Chávez contra o silicone
Em um sério pronunciamento na televisão estatal há poucos dias, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, declarou
guerra a mais um inimigo da Revolução. No caso, dois: os implantes de silicone. No seu estilo socialista-brejeiro, Chávez
encheu o peito para discursar, dizendo que “é uma coisa monstruosa. Uma boa parte das mulheres se deixa convencer de
que, se não tem seios grandes, está mal. O que é isso, compadre?”
E foi além: “É doloroso ver mulheres que mal conseguem sustentar a casa, os filhos, comprar comida e roupas para a
família, gastar dinheiro para aumentar os seios e se adequar a um estereótipo”. A cantilena continuou por muitos minutos
mais, atribuindo aos implantes a responsabilidade por casos de gravidez precoce e consumo de drogas. O que é isso,
compadre?
Mas à parte as bobagens do caudilho venezuelano e a estranheza que causa o líder máximo de uma nação ir à TV
(controlada por ele) para falar de silicone, até que o companheiro Chávez tem uma certa razão. Não por condenar os
implantes, que quem quer coloca e pronto. Mas pela crítica a todas que mudam a aparência menos por vontade própria que
por se espelhar em alguma modelo, atriz ou modelo-e-atriz.
Com isso, ganha mesmo é a indústria da beleza, que deveria se chamar indústria da feiura, já que vive das
imperfeições no rosto, no corpo, no cabelo e na autoestima alheias. Indústria que não para de encontrar defeitos para
consertar, como as axilas escuras, por exemplo. Axilas escuras. A gente merece.
Por ser algo que muito me incomoda, tenho prestado atenção nos tratamentos para o bigode chinês, aquelas linhas em
volta da boca que ficam mais e mais profundas com o passar do tempo, e que melhoram com injeções de materiais parentes
do silicone, esse que o Chávez tanto odeia.
Engraçado é que o bigode chinês se acentua por causa dos risos, sorrisos e gargalhadas ao longo dos anos. Como se
uma vida triste e bastante choro servissem para conservar a cútis sempre jovem.
Se o Huguinho sonha, dê-lhe discurso na TV outra vez.
TAJES, Claudia. Jornal Zero Hora, em 7 de abril de 2011.
Considerando a passagem “(...) como as axilas escuras, por exemplo. Axilas escuras. A gente merece” (linha 15), analise as seguintes proposições quanto à sua veracidade (V) ou falsidade (F):
(__) As estruturas frasais curtas colaboram para criar um impacto maior no leitor em relação ao que é dito.
(__) O referente “a gente” inclui no discurso não só a autora como também o leitor, o qual, com isso, é chamado a compactuar com a opinião dela.
(__) A oração “A gente merece” tem sentido figurado, deixando implícito que, na verdade, as pessoas não deveriam ser submetidas a tamanhos exageros da indústria da beleza.
(__) A reiteração de “axilas escuras” visa a destacar um ponto em específico, o qual, neste caso, representa um absurdo, dentre tantos, da indústria da beleza.
(__) O verbo ”merece” é, quanto à sua predicação, transitivo direto, sendo que o objeto direto, neste caso, está implícito, podendo ser recuperado pelo contexto.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, os parênteses: