Escola e Família
Zero Hora, 2 de setembro de 2012
[1] A ideia de que a aprendizagem é um problema
da escola, a quem os pais devem delegar a atri-
buição exclusiva de ensinar – como se, ao cruzar
os portões da instituição, as crianças se despis-
[5] sem da condição de indivíduos situados num con-
texto sociofamiliar específico – é mais arraigada
do que se costuma admitir. É comum ouvir-se, em
encontros de pais, expressões como “Quem tem
de ensinar é a escola”, “Não tenho tempo para to-
[10] mar lição em casa”, ou, pior ainda, “Estou pagan-
do, o colégio que faça a sua parte”.
Nesses casos específicos, a culpa não é da
sociedade contemporânea, mas da mentalidade
herdada de um passado já distante, quando o en-
[15] sino tinha caráter confessional. Mesmo em comu-
nidades interioranas do Brasil, famílias de prole
numerosa, a quem não custaria um par de braços
de trabalho a menos, costumavam enviar filhos e
filhas aos colégios mantidos por ordens religiosas
[20] para que abraçassem a vida eclesiástica em troca
de instrução. Os laços familiares dos noviços não
se quebravam, mas a escola assumia, na prática,
sua tutela. Com o advento da escolarização em
massa e da urbanização, fenômeno relativamente
[25] recente em países emergentes como o Brasil, a
relação entre família e escola foi se modificando,
embora lentamente. Persevera, no entanto, a con-
cepção errônea da educação como um processo
mecânico, que envolve apenas o professor e o
[30] aluno. Segundo essa forma de pensar, se algo
não sai como deveria nessa relação bipolar, é
porque uma das duas peças da engrenagem não
está funcionando.
É oportuna e precisa a proposta de que famí-
[35] lias e escolas se aproximem e unam forças. Em
nosso país, a ideologia da época dos seminários
se soma à passividade e ao conformismo de uma
geração de genitores acostumados aos regimes
de telentrega e self service. A educação, porém,
[40] não se constitui num pedido pelo qual se espera
até 40 minutos, com direito a cancelamento.
A aprendizagem exige a participação ativa de
pais e de todos os demais integrantes do núcleo
familiar. Não se propugna, com isso, a confusão
[45] de papéis entre familiares e educadores. A cada
um compete uma responsabilidade específica no
que toca à formação do aluno. Se um pai e uma
mãe, mesmo com pouca instrução, demonstram
interesse pelos conteúdos trabalhados, acompa-
[50] nham a realização de tarefas, procuram manter-se
informados a respeito do que ocorre no interior da
escola e, principalmente, criam em seu lar um am-
biente favorável ao estudo, estarão dando uma
contribuição mais do que razoável. Da mesma
[55] maneira, profissionais de educação e instituições
fazem bem em envolver os pais em uma colabora-
ção produtiva, sem descaracterizar atribuições. A
colaboração de escola e família é poderosa e ca-
paz de resultar em avanços indispensáveis à me-
[60] lhoria do ensino.
O uso da vírgula depois de urbanização (l. 24) segue o mesmo princípio sintático que depois de