Instrução: Para responder à questão, leia o trecho de Cobra Norato, obra de Raul Bopp (1898-1984).
Cobra Norato
Um dia
Ainda eu hei de morar nas terras do Sem-Fim,
Vou andando caminhando caminhando.
Me misturo no ventre do mato, mordendo raízes.
Depois
faço puçanga de flor de tajá de lagoa
e mando chamar a Cobra Norato.
– Quero contar-te uma história:
Vamos passear naquelas ilhas decotadas?
Faz de conta que há luar.
A noite chega mansinho
Estrelas conversam em voz baixa.
Brinco, então, de amarrar uma fita no pescoço
e estrangulo a cobra.
Agora sim.
Me enfio nessa pele de seda elástica
e saio a correr mundo:
Vou visitar a rainha Luzia.
Quero me casar com sua filha.
– Então você tem de apagar os olhos primeiro.
O sono desceu pelas pálpebras pesadas.
Um chão de lama rouba a força dos meus passos.
Começa agora a floresta cifrada.
A sombra escondeu as árvores.
Sapos beiçudos espiam no escuro.
Aqui, um pedaço de mato está de castigo.
Arvorezinhas acocoram-se no charco.
Um fio de água atrasada lambe a lama.
– Eu quero é ver a filha da rainha Luzia!
Agora são os rios afogados
bebendo o caminho
A água vai chorando afundando afundando.
(Mário da Silva Brito. Poesia do Modernismo, 1968.)
Tendo em vista o caráter narrativo e heroico do trecho e a presença nele de elementos como terras do Sem-Fim, Cobra Norato etc., é correto afirmar que se trata de um poema cujo tom e conteúdo são, respectivamente,