TEXTO
O acesso à educação
(1) Há pouco mais de um século, o Brasil conseguiu abolir a vergonhosa escravização de seres humanos. Mas, nossa abolição da escravatura não resolveu outro tipo de escravatura: a exclusão absoluta, principalmente daquilo que hoje consideramos um direito básico da humanidade – o acesso ao conhecimento, à educação.
(2) A exclusão do conhecimento é a principal causa de todas as demais exclusões. Para se ter uma ideia, em 1928, 80% dos alunos que estudavam no equivalente ao ensino médio frequentavam escolas católicas, particulares, pagas. Quem eram esses estudantes? Filhos da elite. 70% dos que nasciam naquela época estavam condenados ao analfabetismo.
(3) A cultura que fomos criando nesse país foi a cultura fidalga, a ideia de quem nasce em berço de ouro não precisa esforçar-se, não precisa trabalhar – isso é coisa de escravo! – não precisa estudar, não precisa ler, pois sua situação de privilégio seria um direito de nascença.
(4) Há uma frase imortal de Confúcio que nos serve como nunca agora, nos alvores de um novo milênio totalmente tecnológico, baseado no conhecimento: “Onde houver boa educação não haverá distinção de classes.” Nossa história tem sido a da eternização da injusta divisão de privilégios através da negação da escola para todos. Vamos mudar a história da exclusão. Podemos fazê-lo! Para isso, precisamos mexer em nossa própria maneira de ver a educação. Por causa da tradição cultural a que me referi, este é um país onde a luta pelo conhecimento e pela leitura não faz parte de nossos valores maiores. Mesmo nossas elites, que podem comprar livros, leem pouco. Quem trabalha em educação sabe que muitos pais de classe média se sacrificam para comprar os tênis da moda para seu filho, mas esperneiam quando a professora pede a compra de um livro.
(5) Nossa civilização começou com o arrasamento do paubrasil deste país para tingir os veludos das cortes europeias e foi-se desenvolvendo até chegar a nossos dias, quando a posse do carro do ano é mais importante do que ter uma pequena biblioteca em casa.
(6) Nosso problema não é apenas problema do governo, mas de todos nós. Hoje, há escolas para quase todos. Mas, temos de lutar para que elas melhorem sua qualidade de atuação.
(Pedro Bandeira. O ofício de escrever para quem não gosta de ler. Fragmento da conferência proferida no II Congresso Internacional de Educação. Recife, 2003. Adaptado).
No segundo parágrafo, o autor interroga: “Quem eram esses estudantes?” Essa pergunta constitui: