Na década de 60 do século passado, durante seu curso na Escola de Artes Dramáticas da Universidade de São Paulo, o cantor, compositor e violonista paulistano Walter Franco começou a compor músicas para peças de teatro montadas por seus colegas e participou de festivais universitários de música popular. Mais tarde, participou de grandes festivais de música em clubes e emissoras de TV.
Walter Franco teve como influência principal a poesia concreta, que quebra o modelo tradicional de poesia baseado em rimas, métricas e versos, estruturando-a com base em uma disposição geométrica. Nesse sentido, a música de Walter Franco valoriza a palavra e suas combinações, o som e o silêncio. Ao incorporar a lógica da poesia concreta, sua música foge do modelo vigente da canção baseada no refrão, tornando-se melodias circulares.
O primeiro disco de Walter Franco, intitulado Ou Não, gravado em 1973, traz na capa as concepções minimalistas do autor: branca, com apenas uma mosca no centro; na contracapa, o título Ou não. A música Me deixe mudo é um exemplo da inovação desse disco: com mais de seis minutos de duração, a letra somente começa a ser cantada, de forma inteligível, após três minutos. Para o poeta Augusto de Campos, é “a canção com maior registro de silêncio já feita no Brasil. E com recursos de tratamento da palavra que a aproximam da poesia concreta”.
Tendo como referência o texto precedente e a canção Me deixe mudo, de Walter Franco, julgue o item a seguir.
A música Me deixe mudo é um claro exemplo da composição modernista de Walter Franco, com forte combinação entre o som e o silêncio, uma letra baseada na poesia concreta e na forma circular de composição, com sequência de somente quatro acordes (ré maior, lá maior, mi dominante e novamente lá maior) que se repetem do início ao final da música, seja pela sequência do ostinato tocado pelo violão, seja pelos acordes completos tocados por todos os instrumentos envolvidos.