Na questão, use os textos seguintes.
Texto I
Anjo no nome, Angélica na cara
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:
Quem vira uma planta, que a não cortara,
De verde pé, da rama florescente;
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
(Gregório de Matos – Poemas Escolhidos. Org. José Miguel Wisnik, Ed. Cultrix, SP, 1997. pág. 202)
Texto II
A Mulher que Passa
Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
[...]
No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura quanto devassa
Que boia leve a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
Vinícius de Moraes, in Literatura Comentada. Org.e notas- Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Abril Educação, 1980, páginas 23/24)
I – Nota-se que os textos em questão trazem “perfis femininos”, mas diferem quanto à modalidade: o primeiro é eminentemente descritivo; o segundo, narrativo.
II – No texto I, a mulher é focalizada do ponto de vista da ambiguidade (anjo e demônio ao mesmo tempo), aspecto inexistente no texto II, em que nem mesmo é sugerido.
III – Embora modernista, o texto II é impregnado do sentimentalismo tipicamente romântico, mas atenuado por uma linguagem que soa mais natural, menos “solene”.