Um Retrato Anticelebratório
O centenário da independência, em 1922, é hoje lembrado pela erupção modernista que propôs reimaginar o Brasil. Os 150 anos foram celebrados pela ditadura militar com ufanismo e nas imagens empoeiradas de Independência ou Morte. O bicentenário chegou e encontrou um país órfão de imagens.
Em meio a esse estado de catalepsia, a série Independências tem o efeito de despertar quem fica deitado eternamente em berço esplêndido. O projeto da TV Cultura foi desenvolvido ao longo de um ano e meio e tem o diretor Luiz Fernando Carvalho como sua face mais reluzente.
A ambição dos 16 episódios, cuja exibição começou na quarta-feira 7, é ir além da celebração para indagar o que somos. “Duvido da celebração, não concordo com ela. Duvido um pouco da ideia de nação e duvido também se somos uma democracia. Duvido, sobretudo, das representações, das imagens desse passado. Por isso, Independências vai na contramão da celebração”, provoca Carvalho.
“Independências surgiu como oportunidade para refletir sobre a brasilidade, algo que sempre fiz em meus trabalhos”, diz. “O projeto tinha uma abertura que permitia fazer ética e esteticamente uma reflexão sobre o País, incluindo os apagamentos impostos pela visão oficial do período imperial.”
Na contramão das comemorações oficiais que se fantasiam de verde e amarelo e ostentam um coração conservado em formol, Independências não pretende erigir mais um monumento ao passado. (...)
“Desde a escrita, nossa primeira atenção foi buscar essas vozes, que sempre estiveram fora das versões oficiais, e incorporar as coordenadas que ficaram apagadas”, explica. “Neste projeto, me dei conta de várias coordenadas, das africanas às indígenas.” (...)
(Cássio Starling Carlos, Revista Carta Capital, 14/09/2022)
Com a série Independências, o diretor Luiz Fernando Carvalho só não busca: