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TEXTO
MUDANÇA TECNOLÓGICA E EMPREGO
(1) A relação entre progresso tecnológico e emprego é fundamentalmente dinâmica no capitalismo. O apogeu e o declínio de setores sob o impacto de novos produtos e técnicas influenciam diretamente a criação e a destruição de postos de trabalho.
(2) As mudanças que se processam, nas últimas décadas, no mercado de trabalho brasileiro, refletem, até certo ponto, as mudanças que ocorrem no mundo do trabalho nos países industrializados mais adiantados. O padrão "crescimento sem empregos", que foi característico da agricultura por tanto tempo, pode, nos tempos atuais, se tornar o padrão normal de desenvolvimento da indústria de transformação das economias industriais maduras. Claramente, este fato significa uma transformação estrutural da maior relevância nestas economias, que, por si só, justifica, certamente, o estudo da influência da tecnologia sobre o emprego.
(3) A partir dos anos 1980, nas economias industrializadas avançadas, a perda de participação do emprego industrial foi acompanhada pelos níveis de desemprego mais altos e longos do pós-guerra, pela destruição virtual de várias ocupações e pelo aumento do emprego precário, que não entra nas estatísticas de desemprego convencionais. Houve também uma progressiva erosão dos direitos dos trabalhadores, da previdência social e de outros benefícios que eram elementos importantes dos direitos de cidadania social estabelecidos como parte do consenso do pós-guerra. São tempos de mudança. Não apenas em termos econômicos e tecnológicos, mas também na forma da identidade social num contexto de crescente desemprego.
(4) O impacto da mudança tecnológica e da tecnologia de informática afetou a natureza do trabalho em vários setores, tornou obsoletas algumas ocupações e criou novas, exigiu outro tipo de formação e qualificação para o trabalhador e reduziu o número de postos de trabalho em grande número de setores. Outra mudança no mundo do trabalho foi o decréscimo relativo da ocupação nos setores produtores de bens e o crescimento do emprego nos serviços. As mudanças na organização da produção e na atividade produtiva estão relacionadas, até certo ponto, às mudanças tecnológicas em curso.
MILLER, L. M. Mudança tecnológica e o emprego. Revista da ABET, v. II, n. 2. 2002. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/index.php/abet/article/viewFile/15473/8844>. Acesso em: 20 out. 2018 (adaptado).
O TEXTO é a introdução de um artigo científico. Nele, a autora faz, prioritariamente,
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TEXTO
DISSONÂNCIAS DO PROGRESSO
(1) O que é progresso? Para alguns teóricos, apenas uma palavra que não passa de um slogan, um clichê ou, no máximo, um mito; pode ser também uma crença, jamais um conceito. Para ganhar estatuto de “conceito” universal, o termo apoia-se em outras palavras em busca de legitimidade e, assim, passa de relativo a absoluto: progresso e democracia, progresso e liberdade, progresso e desenvolvimento. Pior: até mesmo ações de caráter belicista recorrem à ideia de guerra como movimento indispensável a um futuro de progresso radioso.
(2) Afinal, o que legitima o progresso hoje? A impressionante herança deixada pelas inúmeras formas do progresso da ciência e da técnica é incontestável: o mundo ganhou, mas também perdeu. Transformação radical das ideias de espaço e tempo, avanços na medicina e na biologia que nos preservam de muitos males – progresso com inegáveis e perenes benefícios para a humanidade –, mas, em contrapartida, um progresso que cria rigor, velocidade, precisão da relação do homem com o meio físico, desaparecimento do vago e do lento, hábitos dominados por métodos positivos governados pelas máquinas, modo científico de existência ao qual “os espíritos se acostumam rapidamente, ainda que insensivelmente”, enquanto as relações do homem com o homem permanecem, como observa o poeta e filósofo Paul Valéry, “dominadas por um empirismo detestável que evidencia até mesmo, em diversos pontos, uma sensível regressão”.
(3) Se a ciência do Iluminismo permitiu o alargamento da percepção do mundo e da vida ao destruir uma quantidade enorme de certezas, em contrapartida, as ideias de progresso, aliadas à racionalidade técnica, destroem uma das grandes invenções da humanidade – a dúvida – ao recriarem e reporem o mito da certeza. O mito do progresso é uma dessas novas certezas. Basta ouvir os discursos de políticos, financistas, tecnocratas e até mesmo de intelectuais ilustrados. No ensaio “O mito moderno do progresso”, Jacques Bouveresse leva-nos a pensar que a ideia de progresso resume dois dos mais terríveis problemas da atualidade, sintetizados por Georg von Wright como o mito da autoridade e o império da fala: “um discurso”, escreve Bouveresse, “que se pode considerar como mais ou menos dispensado da argumentação, que se autolegitima e cujo protótipo é a fala que emana do fundamentalismo religioso ou da ditadura política”.
(4) Em seu pouco conhecido Cahier B, de 1910, Valéry alia a revolução tecnológica à dissolução das tradições comuns e da crença nos mesmos valores com o nascimento das grandes cidades no século XIX: “o civilizado das grandes cidades volta ao estado selvagem, isto é, isolado, porque o mecanismo social lhe permite esquecer a necessidade da comunidade e leva à perda do sentimento de laço entre os indivíduos, antes despertados incessantemente pela necessidade. Todo o aperfeiçoamento da mecânica social torna inúteis atos, maneiras de sentir, aptidões à vida comum”. Esse indivíduo isolado tende a perder as memórias coletivas e os imaginários sociais, abrindo espaço para o que Musil definiu como “egoísmo organizado”. As pulsões egoístas, segundo ele, resultam do progresso material e da desordem social.
(5) Podemos complementar essa ideia de pulsões egoístas com a análise de Engels sobre o homem das grandes cidades em “A situação da classe operária na Inglaterra”, em que se lê que, para realizar os progressos da civilização, os homens sacrificam o melhor de si: “As cem forças que dormem neles permanecem inativas e abafadas para que apenas algumas possam se desenvolver […]. E mesmo sabendo que esse isolamento do indivíduo e seu egoísmo são em todo lugar o princípio fundamental da sociedade atual, em nenhum lugar eles se manifestam com uma impudência, uma segurança tão total quanto aqui, precisamente na multidão da grande cidade. A desagregação da humanidade em mônadas na qual cada uma tem um princípio de vida e um fim particular, esta atomização do mundo é, aqui, levada ao extremo”.
(6) Assim, com as promessas da ciência e da técnica que jamais se realizam (sempre uma espera), o progresso entra em eterno processo, linear e infinito, mas também mecânico e circular, criando as próprias condições de perpetuação. É desse movimento infinito que ele se alimenta: diante de problemas criados pelo progresso, inventa-se uma nova forma de progresso que permite “superar” os problemas criados.
NOVAES, Adauto. Dissonâncias do progresso. Disponível em:< https://diplomatique.org.br/dissonancias-doprogresso/>. Acesso em: 10 out. 2018 (adaptado).
O TEXTO é jornalístico e foi veiculado no Jornal Le Monde diplomatique Brasil. Assinale a alternativa que traz características correspondentes ao seu gênero e à tipologia textual predominante nele.
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DISSONÂNCIAS DO PROGRESSO
(1) O que é progresso? Para alguns teóricos, apenas uma palavra que não passa de um slogan, um clichê ou, no máximo, um mito; pode ser também uma crença, jamais um conceito. Para ganhar estatuto de “conceito” universal, o termo apoia-se em outras palavras em busca de legitimidade e, assim, passa de relativo a absoluto: progresso e democracia, progresso e liberdade, progresso e desenvolvimento. Pior: até mesmo ações de caráter belicista recorrem à ideia de guerra como movimento indispensável a um futuro de progresso radioso.
(2) Afinal, o que legitima o progresso hoje? A impressionante herança deixada pelas inúmeras formas do progresso da ciência e da técnica é incontestável: o mundo ganhou, mas também perdeu. Transformação radical das ideias de espaço e tempo, avanços na medicina e na biologia que nos preservam de muitos males – progresso com inegáveis e perenes benefícios para a humanidade –, mas, em contrapartida, um progresso que cria rigor, velocidade, precisão da relação do homem com o meio físico, desaparecimento do vago e do lento, hábitos dominados por métodos positivos governados pelas máquinas, modo científico de existência ao qual “os espíritos se acostumam rapidamente, ainda que insensivelmente”, enquanto as relações do homem com o homem permanecem, como observa o poeta e filósofo Paul Valéry, “dominadas por um empirismo detestável que evidencia até mesmo, em diversos pontos, uma sensível regressão”.
(3) Se a ciência do Iluminismo permitiu o alargamento da percepção do mundo e da vida ao destruir uma quantidade enorme de certezas, em contrapartida, as ideias de progresso, aliadas à racionalidade técnica, destroem uma das grandes invenções da humanidade – a dúvida – ao recriarem e reporem o mito da certeza. O mito do progresso é uma dessas novas certezas. Basta ouvir os discursos de políticos, financistas, tecnocratas e até mesmo de intelectuais ilustrados. No ensaio “O mito moderno do progresso”, Jacques Bouveresse leva-nos a pensar que a ideia de progresso resume dois dos mais terríveis problemas da atualidade, sintetizados por Georg von Wright como o mito da autoridade e o império da fala: “um discurso”, escreve Bouveresse, “que se pode considerar como mais ou menos dispensado da argumentação, que se autolegitima e cujo protótipo é a fala que emana do fundamentalismo religioso ou da ditadura política”.
(4) Em seu pouco conhecido Cahier B, de 1910, Valéry alia a revolução tecnológica à dissolução das tradições comuns e da crença nos mesmos valores com o nascimento das grandes cidades no século XIX: “o civilizado das grandes cidades volta ao estado selvagem, isto é, isolado, porque o mecanismo social lhe permite esquecer a necessidade da comunidade e leva à perda do sentimento de laço entre os indivíduos, antes despertados incessantemente pela necessidade. Todo o aperfeiçoamento da mecânica social torna inúteis atos, maneiras de sentir, aptidões à vida comum”. Esse indivíduo isolado tende a perder as memórias coletivas e os imaginários sociais, abrindo espaço para o que Musil definiu como “egoísmo organizado”. As pulsões egoístas, segundo ele, resultam do progresso material e da desordem social.
(5) Podemos complementar essa ideia de pulsões egoístas com a análise de Engels sobre o homem das grandes cidades em “A situação da classe operária na Inglaterra”, em que se lê que, para realizar os progressos da civilização, os homens sacrificam o melhor de si: “As cem forças que dormem neles permanecem inativas e abafadas para que apenas algumas possam se desenvolver […]. E mesmo sabendo que esse isolamento do indivíduo e seu egoísmo são em todo lugar o princípio fundamental da sociedade atual, em nenhum lugar eles se manifestam com uma impudência, uma segurança tão total quanto aqui, precisamente na multidão da grande cidade. A desagregação da humanidade em mônadas na qual cada uma tem um princípio de vida e um fim particular, esta atomização do mundo é, aqui, levada ao extremo”.
(6) Assim, com as promessas da ciência e da técnica que jamais se realizam (sempre uma espera), o progresso entra em eterno processo, linear e infinito, mas também mecânico e circular, criando as próprias condições de perpetuação. É desse movimento infinito que ele se alimenta: diante de problemas criados pelo progresso, inventa-se uma nova forma de progresso que permite “superar” os problemas criados.
NOVAES, Adauto. Dissonâncias do progresso. Disponível em:< https://diplomatique.org.br/dissonancias-doprogresso/>. Acesso em: 10 out. 2018 (adaptado).
Ao utilizar as aspas para fazer alusão às palavras de Paul Valéry, Jacques Bouveresse, Musil e Engels, em diversos trechos do TEXTO, o autor
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DISSONÂNCIAS DO PROGRESSO
(1) O que é progresso? Para alguns teóricos, apenas uma palavra que não passa de um slogan, um clichê ou, no máximo, um mito; pode ser também uma crença, jamais um conceito. Para ganhar estatuto de “conceito” universal, o termo apoia-se em outras palavras em busca de legitimidade e, assim, passa de relativo a absoluto: progresso e democracia, progresso e liberdade, progresso e desenvolvimento. Pior: até mesmo ações de caráter belicista recorrem à ideia de guerra como movimento indispensável a um futuro de progresso radioso.
(2) Afinal, o que legitima o progresso hoje? A impressionante herança deixada pelas inúmeras formas do progresso da ciência e da técnica é incontestável: o mundo ganhou, mas também perdeu. Transformação radical das ideias de espaço e tempo, avanços na medicina e na biologia que nos preservam de muitos males – progresso com inegáveis e perenes benefícios para a humanidade –, mas, em contrapartida, um progresso que cria rigor, velocidade, precisão da relação do homem com o meio físico, desaparecimento do vago e do lento, hábitos dominados por métodos positivos governados pelas máquinas, modo científico de existência ao qual “os espíritos se acostumam rapidamente, ainda que insensivelmente”, enquanto as relações do homem com o homem permanecem, como observa o poeta e filósofo Paul Valéry, “dominadas por um empirismo detestável que evidencia até mesmo, em diversos pontos, uma sensível regressão”.
(3) Se a ciência do Iluminismo permitiu o alargamento da percepção do mundo e da vida ao destruir uma quantidade enorme de certezas, em contrapartida, as ideias de progresso, aliadas à racionalidade técnica, destroem uma das grandes invenções da humanidade – a dúvida – ao recriarem e reporem o mito da certeza. O mito do progresso é uma dessas novas certezas. Basta ouvir os discursos de políticos, financistas, tecnocratas e até mesmo de intelectuais ilustrados. No ensaio “O mito moderno do progresso”, Jacques Bouveresse leva-nos a pensar que a ideia de progresso resume dois dos mais terríveis problemas da atualidade, sintetizados por Georg von Wright como o mito da autoridade e o império da fala: “um discurso”, escreve Bouveresse, “que se pode considerar como mais ou menos dispensado da argumentação, que se autolegitima e cujo protótipo é a fala que emana do fundamentalismo religioso ou da ditadura política”.
(4) Em seu pouco conhecido Cahier B, de 1910, Valéry alia a revolução tecnológica à dissolução das tradições comuns e da crença nos mesmos valores com o nascimento das grandes cidades no século XIX: “o civilizado das grandes cidades volta ao estado selvagem, isto é, isolado, porque o mecanismo social lhe permite esquecer a necessidade da comunidade e leva à perda do sentimento de laço entre os indivíduos, antes despertados incessantemente pela necessidade. Todo o aperfeiçoamento da mecânica social torna inúteis atos, maneiras de sentir, aptidões à vida comum”. Esse indivíduo isolado tende a perder as memórias coletivas e os imaginários sociais, abrindo espaço para o que Musil definiu como “egoísmo organizado”. As pulsões egoístas, segundo ele, resultam do progresso material e da desordem social.
(5) Podemos complementar essa ideia de pulsões egoístas com a análise de Engels sobre o homem das grandes cidades em “A situação da classe operária na Inglaterra”, em que se lê que, para realizar os progressos da civilização, os homens sacrificam o melhor de si: “As cem forças que dormem neles permanecem inativas e abafadas para que apenas algumas possam se desenvolver […]. E mesmo sabendo que esse isolamento do indivíduo e seu egoísmo são em todo lugar o princípio fundamental da sociedade atual, em nenhum lugar eles se manifestam com uma impudência, uma segurança tão total quanto aqui, precisamente na multidão da grande cidade. A desagregação da humanidade em mônadas na qual cada uma tem um princípio de vida e um fim particular, esta atomização do mundo é, aqui, levada ao extremo”.
(6) Assim, com as promessas da ciência e da técnica que jamais se realizam (sempre uma espera), o progresso entra em eterno processo, linear e infinito, mas também mecânico e circular, criando as próprias condições de perpetuação. É desse movimento infinito que ele se alimenta: diante de problemas criados pelo progresso, inventa-se uma nova forma de progresso que permite “superar” os problemas criados.
NOVAES, Adauto. Dissonâncias do progresso. Disponível em:< https://diplomatique.org.br/dissonancias-doprogresso/>. Acesso em: 10 out. 2018 (adaptado).
Em relação à regência nominal e verbal e ao emprego do acento grave indicativo de crase, analise as proposições a seguir.
I. Em: “recorrem à ideia de guerra” (1º parágrafo), a transitividade do primeiro termo destacado e a necessidade de um determinante no segundo exigem a utilização do acento grave indicativo de crase no trecho.
II. Em: “aptidões à vida comum” (4º parágrafo), o acento grave indicativo de crase poderia não ter sido utilizado devido ao termo em destaque estar no plural.
III.No trecho: “alia a revolução tecnológica à dissolução” (4º parágrafo), a transitividade verbal, nesse contexto, exige que apenas o segundo termo em destaque receba o acento grave indicativo de crase.
IV.No trecho: “leva à perda do sentimento de laço entre os indivíduos” (4º parágrafo), a crase ocorreu pela presença de termo que exige a preposição “a” e palavra feminina determinada pelo artigo “a”.
V. Em: “aliadas à racionalidade técnica” (3º parágrafo), o acento grave indicativo de crase foi utilizado pela mesma razão que em “recorrem à ideia” (1º parágrafo), ou seja, pelos verbos destacados ligaremse, pela preposição “a”, aos complementos regidos, que são determinados pelo artigo “a”.
Estão CORRETAS, apenas, as proposições
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DISSONÂNCIAS DO PROGRESSO
(1) O que é progresso? Para alguns teóricos, apenas uma palavra que não passa de um slogan, um clichê ou, no máximo, um mito; pode ser também uma crença, jamais um conceito. Para ganhar estatuto de “conceito” universal, o termo apoia-se em outras palavras em busca de legitimidade e, assim, passa de relativo a absoluto: progresso e democracia, progresso e liberdade, progresso e desenvolvimento. Pior: até mesmo ações de caráter belicista recorrem à ideia de guerra como movimento indispensável a um futuro de progresso radioso.
(2) Afinal, o que legitima o progresso hoje? A impressionante herança deixada pelas inúmeras formas do progresso da ciência e da técnica é incontestável: o mundo ganhou, mas também perdeu. Transformação radical das ideias de espaço e tempo, avanços na medicina e na biologia que nos preservam de muitos males – progresso com inegáveis e perenes benefícios para a humanidade –, mas, em contrapartida, um progresso que cria rigor, velocidade, precisão da relação do homem com o meio físico, desaparecimento do vago e do lento, hábitos dominados por métodos positivos governados pelas máquinas, modo científico de existência ao qual “os espíritos se acostumam rapidamente, ainda que insensivelmente”, enquanto as relações do homem com o homem permanecem, como observa o poeta e filósofo Paul Valéry, “dominadas por um empirismo detestável que evidencia até mesmo, em diversos pontos, uma sensível regressão”.
(3) Se a ciência do Iluminismo permitiu o alargamento da percepção do mundo e da vida ao destruir uma quantidade enorme de certezas, em contrapartida, as ideias de progresso, aliadas à racionalidade técnica, destroem uma das grandes invenções da humanidade – a dúvida – ao recriarem e reporem o mito da certeza. O mito do progresso é uma dessas novas certezas. Basta ouvir os discursos de políticos, financistas, tecnocratas e até mesmo de intelectuais ilustrados. No ensaio “O mito moderno do progresso”, Jacques Bouveresse leva-nos a pensar que a ideia de progresso resume dois dos mais terríveis problemas da atualidade, sintetizados por Georg von Wright como o mito da autoridade e o império da fala: “um discurso”, escreve Bouveresse, “que se pode considerar como mais ou menos dispensado da argumentação, que se autolegitima e cujo protótipo é a fala que emana do fundamentalismo religioso ou da ditadura política”.
(4) Em seu pouco conhecido Cahier B, de 1910, Valéry alia a revolução tecnológica à dissolução das tradições comuns e da crença nos mesmos valores com o nascimento das grandes cidades no século XIX: “o civilizado das grandes cidades volta ao estado selvagem, isto é, isolado, porque o mecanismo social lhe permite esquecer a necessidade da comunidade e leva à perda do sentimento de laço entre os indivíduos, antes despertados incessantemente pela necessidade. Todo o aperfeiçoamento da mecânica social torna inúteis atos, maneiras de sentir, aptidões à vida comum”. Esse indivíduo isolado tende a perder as memórias coletivas e os imaginários sociais, abrindo espaço para o que Musil definiu como “egoísmo organizado”. As pulsões egoístas, segundo ele, resultam do progresso material e da desordem social.
(5) Podemos complementar essa ideia de pulsões egoístas com a análise de Engels sobre o homem das grandes cidades em “A situação da classe operária na Inglaterra”, em que se lê que, para realizar os progressos da civilização, os homens sacrificam o melhor de si: “As cem forças que dormem neles permanecem inativas e abafadas para que apenas algumas possam se desenvolver […]. E mesmo sabendo que esse isolamento do indivíduo e seu egoísmo são em todo lugar o princípio fundamental da sociedade atual, em nenhum lugar eles se manifestam com uma impudência, uma segurança tão total quanto aqui, precisamente na multidão da grande cidade. A desagregação da humanidade em mônadas na qual cada uma tem um princípio de vida e um fim particular, esta atomização do mundo é, aqui, levada ao extremo”.
(6) Assim, com as promessas da ciência e da técnica que jamais se realizam (sempre uma espera), o progresso entra em eterno processo, linear e infinito, mas também mecânico e circular, criando as próprias condições de perpetuação. É desse movimento infinito que ele se alimenta: diante de problemas criados pelo progresso, inventa-se uma nova forma de progresso que permite “superar” os problemas criados.
NOVAES, Adauto. Dissonâncias do progresso. Disponível em:< https://diplomatique.org.br/dissonancias-doprogresso/>. Acesso em: 10 out. 2018 (adaptado).
As proposições a seguir tratam de relações sintático-semânticas entre orações e períodos do TEXTO. Analise-as e, em seguida, assinale a alternativa CORRETA.
I. No trecho: “dispensado da argumentação, que se autolegitima e cujo protótipo é a fala que emana” (3º parágrafo), os pronomes relativos em destaque introduzem orações com papel de adjetivo, explicando algo a respeito dos termos que antecedem.
II. Em: “os espíritos se acostumam rapidamente, ainda que insensivelmente” (2º parágrafo), a expressão destacada introduz uma oração com papel de advérbio, indicando uma consequência do fato mencionado anteriormente.
III.No trecho: “enquanto as relações do homem com o homem permanecem” (2º parágrafo), a conjunção subordinativa em destaque introduz uma oração com valor temporal e poderia ser substituída por “ao passo que”.
IV.Em: “o mundo ganhou, mas também perdeu” (2º parágrafo), se substituíssemos a conjunção em destaque por outra de valor adversativo, como “todavia”, não haveria mudança de sentido no trecho.
V. No trecho: “porque o mecanismo social lhe permite esquecer a necessidade da comunidade” (4º parágrafo), a conjunção destacada estabelece uma relação causal entre a oração que introduz e a oração principal.
Estão CORRETAS, apenas, as proposições
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DISSONÂNCIAS DO PROGRESSO
(1) O que é progresso? Para alguns teóricos, apenas uma palavra que não passa de um slogan, um clichê ou, no máximo, um mito; pode ser também uma crença, jamais um conceito. Para ganhar estatuto de “conceito” universal, o termo apoia-se em outras palavras em busca de legitimidade e, assim, passa de relativo a absoluto: progresso e democracia, progresso e liberdade, progresso e desenvolvimento. Pior: até mesmo ações de caráter belicista recorrem à ideia de guerra como movimento indispensável a um futuro de progresso radioso.
(2) Afinal, o que legitima o progresso hoje? A impressionante herança deixada pelas inúmeras formas do progresso da ciência e da técnica é incontestável: o mundo ganhou, mas também perdeu. Transformação radical das ideias de espaço e tempo, avanços na medicina e na biologia que nos preservam de muitos males – progresso com inegáveis e perenes benefícios para a humanidade –, mas, em contrapartida, um progresso que cria rigor, velocidade, precisão da relação do homem com o meio físico, desaparecimento do vago e do lento, hábitos dominados por métodos positivos governados pelas máquinas, modo científico de existência ao qual “os espíritos se acostumam rapidamente, ainda que insensivelmente”, enquanto as relações do homem com o homem permanecem, como observa o poeta e filósofo Paul Valéry, “dominadas por um empirismo detestável que evidencia até mesmo, em diversos pontos, uma sensível regressão”.
(3) Se a ciência do Iluminismo permitiu o alargamento da percepção do mundo e da vida ao destruir uma quantidade enorme de certezas, em contrapartida, as ideias de progresso, aliadas à racionalidade técnica, destroem uma das grandes invenções da humanidade – a dúvida – ao recriarem e reporem o mito da certeza. O mito do progresso é uma dessas novas certezas. Basta ouvir os discursos de políticos, financistas, tecnocratas e até mesmo de intelectuais ilustrados. No ensaio “O mito moderno do progresso”, Jacques Bouveresse leva-nos a pensar que a ideia de progresso resume dois dos mais terríveis problemas da atualidade, sintetizados por Georg von Wright como o mito da autoridade e o império da fala: “um discurso”, escreve Bouveresse, “que se pode considerar como mais ou menos dispensado da argumentação, que se autolegitima e cujo protótipo é a fala que emana do fundamentalismo religioso ou da ditadura política”.
(4) Em seu pouco conhecido Cahier B, de 1910, Valéry alia a revolução tecnológica à dissolução das tradições comuns e da crença nos mesmos valores com o nascimento das grandes cidades no século XIX: “o civilizado das grandes cidades volta ao estado selvagem, isto é, isolado, porque o mecanismo social lhe permite esquecer a necessidade da comunidade e leva à perda do sentimento de laço entre os indivíduos, antes despertados incessantemente pela necessidade. Todo o aperfeiçoamento da mecânica social torna inúteis atos, maneiras de sentir, aptidões à vida comum”. Esse indivíduo isolado tende a perder as memórias coletivas e os imaginários sociais, abrindo espaço para o que Musil definiu como “egoísmo organizado”. As pulsões egoístas, segundo ele, resultam do progresso material e da desordem social.
(5) Podemos complementar essa ideia de pulsões egoístas com a análise de Engels sobre o homem das grandes cidades em “A situação da classe operária na Inglaterra”, em que se lê que, para realizar os progressos da civilização, os homens sacrificam o melhor de si: “As cem forças que dormem neles permanecem inativas e abafadas para que apenas algumas possam se desenvolver […]. E mesmo sabendo que esse isolamento do indivíduo e seu egoísmo são em todo lugar o princípio fundamental da sociedade atual, em nenhum lugar eles se manifestam com uma impudência, uma segurança tão total quanto aqui, precisamente na multidão da grande cidade. A desagregação da humanidade em mônadas na qual cada uma tem um princípio de vida e um fim particular, esta atomização do mundo é, aqui, levada ao extremo”.
(6) Assim, com as promessas da ciência e da técnica que jamais se realizam (sempre uma espera), o progresso entra em eterno processo, linear e infinito, mas também mecânico e circular, criando as próprias condições de perpetuação. É desse movimento infinito que ele se alimenta: diante de problemas criados pelo progresso, inventa-se uma nova forma de progresso que permite “superar” os problemas criados.
NOVAES, Adauto. Dissonâncias do progresso. Disponível em:< https://diplomatique.org.br/dissonancias-doprogresso/>. Acesso em: 10 out. 2018 (adaptado).
A coerência e a coesão textuais são essenciais para que o texto constitua-se como um todo significativo. A esse respeito, releia o seguinte trecho, extraído do 4º parágrafo do TEXTO, reflita sobre questões de coerência e coesão textuais e assinale a alternativa CORRETA.
“‘o civilizado das grandes cidades volta ao estado selvagem, isto é, isolado, porque o mecanismo social lhe permite esquecer a necessidade da comunidade e leva à perda do sentimento de laço entre os indivíduos, antes despertados incessantemente pela necessidade. Todo o aperfeiçoamento da mecânica social torna inúteis atos, maneiras de sentir, aptidões à vida comum’”