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Leia o trecho do romance Fogo morto, de José Lins do Rego (1901-1957), para responder à questão.
Pedro Boleeiro1 chegou na porta do mestre José Amaro com um recado do coronel Lula. Era para o mestre aparecer no engenho para conserto nos arreios do carro. O mestre ouviu o recado, deixou que o negro falasse à vontade. E depois, como não tivesse gostado, foi se abrindo com o outro.
— Todo o mundo pensa que o mestre José Amaro é criado. Sou um oficial, seu Pedro, sou um oficial que me prezo. O coronel Lula passa por aqui, me tira o chapéu como um favor, nunca parou para saber como vou passando. Tem o seu orgulho. Eu tenho o meu. Moro em terra dele, não lhe pago foro, porque aqui morou meu pai, no tempo do seu sogro. Fui menino por aqui. Para que tanto orgulho? Não custava nada chegar ele aqui e me perguntar pela saúde. Me contava o meu pai que o barão de Goiana não tinha destas bondades. Era homem de trato com os pequenos. E o barão de Goiana tinha razão para goga2 , era dono de muitos engenhos, homem de muito dinheiro na caixa. Sou pobre, seu Pedro, mas sou um homem que não me abaixo a ninguém.
— Mestre Zé, não tenho culpa de nada não, o homem mandou chamar o mestre, estou somente dando o recado.
— Eu sei, não estou dizendo nada demais. Falo, como falo com todo o mundo. Eu não posso ver é pobre com chaleirismo3 , como esse Vitorino, cabra muito do sem-vergonha, atrás dos grandes, como cachorro sem dono. O coronel Lula quer que eu vá consertar os arreios do carro dele. Pois eu vou.
— Está tudo podre, mestre Zé. Não posso fazer força que se estoura tudo. Aquilo é coisa de muitos anos.
— É que vocês não têm cuidado com as coisas dos outros. Quebram tudo.
— Não é não, mestre Zé. É que a coisa está mesmo nas últimas.
— O coronel Lula é homem de opinião. É um homem soberbo4 . Nunca vi senhor de engenho de tanto luxo. Nunca vi este homem, a pé, correndo os partidos. Veja você o coronel José Paulino. Não sai de cima dum cavalo. E é rico de verdade. O coronel Lula, não. Vive montado naquele cabriolé5 como um rei.
— É de gosto, mestre Zé, é de gosto. Já o velho Costa de Mata de Vara não anda a cavalo para não gastar os cascos do animal.
— Estou falando é de gente, seu Pedro. Não me venha com exemplo daquele bicho. Aquilo é um bicho. E bicho muito ordinário. Aqui me chegou ele, uma vez, para me encomendar uma sela. Era um falar que não acabava mais. Falou, falou, e no fim me ofereceu uma miséria. Eu fui logo lhe dizendo: “Capitão Costa, eu vivo disto, eu não estou em condição de dar presente a rico não.” Ah!, disse nas ventas dele.
— O coronel Lula não fica atrás, mestre Zé. Ô homem somítico6 danado.
— É de raça, seu Pedro, é de raça. Dizem que o pai dele era a mesma desgraça.
(Fogo morto, 2015.)
1 boleeiro: cocheiro.
2 goga: atitude de alguém que se manifesta com arrogância e tem alta opinião de si mesmo.
3 chaleirismo: hábito de adular para obter benefícios; bajulação.
4 soberbo: arrogante.
5 cabriolé: carruagem pequena e movida por apenas um cavalo. 6 somítico: avarento; sovina.
O romance Fogo morto articula-se em torno do tema básico do escritor José Lins do Rego: a decadência dos engenhos nordestinos. No trecho transcrito, observa-se uma referência a essa decadência na seguinte fala
Leia o trecho do romance Fogo morto, de José Lins do Rego (1901-1957), para responder à questão.
Pedro Boleeiro1 chegou na porta do mestre José Amaro com um recado do coronel Lula. Era para o mestre aparecer no engenho para conserto nos arreios do carro. O mestre ouviu o recado, deixou que o negro falasse à vontade. E depois, como não tivesse gostado, foi se abrindo com o outro.
— Todo o mundo pensa que o mestre José Amaro é criado. Sou um oficial, seu Pedro, sou um oficial que me prezo. O coronel Lula passa por aqui, me tira o chapéu como um favor, nunca parou para saber como vou passando. Tem o seu orgulho. Eu tenho o meu. Moro em terra dele, não lhe pago foro, porque aqui morou meu pai, no tempo do seu sogro. Fui menino por aqui. Para que tanto orgulho? Não custava nada chegar ele aqui e me perguntar pela saúde. Me contava o meu pai que o barão de Goiana não tinha destas bondades. Era homem de trato com os pequenos. E o barão de Goiana tinha razão para goga2 , era dono de muitos engenhos, homem de muito dinheiro na caixa. Sou pobre, seu Pedro, mas sou um homem que não me abaixo a ninguém.
— Mestre Zé, não tenho culpa de nada não, o homem mandou chamar o mestre, estou somente dando o recado.
— Eu sei, não estou dizendo nada demais. Falo, como falo com todo o mundo. Eu não posso ver é pobre com chaleirismo3 , como esse Vitorino, cabra muito do sem-vergonha, atrás dos grandes, como cachorro sem dono. O coronel Lula quer que eu vá consertar os arreios do carro dele. Pois eu vou.
— Está tudo podre, mestre Zé. Não posso fazer força que se estoura tudo. Aquilo é coisa de muitos anos.
— É que vocês não têm cuidado com as coisas dos outros. Quebram tudo.
— Não é não, mestre Zé. É que a coisa está mesmo nas últimas.
— O coronel Lula é homem de opinião. É um homem soberbo4 . Nunca vi senhor de engenho de tanto luxo. Nunca vi este homem, a pé, correndo os partidos. Veja você o coronel José Paulino. Não sai de cima dum cavalo. E é rico de verdade. O coronel Lula, não. Vive montado naquele cabriolé5 como um rei.
— É de gosto, mestre Zé, é de gosto. Já o velho Costa de Mata de Vara não anda a cavalo para não gastar os cascos do animal.
— Estou falando é de gente, seu Pedro. Não me venha com exemplo daquele bicho. Aquilo é um bicho. E bicho muito ordinário. Aqui me chegou ele, uma vez, para me encomendar uma sela. Era um falar que não acabava mais. Falou, falou, e no fim me ofereceu uma miséria. Eu fui logo lhe dizendo: “Capitão Costa, eu vivo disto, eu não estou em condição de dar presente a rico não.” Ah!, disse nas ventas dele.
— O coronel Lula não fica atrás, mestre Zé. Ô homem somítico6 danado.
— É de raça, seu Pedro, é de raça. Dizem que o pai dele era a mesma desgraça.
(Fogo morto, 2015.)
1 boleeiro: cocheiro.
2 goga: atitude de alguém que se manifesta com arrogância e tem alta opinião de si mesmo.
3 chaleirismo: hábito de adular para obter benefícios; bajulação.
4 soberbo: arrogante.
5 cabriolé: carruagem pequena e movida por apenas um cavalo. 6 somítico: avarento; sovina.
Um traço característico do personagem José Amaro bastante evidente neste trecho é
Leia o trecho do romance Fogo morto, de José Lins do Rego (1901-1957), para responder à questão.
Pedro Boleeiro1 chegou na porta do mestre José Amaro com um recado do coronel Lula. Era para o mestre aparecer no engenho para conserto nos arreios do carro. O mestre ouviu o recado, deixou que o negro falasse à vontade. E depois, como não tivesse gostado, foi se abrindo com o outro.
— Todo o mundo pensa que o mestre José Amaro é criado. Sou um oficial, seu Pedro, sou um oficial que me prezo. O coronel Lula passa por aqui, me tira o chapéu como um favor, nunca parou para saber como vou passando. Tem o seu orgulho. Eu tenho o meu. Moro em terra dele, não lhe pago foro, porque aqui morou meu pai, no tempo do seu sogro. Fui menino por aqui. Para que tanto orgulho? Não custava nada chegar ele aqui e me perguntar pela saúde. Me contava o meu pai que o barão de Goiana não tinha destas bondades. Era homem de trato com os pequenos. E o barão de Goiana tinha razão para goga2 , era dono de muitos engenhos, homem de muito dinheiro na caixa. Sou pobre, seu Pedro, mas sou um homem que não me abaixo a ninguém.
— Mestre Zé, não tenho culpa de nada não, o homem mandou chamar o mestre, estou somente dando o recado.
— Eu sei, não estou dizendo nada demais. Falo, como falo com todo o mundo. Eu não posso ver é pobre com chaleirismo3 , como esse Vitorino, cabra muito do sem-vergonha, atrás dos grandes, como cachorro sem dono. O coronel Lula quer que eu vá consertar os arreios do carro dele. Pois eu vou.
— Está tudo podre, mestre Zé. Não posso fazer força que se estoura tudo. Aquilo é coisa de muitos anos.
— É que vocês não têm cuidado com as coisas dos outros. Quebram tudo.
— Não é não, mestre Zé. É que a coisa está mesmo nas últimas.
— O coronel Lula é homem de opinião. É um homem soberbo4 . Nunca vi senhor de engenho de tanto luxo. Nunca vi este homem, a pé, correndo os partidos. Veja você o coronel José Paulino. Não sai de cima dum cavalo. E é rico de verdade. O coronel Lula, não. Vive montado naquele cabriolé5 como um rei.
— É de gosto, mestre Zé, é de gosto. Já o velho Costa de Mata de Vara não anda a cavalo para não gastar os cascos do animal.
— Estou falando é de gente, seu Pedro. Não me venha com exemplo daquele bicho. Aquilo é um bicho. E bicho muito ordinário. Aqui me chegou ele, uma vez, para me encomendar uma sela. Era um falar que não acabava mais. Falou, falou, e no fim me ofereceu uma miséria. Eu fui logo lhe dizendo: “Capitão Costa, eu vivo disto, eu não estou em condição de dar presente a rico não.” Ah!, disse nas ventas dele.
— O coronel Lula não fica atrás, mestre Zé. Ô homem somítico6 danado.
— É de raça, seu Pedro, é de raça. Dizem que o pai dele era a mesma desgraça.
(Fogo morto, 2015.)
1 boleeiro: cocheiro.
2 goga: atitude de alguém que se manifesta com arrogância e tem alta opinião de si mesmo.
3 chaleirismo: hábito de adular para obter benefícios; bajulação.
4 soberbo: arrogante.
5 cabriolé: carruagem pequena e movida por apenas um cavalo. 6 somítico: avarento; sovina.
No trecho, observam-se personagens de vários estratos sociais. Pertencem a um mesmo segmento social os personagens
Assim como a mais importante fase da literatura brasileira, em poesia, foi a romântica na segunda metade do século XIX, a mais significativa, em prosa, foi aquela inaugurada por José Américo de Almeida, em 1928, com A bagaceira. É ________ este período (década de 1930, basicamente) que corresponde ________ notável literatura regional do Nordeste brasileiro. E é ________ este período que pertence ciclo da cana-de-açúcar de José Lins do Rego, o mais importante escritor regional de nossa literatura.
(Ivan Cavalcanti Proença. “Apresentação”. In: José Lins do Rego. Menino de engenho, 2013. Adaptado.)
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas do texto.
Uma obra poética do Modernismo brasileiro que, a exemplo de Fogo morto, também explora, de forma enfática, o universo da cana-de-açúcar é a de
Leia o poema “Ela canta, pobre ceifeira”, do escritor Fernando Pessoa (1888-1935), para responder à questão.
Ela canta, pobre ceifeira1,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p’ra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ’stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
(O guardador de rebanhos e outros poemas, 1997.)
1 ceifeira: mulher que trabalha no corte de cereais.
No poema, o escritor recorre a uma construção paradoxal no seguinte verso: