TEXTO 01
Palavra e prestígio social
01 O vocabulário de cada cultura é bem amplo para os assuntos que lhe tocam de perto, e restrito para aqueles nos quais não tem interesse direto. Para designar a cor da neve, os esquimós têm um número elevado de vocábulos, assim como o árabe para designar tipos de camelos. As línguas realizam o recorte do mundo de maneiras diversas; daí a dificuldade na elaboração das traduções. Há nuanças e escala de valores. O sentido de uma palavra vai assim depender de associações resultantes de comparações, cargas emocionais e de preconceitos da comunidade.
02 As impressões que uma palavra produz procedem do passado, mas podem se modificar. Curtir um couro não é o mesmo que curtir uma festa. Abertura das aulas significa início, abertura de um muro é passagem. A mesma palavra toma sentidos diferentes ao mudar o gênero, o número e o grau. O chefe do gabinete - o chefão dos mafiosos / O cobra - a cobra/ O cabra - a cabra. [...]
03 Na linguagem, refletem-se não apenas a maneira de pensar e a evolução dos acontecimentos, mas também os preconceitos e tabus sociais. O ato de roubar é nomeado de acordo com a posição social do sujeito que o praticou. O gerente desviou o dinheiro. O marginal assaltou o banco. A função social da linguagem é permitir a compreensão entre os membros de uma comunidade. Muitas vezes a palavra exata é constrangedora em determinado momento, usando-se então uma expressão atenuadora, o eufemismo.
04 A raça, o sexo, o estado natal ou a condição social, usados para designar qualidade boa ou má, revelam também preconceitos. Programa de índio é um programa desagradável [...]. Homem público é valorativo, mulher pública é depreciativo. Evidenciando a escala de valores na sociedade patriarcal, o gênero masculino sempre prevalece sobre o feminino, seja nas concordâncias nominais, seja nos verbetes do dicionário.
05 O prestígio da linguagem das classes sociais elevadas é enorme, pois a maneira de falar de um superior sempre nos parece invejável como símbolo de uma vida suposta como ideal. Sempre desdenhamos os hábitos linguísticos vindos do que consideramos inferior, seja região geográfica ou classe social.
06 No entanto, os usos procedentes do Centro-Sul, do eixo Rio-São Paulo, são logo socializadas. Seu padrão de vida é tido como invejável e imitável, além de exportado pela TV para todo o país.
CARVALHO, N. Crônicas do cotidiano. Disponível em: pdf>. Acesso em: 20 set. 2015. (Adaptado).
Como ideia global do texto 01, a autora apresenta o ponto de vista de que: