessam o pano encardido e
[55] roto...
Mas me sinto subitamente sólido; há
alguns metros, nestes 8 mil quilômetros de costa,
onde posso plantar minha casa nos dias de aflição
e de cansaço, com pedras de ar e telhas de brisa;
[60] e os coqueiros farfalham, um sabiá canta meio
longe, e me afundo na rede, e posso dormir para
sempre ao embalo do mar...
Apud ROSSIGNOLI, Walter. Português - Teoria e Prática. Ed. Ática, 2002, p. 168.
Apenas uma das alternativas a seguir não apresenta um adjetivo atribuído pelo cronista à casa dos seus sonhos, no 4º parágrafo.
Qual?