EPCAR* 2019
48 Questões
TEXTO
Rap: uma linguagem dos guetos
Entre as vozes que se cruzam na cacofonia
urbana da sociedade globalizada, há uma que se
sobressai pela sua radicalidade marginal: o rap. A
moderna tradição negra dos guetos norte-americanos é,
[5] hoje, cantada pelos jovens das periferias de todos os
quadrantes do globo. Mas diferentemente das
estereotipias produzidas pela nação hegemônica e
difundidas em escala planetária, a cultura hip-hop
costuma ser assimilada como uma fala histórica
[10] essencialmente crítica por uma juventude com tão
escassas vias de fuga ao sempre igual. Quando, por
exemplo, jovens de uma favela brasileira incorporam
esta linguagem tornada universal, por mais que a sua
realidade seja diferente daquela dos marginalizados do
[15] país de origem, a forma permanece associada a um
conteúdo crítico – uma visão de mundo subalterna e
frequentemente subversiva.
O rap é hoje uma forma de expressão
comunitária, por meio da qual se comunicam e afirmam
[20] sua identidade habitantes dos morros e comunidades
populares. /.../
O surgimento do movimento hip-hop nos
remete ao contexto no qual estavam inseridos os
Estados Unidos dos anos 60 e 70, no auge da Guerra
[25] Fria. Foram anos de tensão e muita agitação política. O
descontentamento popular com a guerra do Vietnã
somava-se à pressão das comunidades negras
segregadas, submetidas a leis similares às do apartheid
sul-africano. O clima de revolta e inconformismo tomava
[30] conta dos guetos negros.
/.../
Na trilha da agitação política ocorriam
inovações culturais. Nos guetos, o que se ouvia era o
soul, que foi importante para a organização e
[35] conscientização daquela população. /.../ No mesmo
período surge uma variedade de outros ritmos, como o
funk, marcados por pancadas poderosas que causavam
estranhamento aos brancos, letras que invocavam a
valorização da cultura negra e denunciavam as
[40] condições às quais eram submetidas as populações dos
guetos. O soul e o funk foram as bases musicais que
permitiram o surgimento do rap, que virá a ser um dos
elementos do movimento hip-hop.
Por essa época ou um pouco antes, jovens
[45] negros já dançavam [o break] nas ruas ao som do soul e
do funk de uma forma inovadora, executando passos
que lembravam ao mesmo tempo uma luta e os
movimentos de um robô. /.../
Finalmente, além da música e da dança,
[50] propagava-se pelos guetos, ainda, o hábito de desenhar
e escrever em muros e paredes. /.../ Nesse contexto de
efervescência político-cultural, grafiteiros, breakers e
rappers começaram a se reunir para realizar eventos
juntos, afinal suas artes estavam relacionadas a uma
[55] experiência comum, a cultura de rua. /.../
Por volta de 1982, o rap chegou ao Brasil,
fixando-se, sobretudo, em São Paulo. /.../
Nos últimos anos da década de 90, o rap
brasileiro ultrapassou os limites da periferia dos grandes
[60] centros e chegou à classe média. /.../ O rap de caráter
mais comercial passou então a ser amplamente
difundido pelo país, ao mesmo tempo em que, em sua
forma marginal, a linguagem continuava a se
desenvolver nos espaços populares.
[65] Há que se destacar o caráter inovador do rap
nacional, que reelabora, de forma criadora, a partir de
tradições populares brasileiras, a linguagem dos guetos
norte-americanos, mesclando o ritmo do Bronx a
gêneros como o samba e a embolada.
[70] /.../
Não se trata, no entanto, de idealizar o hip-hop
como forma de conhecimento. O movimento,
seguramente, não é homogêneo: possui tendências
mais ou menos politizadas, mais ou menos engajadas e
[75] críticas. Há, por assim dizer, uma vertente cuja tônica é
a denúncia, a agitação e o protesto. Outra, espontânea,
sem uma linha política coerente e definida. E outra
ainda, talvez hegemônica, já assimilada pelo mercado,
que reproduz o modelo de comportamento, aspirações e
[80] ideais dominantes (consumismo, individualismo e
exaltação da vida privada), como a maioria das canções
ditas "de massa".
(COUTINHO, Eduardo Granja, ARAÚJO, Marianna. Rap: uma linguagem dos guetos. In: PAIVA, Raquel, TUZZO, Simone Antoniaci (Orgs.). Comunidade, mídia e cidade: possibilidades comunitárias na cidade hoje. Goiânia: FIC/UFG, 2014.)
Nota-se, no primeiro parágrafo do texto, que os autores enfatizam a informação presente no título, isto é, a relação do rap com o gueto, com espaços desprestigiados.
Assinale a única palavra que NÃO foi empregada para reforçar esse aspecto no parágrafo.
TEXTO
Rap: uma linguagem dos guetos
Entre as vozes que se cruzam na cacofonia
urbana da sociedade globalizada, há uma que se
sobressai pela sua radicalidade marginal: o rap. A
moderna tradição negra dos guetos norte-americanos é,
[5] hoje, cantada pelos jovens das periferias de todos os
quadrantes do globo. Mas diferentemente das
estereotipias produzidas pela nação hegemônica e
difundidas em escala planetária, a cultura hip-hop
costuma ser assimilada como uma fala histórica
[10] essencialmente crítica por uma juventude com tão
escassas vias de fuga ao sempre igual. Quando, por
exemplo, jovens de uma favela brasileira incorporam
esta linguagem tornada universal, por mais que a sua
realidade seja diferente daquela dos marginalizados do
[15] país de origem, a forma permanece associada a um
conteúdo crítico – uma visão de mundo subalterna e
frequentemente subversiva.
O rap é hoje uma forma de expressão
comunitária, por meio da qual se comunicam e afirmam
[20] sua identidade habitantes dos morros e comunidades
populares. /.../
O surgimento do movimento hip-hop nos
remete ao contexto no qual estavam inseridos os
Estados Unidos dos anos 60 e 70, no auge da Guerra
[25] Fria. Foram anos de tensão e muita agitação política. O
descontentamento popular com a guerra do Vietnã
somava-se à pressão das comunidades negras
segregadas, submetidas a leis similares às do apartheid
sul-africano. O clima de revolta e inconformismo tomava
[30] conta dos guetos negros.
/.../
Na trilha da agitação política ocorriam
inovações culturais. Nos guetos, o que se ouvia era o
soul, que foi importante para a organização e
[35] conscientização daquela população. /.../ No mesmo
período surge uma variedade de outros ritmos, como o
funk, marcados por pancadas poderosas que causavam
estranhamento aos brancos, letras que invocavam a
valorização da cultura negra e denunciavam as
[40] condições às quais eram submetidas as populações dos
guetos. O soul e o funk foram as bases musicais que
permitiram o surgimento do rap, que virá a ser um dos
elementos do movimento hip-hop.
Por essa época ou um pouco antes, jovens
[45] negros já dançavam [o break] nas ruas ao som do soul e
do funk de uma forma inovadora, executando passos
que lembravam ao mesmo tempo uma luta e os
movimentos de um robô. /.../
Finalmente, além da música e da dança,
[50] propagava-se pelos guetos, ainda, o hábito de desenhar
e escrever em muros e paredes. /.../ Nesse contexto de
efervescência político-cultural, grafiteiros, breakers e
rappers começaram a se reunir para realizar eventos
juntos, afinal suas artes estavam relacionadas a uma
[55] experiência comum, a cultura de rua. /.../
Por volta de 1982, o rap chegou ao Brasil,
fixando-se, sobretudo, em São Paulo. /.../
Nos últimos anos da década de 90, o rap
brasileiro ultrapassou os limites da periferia dos grandes
[60] centros e chegou à classe média. /.../ O rap de caráter
mais comercial passou então a ser amplamente
difundido pelo país, ao mesmo tempo em que, em sua
forma marginal, a linguagem continuava a se
desenvolver nos espaços populares.
[65] Há que se destacar o caráter inovador do rap
nacional, que reelabora, de forma criadora, a partir de
tradições populares brasileiras, a linguagem dos guetos
norte-americanos, mesclando o ritmo do Bronx a
gêneros como o samba e a embolada.
[70] /.../
Não se trata, no entanto, de idealizar o hip-hop
como forma de conhecimento. O movimento,
seguramente, não é homogêneo: possui tendências
mais ou menos politizadas, mais ou menos engajadas e
[75] críticas. Há, por assim dizer, uma vertente cuja tônica é
a denúncia, a agitação e o protesto. Outra, espontânea,
sem uma linha política coerente e definida. E outra
ainda, talvez hegemônica, já assimilada pelo mercado,
que reproduz o modelo de comportamento, aspirações e
[80] ideais dominantes (consumismo, individualismo e
exaltação da vida privada), como a maioria das canções
ditas "de massa".
(COUTINHO, Eduardo Granja, ARAÚJO, Marianna. Rap: uma linguagem dos guetos. In: PAIVA, Raquel, TUZZO, Simone Antoniaci (Orgs.). Comunidade, mídia e cidade: possibilidades comunitárias na cidade hoje. Goiânia: FIC/UFG, 2014.)
De acordo com as informações do texto e o modo como ele está organizado, é correto afirmar que os autores
TEXTO
Rap: uma linguagem dos guetos
Entre as vozes que se cruzam na cacofonia
urbana da sociedade globalizada, há uma que se
sobressai pela sua radicalidade marginal: o rap. A
moderna tradição negra dos guetos norte-americanos é,
[5] hoje, cantada pelos jovens das periferias de todos os
quadrantes do globo. Mas diferentemente das
estereotipias produzidas pela nação hegemônica e
difundidas em escala planetária, a cultura hip-hop
costuma ser assimilada como uma fala histórica
[10] essencialmente crítica por uma juventude com tão
escassas vias de fuga ao sempre igual. Quando, por
exemplo, jovens de uma favela brasileira incorporam
esta linguagem tornada universal, por mais que a sua
realidade seja diferente daquela dos marginalizados do
[15] país de origem, a forma permanece associada a um
conteúdo crítico – uma visão de mundo subalterna e
frequentemente subversiva.
O rap é hoje uma forma de expressão
comunitária, por meio da qual se comunicam e afirmam
[20] sua identidade habitantes dos morros e comunidades
populares. /.../
O surgimento do movimento hip-hop nos
remete ao contexto no qual estavam inseridos os
Estados Unidos dos anos 60 e 70, no auge da Guerra
[25] Fria. Foram anos de tensão e muita agitação política. O
descontentamento popular com a guerra do Vietnã
somava-se à pressão das comunidades negras
segregadas, submetidas a leis similares às do apartheid
sul-africano. O clima de revolta e inconformismo tomava
[30] conta dos guetos negros.
/.../
Na trilha da agitação política ocorriam
inovações culturais. Nos guetos, o que se ouvia era o
soul, que foi importante para a organização e
[35] conscientização daquela população. /.../ No mesmo
período surge uma variedade de outros ritmos, como o
funk, marcados por pancadas poderosas que causavam
estranhamento aos brancos, letras que invocavam a
valorização da cultura negra e denunciavam as
[40] condições às quais eram submetidas as populações dos
guetos. O soul e o funk foram as bases musicais que
permitiram o surgimento do rap, que virá a ser um dos
elementos do movimento hip-hop.
Por essa época ou um pouco antes, jovens
[45] negros já dançavam [o break] nas ruas ao som do soul e
do funk de uma forma inovadora, executando passos
que lembravam ao mesmo tempo uma luta e os
movimentos de um robô. /.../
Finalmente, além da música e da dança,
[50] propagava-se pelos guetos, ainda, o hábito de desenhar
e escrever em muros e paredes. /.../ Nesse contexto de
efervescência político-cultural, grafiteiros, breakers e
rappers começaram a se reunir para realizar eventos
juntos, afinal suas artes estavam relacionadas a uma
[55] experiência comum, a cultura de rua. /.../
Por volta de 1982, o rap chegou ao Brasil,
fixando-se, sobretudo, em São Paulo. /.../
Nos últimos anos da década de 90, o rap
brasileiro ultrapassou os limites da periferia dos grandes
[60] centros e chegou à classe média. /.../ O rap de caráter
mais comercial passou então a ser amplamente
difundido pelo país, ao mesmo tempo em que, em sua
forma marginal, a linguagem continuava a se
desenvolver nos espaços populares.
[65] Há que se destacar o caráter inovador do rap
nacional, que reelabora, de forma criadora, a partir de
tradições populares brasileiras, a linguagem dos guetos
norte-americanos, mesclando o ritmo do Bronx a
gêneros como o samba e a embolada.
[70] /.../
Não se trata, no entanto, de idealizar o hip-hop
como forma de conhecimento. O movimento,
seguramente, não é homogêneo: possui tendências
mais ou menos politizadas, mais ou menos engajadas e
[75] críticas. Há, por assim dizer, uma vertente cuja tônica é
a denúncia, a agitação e o protesto. Outra, espontânea,
sem uma linha política coerente e definida. E outra
ainda, talvez hegemônica, já assimilada pelo mercado,
que reproduz o modelo de comportamento, aspirações e
[80] ideais dominantes (consumismo, individualismo e
exaltação da vida privada), como a maioria das canções
ditas "de massa".
(COUTINHO, Eduardo Granja, ARAÚJO, Marianna. Rap: uma linguagem dos guetos. In: PAIVA, Raquel, TUZZO, Simone Antoniaci (Orgs.). Comunidade, mídia e cidade: possibilidades comunitárias na cidade hoje. Goiânia: FIC/UFG, 2014.)
Considerando o contexto em que foi empregada, a expressão “cultura de rua” (l. 55) pode ser definida como:
TEXTO
Rap: uma linguagem dos guetos
Entre as vozes que se cruzam na cacofonia
urbana da sociedade globalizada, há uma que se
sobressai pela sua radicalidade marginal: o rap. A
moderna tradição negra dos guetos norte-americanos é,
[5] hoje, cantada pelos jovens das periferias de todos os
quadrantes do globo. Mas diferentemente das
estereotipias produzidas pela nação hegemônica e
difundidas em escala planetária, a cultura hip-hop
costuma ser assimilada como uma fala histórica
[10] essencialmente crítica por uma juventude com tão
escassas vias de fuga ao sempre igual. Quando, por
exemplo, jovens de uma favela brasileira incorporam
esta linguagem tornada universal, por mais que a sua
realidade seja diferente daquela dos marginalizados do
[15] país de origem, a forma permanece associada a um
conteúdo crítico – uma visão de mundo subalterna e
frequentemente subversiva.
O rap é hoje uma forma de expressão
comunitária, por meio da qual se comunicam e afirmam
[20] sua identidade habitantes dos morros e comunidades
populares. /.../
O surgimento do movimento hip-hop nos
remete ao contexto no qual estavam inseridos os
Estados Unidos dos anos 60 e 70, no auge da Guerra
[25] Fria. Foram anos de tensão e muita agitação política. O
descontentamento popular com a guerra do Vietnã
somava-se à pressão das comunidades negras
segregadas, submetidas a leis similares às do apartheid
sul-africano. O clima de revolta e inconformismo tomava
[30] conta dos guetos negros.
/.../
Na trilha da agitação política ocorriam
inovações culturais. Nos guetos, o que se ouvia era o
soul, que foi importante para a organização e
[35] conscientização daquela população. /.../ No mesmo
período surge uma variedade de outros ritmos, como o
funk, marcados por pancadas poderosas que causavam
estranhamento aos brancos, letras que invocavam a
valorização da cultura negra e denunciavam as
[40] condições às quais eram submetidas as populações dos
guetos. O soul e o funk foram as bases musicais que
permitiram o surgimento do rap, que virá a ser um dos
elementos do movimento hip-hop.
Por essa época ou um pouco antes, jovens
[45] negros já dançavam [o break] nas ruas ao som do soul e
do funk de uma forma inovadora, executando passos
que lembravam ao mesmo tempo uma luta e os
movimentos de um robô. /.../
Finalmente, além da música e da dança,
[50] propagava-se pelos guetos, ainda, o hábito de desenhar
e escrever em muros e paredes. /.../ Nesse contexto de
efervescência político-cultural, grafiteiros, breakers e
rappers começaram a se reunir para realizar eventos
juntos, afinal suas artes estavam relacionadas a uma
[55] experiência comum, a cultura de rua. /.../
Por volta de 1982, o rap chegou ao Brasil,
fixando-se, sobretudo, em São Paulo. /.../
Nos últimos anos da década de 90, o rap
brasileiro ultrapassou os limites da periferia dos grandes
[60] centros e chegou à classe média. /.../ O rap de caráter
mais comercial passou então a ser amplamente
difundido pelo país, ao mesmo tempo em que, em sua
forma marginal, a linguagem continuava a se
desenvolver nos espaços populares.
[65] Há que se destacar o caráter inovador do rap
nacional, que reelabora, de forma criadora, a partir de
tradições populares brasileiras, a linguagem dos guetos
norte-americanos, mesclando o ritmo do Bronx a
gêneros como o samba e a embolada.
[70] /.../
Não se trata, no entanto, de idealizar o hip-hop
como forma de conhecimento. O movimento,
seguramente, não é homogêneo: possui tendências
mais ou menos politizadas, mais ou menos engajadas e
[75] críticas. Há, por assim dizer, uma vertente cuja tônica é
a denúncia, a agitação e o protesto. Outra, espontânea,
sem uma linha política coerente e definida. E outra
ainda, talvez hegemônica, já assimilada pelo mercado,
que reproduz o modelo de comportamento, aspirações e
[80] ideais dominantes (consumismo, individualismo e
exaltação da vida privada), como a maioria das canções
ditas "de massa".
(COUTINHO, Eduardo Granja, ARAÚJO, Marianna. Rap: uma linguagem dos guetos. In: PAIVA, Raquel, TUZZO, Simone Antoniaci (Orgs.). Comunidade, mídia e cidade: possibilidades comunitárias na cidade hoje. Goiânia: FIC/UFG, 2014.)
Assinale a alternativa que apresenta uma leitura correta acerca do texto.
TEXTO
Rap: uma linguagem dos guetos
Entre as vozes que se cruzam na cacofonia
urbana da sociedade globalizada, há uma que se
sobressai pela sua radicalidade marginal: o rap. A
moderna tradição negra dos guetos norte-americanos é,
[5] hoje, cantada pelos jovens das periferias de todos os
quadrantes do globo. Mas diferentemente das
estereotipias produzidas pela nação hegemônica e
difundidas em escala planetária, a cultura hip-hop
costuma ser assimilada como uma fala histórica
[10] essencialmente crítica por uma juventude com tão
escassas vias de fuga ao sempre igual. Quando, por
exemplo, jovens de uma favela brasileira incorporam
esta linguagem tornada universal, por mais que a sua
realidade seja diferente daquela dos marginalizados do
[15] país de origem, a forma permanece associada a um
conteúdo crítico – uma visão de mundo subalterna e
frequentemente subversiva.
O rap é hoje uma forma de expressão
comunitária, por meio da qual se comunicam e afirmam
[20] sua identidade habitantes dos morros e comunidades
populares. /.../
O surgimento do movimento hip-hop nos
remete ao contexto no qual estavam inseridos os
Estados Unidos dos anos 60 e 70, no auge da Guerra
[25] Fria. Foram anos de tensão e muita agitação política. O
descontentamento popular com a guerra do Vietnã
somava-se à pressão das comunidades negras
segregadas, submetidas a leis similares às do apartheid
sul-africano. O clima de revolta e inconformismo tomava
[30] conta dos guetos negros.
/.../
Na trilha da agitação política ocorriam
inovações culturais. Nos guetos, o que se ouvia era o
soul, que foi importante para a organização e
[35] conscientização daquela população. /.../ No mesmo
período surge uma variedade de outros ritmos, como o
funk, marcados por pancadas poderosas que causavam
estranhamento aos brancos, letras que invocavam a
valorização da cultura negra e denunciavam as
[40] condições às quais eram submetidas as populações dos
guetos. O soul e o funk foram as bases musicais que
permitiram o surgimento do rap, que virá a ser um dos
elementos do movimento hip-hop.
Por essa época ou um pouco antes, jovens
[45] negros já dançavam [o break] nas ruas ao som do soul e
do funk de uma forma inovadora, executando passos
que lembravam ao mesmo tempo uma luta e os
movimentos de um robô. /.../
Finalmente, além da música e da dança,
[50] propagava-se pelos guetos, ainda, o hábito de desenhar
e escrever em muros e paredes. /.../ Nesse contexto de
efervescência político-cultural, grafiteiros, breakers e
rappers começaram a se reunir para realizar eventos
juntos, afinal suas artes estavam relacionadas a uma
[55] experiência comum, a cultura de rua. /.../
Por volta de 1982, o rap chegou ao Brasil,
fixando-se, sobretudo, em São Paulo. /.../
Nos últimos anos da década de 90, o rap
brasileiro ultrapassou os limites da periferia dos grandes
[60] centros e chegou à classe média. /.../ O rap de caráter
mais comercial passou então a ser amplamente
difundido pelo país, ao mesmo tempo em que, em sua
forma marginal, a linguagem continuava a se
desenvolver nos espaços populares.
[65] Há que se destacar o caráter inovador do rap
nacional, que reelabora, de forma criadora, a partir de
tradições populares brasileiras, a linguagem dos guetos
norte-americanos, mesclando o ritmo do Bronx a
gêneros como o samba e a embolada.
[70] /.../
Não se trata, no entanto, de idealizar o hip-hop
como forma de conhecimento. O movimento,
seguramente, não é homogêneo: possui tendências
mais ou menos politizadas, mais ou menos engajadas e
[75] críticas. Há, por assim dizer, uma vertente cuja tônica é
a denúncia, a agitação e o protesto. Outra, espontânea,
sem uma linha política coerente e definida. E outra
ainda, talvez hegemônica, já assimilada pelo mercado,
que reproduz o modelo de comportamento, aspirações e
[80] ideais dominantes (consumismo, individualismo e
exaltação da vida privada), como a maioria das canções
ditas "de massa".
(COUTINHO, Eduardo Granja, ARAÚJO, Marianna. Rap: uma linguagem dos guetos. In: PAIVA, Raquel, TUZZO, Simone Antoniaci (Orgs.). Comunidade, mídia e cidade: possibilidades comunitárias na cidade hoje. Goiânia: FIC/UFG, 2014.)
Assinale a alternativa cuja palavra ou expressão entre parênteses NÃO substitui corretamente a anterior a ela.
TEXTO
Rap: uma linguagem dos guetos
Entre as vozes que se cruzam na cacofonia
urbana da sociedade globalizada, há uma que se
sobressai pela sua radicalidade marginal: o rap. A
moderna tradição negra dos guetos norte-americanos é,
[5] hoje, cantada pelos jovens das periferias de todos os
quadrantes do globo. Mas diferentemente das
estereotipias produzidas pela nação hegemônica e
difundidas em escala planetária, a cultura hip-hop
costuma ser assimilada como uma fala histórica
[10] essencialmente crítica por uma juventude com tão
escassas vias de fuga ao sempre igual. Quando, por
exemplo, jovens de uma favela brasileira incorporam
esta linguagem tornada universal, por mais que a sua
realidade seja diferente daquela dos marginalizados do
[15] país de origem, a forma permanece associada a um
conteúdo crítico – uma visão de mundo subalterna e
frequentemente subversiva.
O rap é hoje uma forma de expressão
comunitária, por meio da qual se comunicam e afirmam
[20] sua identidade habitantes dos morros e comunidades
populares. /.../
O surgimento do movimento hip-hop nos
remete ao contexto no qual estavam inseridos os
Estados Unidos dos anos 60 e 70, no auge da Guerra
[25] Fria. Foram anos de tensão e muita agitação política. O
descontentamento popular com a guerra do Vietnã
somava-se à pressão das comunidades negras
segregadas, submetidas a leis similares às do apartheid
sul-africano. O clima de revolta e inconformismo tomava
[30] conta dos guetos negros.
/.../
Na trilha da agitação política ocorriam
inovações culturais. Nos guetos, o que se ouvia era o
soul, que foi importante para a organização e
[35] conscientização daquela população. /.../ No mesmo
período surge uma variedade de outros ritmos, como o
funk, marcados por pancadas poderosas que causavam
estranhamento aos brancos, letras que invocavam a
valorização da cultura negra e denunciavam as
[40] condições às quais eram submetidas as populações dos
guetos. O soul e o funk foram as bases musicais que
permitiram o surgimento do rap, que virá a ser um dos
elementos do movimento hip-hop.
Por essa época ou um pouco antes, jovens
[45] negros já dançavam [o break] nas ruas ao som do soul e
do funk de uma forma inovadora, executando passos
que lembravam ao mesmo tempo uma luta e os
movimentos de um robô. /.../
Finalmente, além da música e da dança,
[50] propagava-se pelos guetos, ainda, o hábito de desenhar
e escrever em muros e paredes. /.../ Nesse contexto de
efervescência político-cultural, grafiteiros, breakers e
rappers começaram a se reunir para realizar eventos
juntos, afinal suas artes estavam relacionadas a uma
[55] experiência comum, a cultura de rua. /.../
Por volta de 1982, o rap chegou ao Brasil,
fixando-se, sobretudo, em São Paulo. /.../
Nos últimos anos da década de 90, o rap
brasileiro ultrapassou os limites da periferia dos grandes
[60] centros e chegou à classe média. /.../ O rap de caráter
mais comercial passou então a ser amplamente
difundido pelo país, ao mesmo tempo em que, em sua
forma marginal, a linguagem continuava a se
desenvolver nos espaços populares.
[65] Há que se destacar o caráter inovador do rap
nacional, que reelabora, de forma criadora, a partir de
tradições populares brasileiras, a linguagem dos guetos
norte-americanos, mesclando o ritmo do Bronx a
gêneros como o samba e a embolada.
[70] /.../
Não se trata, no entanto, de idealizar o hip-hop
como forma de conhecimento. O movimento,
seguramente, não é homogêneo: possui tendências
mais ou menos politizadas, mais ou menos engajadas e
[75] críticas. Há, por assim dizer, uma vertente cuja tônica é
a denúncia, a agitação e o protesto. Outra, espontânea,
sem uma linha política coerente e definida. E outra
ainda, talvez hegemônica, já assimilada pelo mercado,
que reproduz o modelo de comportamento, aspirações e
[80] ideais dominantes (consumismo, individualismo e
exaltação da vida privada), como a maioria das canções
ditas "de massa".
(COUTINHO, Eduardo Granja, ARAÚJO, Marianna. Rap: uma linguagem dos guetos. In: PAIVA, Raquel, TUZZO, Simone Antoniaci (Orgs.). Comunidade, mídia e cidade: possibilidades comunitárias na cidade hoje. Goiânia: FIC/UFG, 2014.)
Assinale a alternativa em que a reescrita proposta NÃO está de acordo com a norma padrão da Língua Portuguesa.