TERRORISMO LÓGICO
O terrorismo é duplamente obscurantista: primeiro no atentado, depois nas reações que desencadeia.
[1] Said e Chérif Kouachi eram descendentes de imigrantes. Said e Chérif Kouachi são suspeitos
do ataque ao jornal Charlie Hebdo, na França. Se não houvesse imigrantes na França, não teria
havido ataque ao Charlie Hebdo.
Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, eram filhos de argelinos.
[5] Zinedine Zidane é filho de argelinos. Zinedine Zidane é terrorista.
Zinedine Zidane é filho de argelinos. Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie
Hebdo, eram filhos de argelinos. Said e Chérif Kouachi sabiam jogar futebol.
Muçulmanos são uma minoria na França. Membros de uma minoria são suspeitos do ataque
terrorista. Olha aí no que dá defender minoria...
[10] A esquerda francesa defende minorias. Membros de uma minoria são suspeitos pelo ataque
terrorista. A esquerda francesa é culpada pelo ataque terrorista.
A extrema direita francesa demoniza os imigrantes. O ataque terrorista fortalece a extrema
direita francesa. A extrema direita francesa está por trás do ataque terrorista.
Marine Le Pen é a líder da extrema direita francesa. “Le Pen” é “O Caneta”, se tomarmos o
[15] artigo em francês e o substantivo em inglês. Eis aí uma demonstração de apoio da extrema
direita francesa à liberdade de expressão e aos erros de concordância nominal.
Numa democracia, é desejável que as pessoas sejam livres para se expressar. Algumas dessas
expressões podem ofender indivíduos ou grupos. Numa democracia, é desejável que indivíduos
ou grupos sejam ofendidos.
[20] Os terroristas que atacaram o jornal Charlie Hebdo usavam gorros pretos. “Black blocs” usam
gorros pretos. “Black blocs” são terroristas.
Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate.
Antonio Prata
Adaptado de Folha de São Paulo, 11/01/2015.
"Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate."
Todo argumento pode se tornar um sofisma: um raciocínio errado ou inadequado que nos leva a conclusões falsas ou improcedentes. O último parágrafo do texto é um exemplo de sofisma, considerando que, da constatação de que todo abacate é verde, não se pode deduzir que só os abacates têm cor verde.
Esse é o tipo de sofisma que adota o seguinte procedimento: