O texto abaixo é referência para a questão.
Razão não depende de geografia
Somos um país de pobres que detesta a pobreza. Aprendemos que ela é abjeta e que em seu interior há pouca chance de dignidade. “Cara de pobre”, “coisa de pobre”, “pobreza pega”. O que é dito como brincadeira guarda seus enunciados de verdade. Logo, é comum soltar um “os pobres precisam parar de ter filhos”. Logo, “um país rico é um país sem pobreza”, como disse um dia uma propaganda governamental. Logo, os pobres deviam mesmo parar de votar. E onde mora a pobreza do Brasil? Naquele torrão distante e seco denominado Nordeste, a região cristalizada pelo tempo (e por novelas e comerciais e livros e quadros e filmes) como a responsável tanto por guardar as coloridas tradições de um Brasil profundo quanto a vergonha da fome e da incapacidade de reflexão.
Essa seara com 57,36 milhões de habitantes de todas as classes sociais está prestes a surgir novamente nas mídias carregando todas essas marcas: nas eleições das duas últimas décadas, o Nordeste foi o protagonista nas falas daqueles que vieram a público explicitar como votamos mal, como conduzimos o país ao abismo, como nossa baixa escolaridade e nossa barriga vazia nos têm feito prezar por nomes que levam todo o país ao caos. […]
Um primeiro tapa ao pé do ouvido: nossa ideia do que significa “esclarecimento” está morrendo por inanição. […] Nossa civilidade partida também pode ser aferida pelo fato de termos atualmente um grande número de pessoas acessando um mar de informação por meios virtuais (são 116 milhões de usuários de internet, segundo o IBGE) ao mesmo tempo que elegemos em 2014 o Congresso Nacional mais conservador desde o golpe militar de 1964. Mas, ainda assim, entendemos que são as pessoas “desinformadas”, pauperizadas e menos escolarizadas – no imaginário nacional, nordestinas – que possuem pouca capacidade para decisões objetivas, já que as suas escolhas são orientadas somente por necessidade. […]
Assim, situar o “mau” voto nos nordestinos, nos “esfomeados do Bolsa Família” ou, enfim, na pobreza é uma estratégia também voltada para a desmobilização: se nos referimos aos pobres como universitários ou trabalhadores – ambulantes, manicures, lavradores, empregadas domésticas – damos uma cara a esse voto. Damos voz, corpo e, perceba, racionalidade. Esta última é, no final, a palavra em disputa: quem a detém consegue, em um jogo que é seu, mas é vendido como de todos, o poder de determinar quem são os outros – ou o pessoal da geral, aqueles que precisam continuar na plateia.
(Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/razao-nao-depende-de-geografia/. Acesso em 22, ago. 2018.)
No trecho “Nossa civilidade partida também pode ser aferida pelo fato de termos atualmente um grande número de pessoas acessando um mar de informação por meios virtuais (são 116 milhões de usuários de internet, segundo o IBGE) ao mesmo tempo que elegemos em 2014 o Congresso Nacional mais conservador desde o golpe militar de 1964”, a palavra em destaque pode ser substituída, sem alteração de significado, pelo termo: