Texto
A nova dimensão do escritor Jeffrey Curtain
Marina Colasanti
Quando o coágulo de sangue explodiu na
cabeça de Jeffrey Curtain, algo nele foi cortado,
como uma mangueira ou um caule. E o seu
pensamento viu-se subitamente decepado do
[5] corpo.
Sem espanto, porque a dor lancinante não
teve sequer tempo de traduzir-se em grito antes que
aquela estranha guilhotina o truncasse na boca.
Passado isso, nada mais havia a não ser a nova
[10] dimensão.
– O Dr. Jewett acha que não há esperança –
repetia a enfermeira em voz baixa, aos eventuais
visitantes. O Sr. Curtain poderá viver
indefinidamente, mas não tornará a ver. Nem se
[15] mexerá, nem pensará. Apenas respirará.
(...)
Talvez fosse mais correto dizer que ele
luzia. Pois nada do que havia vivido até então se
assemelhava à luz límpida e pura por ele agora
gerada na óssea escuridão da sua caverna. Jeffrey
[20] Curtain havia-se livrado para sempre da escravidão
da coerência. Sua mente, solta, tudo se permitia,
tudo realizava.
COLASANTI, Marina. A nova dimensão do escritor Jeffrey Curtain. In: MORICONI, Ítalo (org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 567-570.
''Pois nada do que havia vivido até então se assemelhava à luz límpida e pura por ele agora gerada na óssea escuridão da sua caverna. Jeffrey Curtain havia-se livrado para sempre da escravidão da coerência. Sua mente, solta, tudo se permitia, tudo realizava.'' (linhas 17-22)
O texto literário tem como uma de suas características a utilização de figuras de linguagem. Nos trechos sublinhados, observam-se, respectivamente: