Na frase: “Faria isso mil vezes novamente, se fosse preciso.”, encontra-se a seguinte figura de linguagem
Calor do cão, dias de cão
Fernando Martins
Às noites abafadas e mal dormidas seguem manhãs secas e tardes tórridas. Sem trégua para o corpo, quem não
rogou por chuva ou sombra nesta estação atipicamente escaldante? E quem, sem encontrar o frescor que procura, não
praguejou: “Calor do cão!”? Mas o verão de 2013/2014 não será marcado tão-somente pelos recordes de temperatura. O
ar está mais do que quente. Está carregado de uma perigosa escalada de corrosão do tecido social: briga de torcidas em
[5] Joinville; rebelião e assassinatos em presídio do Maranhão; criação de grupos de justiceiros no Rio; incêndios em série de
ônibus em São Paulo; a ação dos black blocs e a morte do repórter cinematográfico Santiago Andrade. Os tempos que
correm são dias de cão.
Calor do cão e dias de cão. Não é coincidência que as duas expressões se encontrem nesta época de temperaturas
inclementes. Elas foram forjadas juntas há mais de dois milênios, sob o sol mediterrâneo. Os gregos antigos perceberam
[10] haver uma relação entre o calor escaldante e o humor humano. Erraram na causa. Mas criaram um vigoroso simbolismo.
Para eles, a explicação estava nos céus e não na natureza do homem. O cachorro em questão era a constelação do
Cão Maior e sua principal estrela, Sírius, a mais brilhante do firmamento (próxima às Três Marias). Os gregos notaram que
Sírius, também conhecida como Estrela Cão, sumia por cerca de 70 dias. E, pouco antes do verão, voltava a aparecer no
leste já na alta madrugada.
[15] A conclusão a que aqueles homens chegaram foi de causa e efeito: a estrela com maior fulgor se aproximava do sol
nascente e o esquentava. Sírius provocava, então, a estação cálida, o calor do cão. Os gregos acreditavam ainda que
aquele período era marcado pela influência maligna do astro celeste: fraqueza de ânimo, tentações da carne e
pestilências. Eram os dias de cão.
O Ocidente herdou as duas expressões e as manteve vivas de geração após geração. Elas, afinal, continuam a dizer
[20] muito. O homem é essencialmente o mesmo desde sempre. Sofre os efeitos da natureza, a despeito da civilização que
construiu. E o abafamento do clima continua a ser um potencial catalisador de comportamentos extremados, bestiais.
Talvez seja exagero dizer que o verão brasileiro é a causa dos dias de cão. Mas, se não há explicações certeiras
para o diagnóstico, ao menos é possível recorrer a metáforas climáticas para apontar o remédio. É hora de esfriar os
ânimos. De andar pela sombra.
[25] Ou, para quem preferir, é tempo de procurar alguma luz na escuridão, como a das estrelas na noite escura. E de
lembrar que os homens e suas paixões vão passar, mas que elas continuarão lá no alto – milênio após milênio.
(Disponível em http:// www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id.Acesso em 24/04/2014)
A expressão “dias de cão” só não se refere:
Calor do cão, dias de cão
Fernando Martins
Às noites abafadas e mal dormidas seguem manhãs secas e tardes tórridas. Sem trégua para o corpo, quem não
rogou por chuva ou sombra nesta estação atipicamente escaldante? E quem, sem encontrar o frescor que procura, não
praguejou: “Calor do cão!”? Mas o verão de 2013/2014 não será marcado tão-somente pelos recordes de temperatura. O
ar está mais do que quente. Está carregado de uma perigosa escalada de corrosão do tecido social: briga de torcidas em
[5] Joinville; rebelião e assassinatos em presídio do Maranhão; criação de grupos de justiceiros no Rio; incêndios em série de
ônibus em São Paulo; a ação dos black blocs e a morte do repórter cinematográfico Santiago Andrade. Os tempos que
correm são dias de cão.
Calor do cão e dias de cão. Não é coincidência que as duas expressões se encontrem nesta época de temperaturas
inclementes. Elas foram forjadas juntas há mais de dois milênios, sob o sol mediterrâneo. Os gregos antigos perceberam
[10] haver uma relação entre o calor escaldante e o humor humano. Erraram na causa. Mas criaram um vigoroso simbolismo.
Para eles, a explicação estava nos céus e não na natureza do homem. O cachorro em questão era a constelação do
Cão Maior e sua principal estrela, Sírius, a mais brilhante do firmamento (próxima às Três Marias). Os gregos notaram que
Sírius, também conhecida como Estrela Cão, sumia por cerca de 70 dias. E, pouco antes do verão, voltava a aparecer no
leste já na alta madrugada.
[15] A conclusão a que aqueles homens chegaram foi de causa e efeito: a estrela com maior fulgor se aproximava do sol
nascente e o esquentava. Sírius provocava, então, a estação cálida, o calor do cão. Os gregos acreditavam ainda que
aquele período era marcado pela influência maligna do astro celeste: fraqueza de ânimo, tentações da carne e
pestilências. Eram os dias de cão.
O Ocidente herdou as duas expressões e as manteve vivas de geração após geração. Elas, afinal, continuam a dizer
[20] muito. O homem é essencialmente o mesmo desde sempre. Sofre os efeitos da natureza, a despeito da civilização que
construiu. E o abafamento do clima continua a ser um potencial catalisador de comportamentos extremados, bestiais.
Talvez seja exagero dizer que o verão brasileiro é a causa dos dias de cão. Mas, se não há explicações certeiras
para o diagnóstico, ao menos é possível recorrer a metáforas climáticas para apontar o remédio. É hora de esfriar os
ânimos. De andar pela sombra.
[25] Ou, para quem preferir, é tempo de procurar alguma luz na escuridão, como a das estrelas na noite escura. E de
lembrar que os homens e suas paixões vão passar, mas que elas continuarão lá no alto – milênio após milênio.
(Disponível em http:// www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id.Acesso em 24/04/2014)
Assinale o trecho em que o autor dá a entender que as expressões “calor do cão e dias de cão” não surgiram atualmente:
Marque a opção cuja palavra apresente um prefixo com o mesmo significado do prefixo destacado na palavra “inverdades":
Assinale a alternativa correta quanto à regência verbal:
Assinale a opção em que todas as palavras têm, em sua sílaba tônica, uma vogal nasal: